GEOPOLÍTICA DO ATLÂNTICO SUL
Disponibilizado pelo Monitor Mercantil Digital em 07/08/2008 e
publicado no Monitor Mercantil de 08/05/2008, pág. 2 (Opinião).
EDUARDO ITALO PESCE (*) ANTÔNIO ALBERTO MARINHO NIGRO (**).
A abertura dos canais de Suez (1869) e do Panamá (1914) concentrou a
intensidade do fluxo estratégico do comércio marítimo no Atlântico
Norte e Mediterrâneo. Enquanto isso, o Atlântico Sul permaneceu ao
longo de Século XX como "o mais pacífico dos oceanos", apesar da
campanha submarina do Eixo na II Guerra Mundial.
O avanço tecnológico e a alta dos preços do petróleo justificam a
viabilidade econômica da exploração e da produção de óleo e gás de
reservas situadas em áreas até há pouco tempo impensáveis, como as do
pré-sal. A constatação dessas reservas, nas bacias sedimentares da
vertente ocidental do Atlântico Sul, poderá contribuir para a
independência dos Estados Unidos em relação ao petróleo do Oriente
Médio.
Nesta hipótese, a China e a Índia passariam a ser os compradores
dominantes daquela região, e a presença naval norte-americana, no
Golfo Pérsico e em suas proximidades, seria menos exigente. Como
corolário, o foco do interesse da Marinha dos EUA se deslocaria para o
Atlântico Sul. Isso justificaria a reativação (prevista para o final
de setembro) da IV Esquadra da Marinha dos EUA, subordinada ao Comando
Sul das Forças Armadas daquele país.
Tudo não passa de hipóteses, mas a reativação da IV Esquadra, assim
como a criação (ocorrida em 2007) de mais um comando combinado
norte-americano, o Comando África, constitui fato relevante, cujos
desdobramentos futuros são dignos de ser examinados em apreciações
estratégicas.
A IV Esquadra incluirá navios-aeródromo, de assalto anfíbio e de
escolta, assim como submarinos de ataque com propulsão nuclear.
Contará ainda com as instalações de apoio existentes na base aérea da
Ilha de Ascensão, que foram tão úteis aos britânicos na Guerra das
Malvinas (Falklands). O Teatro de Operações (TO) natural da IV
Esquadra é o Atlântico Sul.
Parece estar próximo do fim o período em que permanecemos longe dos
conflitos globais. Durante o Século XX, por três vezes fomos apanhados
despreparados: em ambas as Guerras Mundiais e ao internalizarmos (por
meio de táticas de guerrilha) a "Guerra Fria". A coexistência de
riqueza com ausência de poder desperta cobiça e conflitos. A sociedade
brasileira parece já ter acordado para a Amazônia. É oportuno incluir
na vigília o mar.
* * * * *
(*) Especialista em Relações Internacionais e professor no Centro de
Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CEPUERJ).
(**) Contra-almirante reformado.
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