quinta-feira, 10 de julho de 2008

Carta aberta ao tenente Vinícius Ghidetti

Carta aberta ao tenente Vinícius Ghidetti
"O Globo", Sessão de Carta aos Leitores

Ten. Vinícius,

Vendo seu choro durante seu depoimento na Justiça, confesso que me comovi por três motivos:
- Primeiro, porque nunca tinha visto um jovem, ostentando a farda do glorioso Exército Brasileiro, chorar em público, arrependido de grave erro cometido no auge da ingenuidade e insensatez dos seus vinte e poucos anos. Pelo contrário, só tenho visto o deboche e a frieza dos verdadeiros bandidos, certos da impunidade.

Para os que querem sua cabeça, a qualquer custo, isso não importa e muito menos ainda as circunstâncias do fato trágico, mas apenas as conseqüências que certamente irão arruinar sua carreira.

- Segundo, porque mais uma vez mostra como nosso país é desigual e injusto. Talvez, se você fosse filho de alguma promotora pública, estaria prestando esse depoimento à noite, em sigilo, sem necessidade da vergonha e do ultraje público. Mas, para seu azar, além de provavelmente ter uma origem humilde, você representa o Exército Brasileiro que, para muitos, ainda está engasgado por uma ideologia rancorosa.

- Terceiro, porque os maiores culpados pela situação criada nunca pagarão pelo erro. Nem aqueles que lhe colocaram numa missão sem o preparo adequado, nem os que utilizaram o poder público para fins eleitoreiros e, principalmente, nem os assassinos de fato que continuarão a desfilar e amedrontar com seu armamento, agora com mais liberdade.

Pena que seus superiores, dos mais próximos até o presidente da república, não tenham tido a honestidade do seu choro e, muito menos, a coragem de assumir sua parcela de culpa, abandonando-o sozinho nessa guerra.

Apenas a você não será concedido o direito de dizer: Mas eu não sabia que ia dar nisso...

Luiz Felipe Novis

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