sábado, 2 de agosto de 2008
Heráclito teve reunião com Abin antes da Satiagraha
Fonte: Blog do Josias
Senador conversou, reservadamente, com Paulo Lacerda
Perguntou se agentes secretos seguiam Verônica Dantas
Chefe da Agência negou algo que depois se revelaria real
Estava em curso a ação que levou grupo de DD ao xadrez
Marcello Casal/ABr
Entre os mistérios escondidos nos subterrâneos da Operação Satiagraha há uma inusitada reunião. Deu-se na segunda quinzena de maio, numa sala do Senado.
Chamado por Heráclito Fortes (DEM-PI), o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência foi à sala do senador. Tiveram uma conversa tensa.
Como que desconfiados um do outro, Heráclito e Lacerda se fizeram acompanhar de assessores. Um de cada lado.
O senador disse ao mandachuva da Abin que havia sido informado de que agentes secretos da agência estavam no encalço de uma amiga dele, no Rio.
O nome da amiga? Verônica Dantas, irmã e parceira de negócios de Daniel Dantas. Lacerda negou. E, no curso da conversa, pôs-se a maldizer Daniel Dantas.
O chefão da Abin traz o ex-banqueiro atravessado na traquéia desde maio de 2006. A ira nasceu de uma reportagem veiculada naquele mês pela revista Veja.
O texto tratava de um papelório supostamente reunido por Daniel Dantas. Continha dados, que se revelariam falsos, sobre contas bancárias de autoridades no exterior.
Entre essas autoridades estavam o presidente Lula, o então ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Paulo Lacerda, à época diretor-geral da PF.
Diante da insistência de Heráclito, Lacerda disse que verificaria se havia agentes seus no encalço da irmã de Dantas. Comprometeu-se a dar resposta.
Tratava-se de desconversa. Antes de trocar a PF pela Abin, Lacerda incumbira o delegado Protógenes Queiroz de investigar Dantas e sua gente. No curso da apuração, Protógenes pediu socorro ao ex-chefe, à revelia da atual direção da PF.
Depois de se reunir com Lacerda, Heráclito encontraria, nas imediações do plenário do Senado, um outro amigo: Guilherme Henrique Sodré.
Vem a ser um publicitário que, segundo a PF, age como lobista de Daniel Dantas. Sodré parecia inquieto com a movimentação da Abin no Rio. Heráclito tranqüilizou-o.
O senador contou que Lacerda negara o envolvimento da agência. Sodré levou o pé atrás. Disse a Heráclito que recebera informação segura, dando conta do contrário.
Atribuiu a certeza à origem do dado: vinha do ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh, que conversara com "alguém do Planalto".
A PF captou em grampo, no dia 28 de maio, um diálogo que indica quem seria o "alguém" citado por Guilherme Sodré: Gilberto Carvalho, o chefe de gabinete de Lula.
Cerca de meia hora depois do encontro de Heráclito com o publicitário vinculado a Daniel Dantas, um assessor de Paulo Lacerda telefonou para o gabinete do senador.
Quem conta é o próprio Heráclito: "Meu chefe de gabinete ouviu do chefe de gabinete dele um pedido de desculpas..."
"...O Lacerda mandou dizer que eles estavam dando uma busca lá, para prender um russo. Eu vi que era sacanagem."
Heráclito adiciona ao caso um detalhe que aproxima a encrenca ainda mais do Planalto: "O agente que a Abin tinha mobilizado é um oficial da PM de Minas..."
"...Ele estava cedido à Abin. E já havia trabalhado como segurança na campanha eleitoral do Lula." Quem disse? quis saber o repórter. "O Guilherme Sodré", respondeu o senador.
O blog perguntou também a Heráclito por que decidira chamar Lacerda ao seu gabinete. E ele: "Fui procurado por um familiar da Verônica Dantas, que é minha amiga..."
"...A família estava preocupada. Dizia que ela estava sendo seguida há três dias. Suspeitavam de seqüestro..."
"...Chamei o Lacerda porque sou presidente de uma comissão do Congresso que cuida desses assuntos de inteligência."
Refere-se à CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência). "Eu achava que o Lacerda não estava sabendo. E queria alertá-lo..."
"...Na conversa comigo, ele negava. Mas estava irritado. Ia pra cima do Daniel Dantas. Nunca vi uma raiva tão grande de uma pessoa como aquela."
Mas quem estava sendo seguido não era Humberto Braz, assessor de Daniel Dantas? Responde o senador:
"A conversa que me chegou era diferente. O Humberto Braz tinha conversado com a Verônica. Disse que deixaria os filhos na escola e ia se encontrar com ela..."
"...Eles foram pra pegar a Verônica. É a conclusão que tenho sobre esse episódio. Não sei nem quem é Humberto Braz..."
"...Quero que ele se dane. Minha preocupação era a Verônica. Sou amigo dela. As filhas dela são amigas da minha. Quem acionou foi a família."
Àquela altura, a investigação que adornaria com algemas os pulsos de Daniel Dantes e de gestores do Opportunity, entre eles Verônica, ainda não tomara o noticiário.
Mas um texto da repórter Andréa Michael, veiculado na Folha de 26 de abril, levantara a lebre. Dava conta de que Dantas tornara-se "alvo" da PF.
Trazia detalhes. Coisas assim: "Além de Dantas, os principais alvos da investigação da Polícia Federal são o sócio dele Carlos Rodemburg..."
"...Sua irmã e também parceira de negócios, Verônica Dantas, além do empresário e especulador Naji Nahas." Tudo se confirmaria, com precisão milimétrica, em 8 de julho, quando foi deflagrada a Operação Satiagraha.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário