Bondade mesquinha
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 19 de outubro de 2009
Nosso presidente, que jamais derramou uma lágrima pelos 40 mil brasileiros assassinados anualmente e muito menos fez algo para protegê-los, derreteu-se em prantos ante a escolha do Rio para sede dos próximos Jogos Olímpicos.
Não é a primeira vez que ele dá mostras de sua notável capacidade lacrimejante. Ele chorou duplamente ao ser eleito e ao ser empossado, chorou vezes inumeráveis ao anunciar do alto dos palanques seus planos de governo, chorou no enterro do deputado petista Carlos Wilson, no das vítimas da chuva em Sta. Catarina e no dos mortos do acidente em Alcântara, chorou ao inaugurar o projeto "Luz Para Todos", chorou ao enaltecer seus próprios feitos num encontro de estudantes em São Paulo, chorou no Senegal dizendo que era de arrependimento pela escravatura, chorou ao prometer acabar com o desemprego em 2003 e depois novamente em 2006 (os desempregados continuam chorando até agora), e chorou quando o deputado Roberto Jefferson lhe falou do Mensalão: soluçou tão convulsivamente que ficou até parecendo que era o último a saber do imbroglio. São apenas amostras colhidas a esmo.
Digitando "Lula chora" no Google obtive 29.600 respostas, e ante a mera perspectiva de examiná-las uma a uma quem sente ganas de chorar sou eu.
Diante dessa torrente de lágrimas, seria injusto negar que o sr. presidente tenha bons sentimentos. Que os tem, tem. O problema é que são morbidamente seletivos: para seus companheiros de militância, para os grupos sociais onde espera recrutar eleitores, e sobretudo para si próprio, coitadinho, é uma comoção arrebatadora, um enternecimento irresistível, um transbordamento de compaixão sem fim.
Para os demais, tudo o que ele tem a oferecer é aquela forma requintada de crueldade passiva que se chama a indiferença.
Incluem-se nessa categoria os 40 mil acima mencionados, as crianças brasileiras envenenadas pelas drogas das Farc, os malditos 17 mil reacionários fuzilados por seu amigo Fidel Castro e sobretudo as vítimas do terrorismo nacional, cujas famílias vivem no mais abjeto esquecimento enquanto os assassinos de seus pais e avós se empanturram de verbas federais, seja na condição de "indenizados", seja na de ministros, senadores, deputados, chefes de gabinete etc. etc. etc.
Longe de mim a suspeita de que as lágrimas de S. Excia. sejam fingidas. É justamente a espontaneidade delas que mostra o quanto os bons instintos presidenciais são seletivos, daquela seletividade natural e até inconsciente que revela, num instante, uma personalidade, a forma inteira de uma alma e de uma consciência. Se essa seletividade privilegia, enfatiza e enaltece com naturalidade espantosa os interesses político-publicitários do sr. presidente e ao mesmo tempo o torna cego e insensível para tudo o mais, não é porque haja nela alguma premeditação astuta, mas, bem ao contrário, é porque, simplesmente, ele é assim.
Sua consciência moral, em suma, é deformada pelo longo hábito, meio partidário, meio mafioso, da separação estanque entre os "amigos" e os "outros", entre "gente nossa" e "aquela gente". Se seus acessos de bondade vêm a ser sempre politicamente oportunos, não é porque ele os planeje, mas porque, no fundo da sua alma, ele não consegue conceber o bem senão sob a forma estreita e específica de uma estratégia partidária, sendo perfeitamente indiferente a tudo o que fique fora ou acima dela.
Especialmente acima. A prova mais patente da sua insensibilidade a quaisquer valores que transcendam a luta partidária veio logo após sua audiência com o Papa -- momento culminante na vida de todo fiel católico --, quando, tendo comungado sem confessar, redobrou a blasfêmia ao fazer chacota do ocorrido, dizendo que assim procedera por ser alma sem pecados. Para esse homem, até mesmo a religião que diz professar ardentemente não tem nenhum significado em si mesma, o Deus que ele diz adorar não tem nenhuma autoridade moral para julgá-lo, devendo antes amoldar-se com humildade à condição de personagem de piada instrumental ad majorem Lulis gloriam. Que depois, na África, ele exiba arrependimento por uma escravatura que jamais praticou, e faça acompanhar suas lágrimas da conveniente citação papal, eis aí a prova de que, na escala da sua consciência, sua alma cristã tem mais satisfações a prestar ante o auditório imediato do que ante o Juízo Final.
Subjugando ao oportunismo partidário mesmo aquilo que há de mais alto e venerável, suas efusões de bondade não são senão expressões visíveis de uma mesquinharia profunda, de uma pequenez de alma que, para dizer o mínimo, não é um bom exemplo para se dar às crianças.
Desprovido, ao menos aparentemente, da truculência natural de um Fidel Castro ou de um Pol-Pot, bem como da fanfarronice histriônica de um Hugo Chávez, esse homem traz no coração, como eles, aquela típica mistura de insensibilidade moral e sentimentalismo kitsch que caracteriza os sociopatas.
Sua indiferença ao sofrimento real dos estranhos ao seu círculo de interesses contrasta de tal modo com suas tiradas de autopiedade obscena e com seu emocionalismo à flor da pele nas ocasiões politicamente convenientes, que não vejo como escapar à conclusão de que S. Excia. é uma alma deformada, cuja feiúra, exibida com ingênuo despudor a cada novo pronunciamento seu, condensa simbolicamente a miséria geral da época.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
SERRA NOMEIA ASSALTANTE PARA CASA CIVIL DE SP
Tem base na realidade política deste País e na falta de qualidade de nossos políticos.
Vcs sabem, por exemplo, quem é Aloysio Nunes Ferreira Filho, "talvez o único homem que conta com a confiança irrestrita de José Serra"... Ilustre membro da esquerdalha, homem de FHC, de quem foi Ministro da Justiça. Assaltante e guerrilheiro da ALN. Ver link:
http://cloacanews.blogspot.com/2009/04/serra-nomeia-assaltante-para-casa-civil.html
Só falta imaginar, como "ameaça" o Nivaldo, que vamos sentir saudade do lullarápio...
Vcs sabem, por exemplo, quem é Aloysio Nunes Ferreira Filho, "talvez o único homem que conta com a confiança irrestrita de José Serra"... Ilustre membro da esquerdalha, homem de FHC, de quem foi Ministro da Justiça. Assaltante e guerrilheiro da ALN. Ver link:
http://cloacanews.blogspot.com/2009/04/serra-nomeia-assaltante-para-casa-civil.html
Só falta imaginar, como "ameaça" o Nivaldo, que vamos sentir saudade do lullarápio...
Até onde Lula acertou?
Até onde Lula acertou
Editorial ESTADO DE SÃO PAULO - O8 Nov 09
O Brasil está em alta no mercado internacional e seu prestígio cresceu durante a crise. O País tem hoje mais dólares do que há um ano: no meio da turbulência, tornou-se um porto seguro para o capital estrangeiro, tanto especulativo quanto de longo prazo. Empresários dispostos a apostar na economia brasileira anunciaram planos multibilionários, num seminário promovido em Londres, nessa semana, pelos jornais Financial Times e Valor. A figura central da festa foi, naturalmente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aplaudido pelo desempenho econômico do Brasil e por sua diplomacia, apontada por analistas europeus como fator de estabilidade na América Latina.
O prestígio da economia brasileira já estava em crescimento antes da crise. Em 2008, duas das mais importantes agências de classificação de risco elevaram o País ao grau de investimento. O desempenho do Brasil durante a turbulência internacional confirmou os méritos apontados por aquelas agências.
O País não escapou da recessão, mas conseguiu atravessá-la sem crise nas contas externas, sem desordem nos preços internos e sem estragos importantes nas contas fiscais. Em vez disso, houve folga suficiente para corte de impostos e para um considerável afrouxamento da política monetária.
O Brasil não se destacou pelo crescimento acelerado, como alguns países da Ásia, mas por sua resistência aos impactos da crise global. Na China, a contração do mercado internacional provocou uma quebradeira de indústrias. O governo, para impedir uma redução desastrosa do crescimento econômico, inundou o mercado de dinheiro e criou pressões inflacionárias. Agora precisará neutralizar os efeitos indesejáveis dessas medidas.
No Brasil, a travessia sem grandes dramas foi permitida pela combinação de dois fatores: fundamentos bastante razoáveis e um mercado interno dinâmico, reforçado pela inclusão recente de alguns milhões de famílias. Em Londres, o presidente Lula e os ministros de sua comitiva realçaram esses fatores, destacando especialmente o segundo.
Não há como negar a importância da ampliação do mercado de consumo, tanto por seu significado social quanto por suas consequências econômicas. Mas essa ampliação não teria ocorrido sem o controle da inflação, sem uma relativa estabilidade fiscal e sem o mínimo de segurança indispensável às decisões de investimento dos empresários.
Em relação a esses pontos, o grande mérito do presidente Lula foi haver mantido, por vários anos, as linhas de política econômica inauguradas nos anos 90 e aperfeiçoadas até a aprovação, em 2000, da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Essas linhas incluem o regime de metas de inflação, o câmbio flutuante e a geração de um superávit primário suficiente para a redução proporcional do peso da dívida pública. O mérito do presidente consistiu, em grande parte, em resistir às pressões de seus companheiros e também de setores do empresariado para adotar políticas mais próximas daquelas defendidas, tradicionalmente, pelo PT: intervenção nos preços, tolerância à inflação, protecionismo e irresponsabilidade fiscal. A transferência de renda teria sido muito menos eficiente se essas pressões tivessem mudado a política e desencadeado nova corrida entre os preços e a renda familiar.
Os estrangeiros, de modo geral, ignoram esse aspecto da história recente da economia brasileira. De certa forma, subestimam o esforço do presidente Lula para manter certa prudência na política econômica. Ele não fez, no entanto, mais que isso. Em seus dois mandatos, a pauta de reformas foi abandonada e a modernização institucional do País foi interrompida.
Mas também os padrões mínimos de prudência estão sendo abandonados. Um dos pilares da estabilidade, a política fiscal, está sendo rapidamente erodido pelo crescente gasto de custeio, especialmente com o inchaço da folha de pessoal. A sujeição da economia a objetivos eleitorais é cada vez mais clara e a disposição de baixar a meta fiscal confirma essa tendência. O presidente Lula provavelmente não estará no Palácio do Planalto quando surgirem as piores consequências dessa orientação. Seu sucessor encontrará um péssimo quadro orçamentário e terá um enorme trabalho para combater os efeitos da irresponsabilidade de hoje. Se fracassar, carregará o estigma de haver liquidado uma notável história de sucesso.
Editorial ESTADO DE SÃO PAULO - O8 Nov 09
O Brasil está em alta no mercado internacional e seu prestígio cresceu durante a crise. O País tem hoje mais dólares do que há um ano: no meio da turbulência, tornou-se um porto seguro para o capital estrangeiro, tanto especulativo quanto de longo prazo. Empresários dispostos a apostar na economia brasileira anunciaram planos multibilionários, num seminário promovido em Londres, nessa semana, pelos jornais Financial Times e Valor. A figura central da festa foi, naturalmente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aplaudido pelo desempenho econômico do Brasil e por sua diplomacia, apontada por analistas europeus como fator de estabilidade na América Latina.
O prestígio da economia brasileira já estava em crescimento antes da crise. Em 2008, duas das mais importantes agências de classificação de risco elevaram o País ao grau de investimento. O desempenho do Brasil durante a turbulência internacional confirmou os méritos apontados por aquelas agências.
O País não escapou da recessão, mas conseguiu atravessá-la sem crise nas contas externas, sem desordem nos preços internos e sem estragos importantes nas contas fiscais. Em vez disso, houve folga suficiente para corte de impostos e para um considerável afrouxamento da política monetária.
O Brasil não se destacou pelo crescimento acelerado, como alguns países da Ásia, mas por sua resistência aos impactos da crise global. Na China, a contração do mercado internacional provocou uma quebradeira de indústrias. O governo, para impedir uma redução desastrosa do crescimento econômico, inundou o mercado de dinheiro e criou pressões inflacionárias. Agora precisará neutralizar os efeitos indesejáveis dessas medidas.
No Brasil, a travessia sem grandes dramas foi permitida pela combinação de dois fatores: fundamentos bastante razoáveis e um mercado interno dinâmico, reforçado pela inclusão recente de alguns milhões de famílias. Em Londres, o presidente Lula e os ministros de sua comitiva realçaram esses fatores, destacando especialmente o segundo.
Não há como negar a importância da ampliação do mercado de consumo, tanto por seu significado social quanto por suas consequências econômicas. Mas essa ampliação não teria ocorrido sem o controle da inflação, sem uma relativa estabilidade fiscal e sem o mínimo de segurança indispensável às decisões de investimento dos empresários.
Em relação a esses pontos, o grande mérito do presidente Lula foi haver mantido, por vários anos, as linhas de política econômica inauguradas nos anos 90 e aperfeiçoadas até a aprovação, em 2000, da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Essas linhas incluem o regime de metas de inflação, o câmbio flutuante e a geração de um superávit primário suficiente para a redução proporcional do peso da dívida pública. O mérito do presidente consistiu, em grande parte, em resistir às pressões de seus companheiros e também de setores do empresariado para adotar políticas mais próximas daquelas defendidas, tradicionalmente, pelo PT: intervenção nos preços, tolerância à inflação, protecionismo e irresponsabilidade fiscal. A transferência de renda teria sido muito menos eficiente se essas pressões tivessem mudado a política e desencadeado nova corrida entre os preços e a renda familiar.
Os estrangeiros, de modo geral, ignoram esse aspecto da história recente da economia brasileira. De certa forma, subestimam o esforço do presidente Lula para manter certa prudência na política econômica. Ele não fez, no entanto, mais que isso. Em seus dois mandatos, a pauta de reformas foi abandonada e a modernização institucional do País foi interrompida.
Mas também os padrões mínimos de prudência estão sendo abandonados. Um dos pilares da estabilidade, a política fiscal, está sendo rapidamente erodido pelo crescente gasto de custeio, especialmente com o inchaço da folha de pessoal. A sujeição da economia a objetivos eleitorais é cada vez mais clara e a disposição de baixar a meta fiscal confirma essa tendência. O presidente Lula provavelmente não estará no Palácio do Planalto quando surgirem as piores consequências dessa orientação. Seu sucessor encontrará um péssimo quadro orçamentário e terá um enorme trabalho para combater os efeitos da irresponsabilidade de hoje. Se fracassar, carregará o estigma de haver liquidado uma notável história de sucesso.
Estado autoritário
Estado autoritário
Merval Pereira:
O Globo
À medida que fica clara a estratégia lulista de tentar transformar a sucessão presidencial em uma pelada de futebol “nós contra eles”, com o papel do Estado como grande divisor de águas das políticas econômicas de seu governo e as dos tucanos na era FH, também se torna evidente que o governo Lula vem acelerando sua transformação, neste segundo mandato, na direção de um Estado populista e patrimonialista, dependente cada vez mais da vontade do líder carismático, que não aceita os limites da lei, muito menos as críticas.
Ao mesmo tempo em que aprofunda suas críticas aos órgãos fiscalizadores do Estado, como o Ibama ou o Tribunal de Contas da União (TCU), tentando constrangêlos, o presidente Lula insiste na tentativa de criticar e desmoralizar os veículos da grande imprensa, no pressuposto de que, com sua imensa popularidade, pode controlar a opinião pública.
Quando diz que o papel da imprensa não é o de fiscalizar nem de denunciar desvios, mas apenas o de informar, e que os órgãos fiscalizadores estão atravancando o progresso do país, o presidente Lula está revelando sua veia autoritária, e a maneira muito pessoal como quer dirigir o país, como dirigia o sindicato, como uma coisa sua, que pode ser repartida entre os amigos.
Muito a propósito, na contramão do que pretende o governo brasileiro, no Senado dos Estados Unidos o senador democrata da Pensilvânia Arlen Specter fez um discurso, recentemente, em defesa de um projeto que dá mais proteção aos jornalistas, em que afirmou: “Nós ainda recebemos a maior parte das informações de jornalistas investigativos. Se não se protegerem as fontes, haverá muita corrupção, malfeitorias que não serão detectadas e ficarão impunes”.
Na montagem de sua estratégia eleitoral, para enfrentar a disputa na base do “pão, pão, queijo, queijo”, o problema é saber qual é o time do presidente.
Enquanto tenta montar, à base da fisiologia mais desbragada, uma vasta coligação partidária com o único objetivo de ter o maior tempo de propaganda televisiva possível, o presidente Lula está caminhando cada vez mais para a esquerda autoritária.
Como pode resistir uma aliança política que abriga partidos de direita e de centro no apoio a Dilma Rousseff, e obter os votos desse eleitorado, se o próprio Lula faz questão de se comparar a Hugo Chávez? Como explicar a inclusão, entre os coordenadores da campanha oficial, do assessor especial Marco Aurélio Garcia, tão claramente identificado com a esquerda latinoamericana? O que têm a ver com essa tendência partidos como o PP, PTB, PRB e congêneres? Que governo vai sair dessa misturada? Qual será a candidata oficial, a ex-guerrilheira ou a gerente das grandes obras do nacionaldesenvolvimentismo? As críticas à visão patrimonialista exacerbada neste segundo governo Lula não ficam restritas apenas ao artigo de Fernando Henrique Cardoso, que chamou a atenção para a maneira caudilhesca com que Lula vem governando, ou à do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores, que, em recente entrevista ao jornal “Valor Econômico”, denunciou o “patrimonialismo” do governo Lula, o Estado servindo a interesses partidários, privados e sindicais.
Também o sociólogo Luiz Werneck Vianna, professor do Iuperj, em recente artigo para o site Gramsci e o Brasil, analisa a transformação do governo Lula neste segundo mandato, quando “a crise, que denunciou a incapacidade do mercado de se autorregular, ao trazer de volta o tema do Estado e do seu papel como agência organizadora da economia, atualizou, imprevistamente, o repertório da tradição republicana brasileira”.
Werneck Vianna identifica outros períodos em que essa mesma vertente atuou na condução do desenvolvimento econômico brasileiro: na Era Vargas, nos anos JK e no período militar: “(...) a ênfase que passa a ser concedida à questão nacional, com os patéticos postulados de grandeza nacional que já se fazem ouvir; com o desenvolvimentismo, quando políticas estratégicas são conduzidas pelo Estado sem anuência explícita da sociedade civil e suas instâncias de deliberação”.
O sociólogo ressalta que a mobilização de tal tipo de política “tem ignorado a crítica que lhe foi feita pelos movimentos democráticos e populares, no curso de suas lutas contra o regime autoritário, consagrada institucionalmente na Carta de 1988, que, ao preservar a instância do público como dimensão estratégica, submeteu-a ao controle democrático da sociedade”.
Werneck Vianna recorda que “a esquerda que se encontra na chefia do governo” está se apropriando de uma política que foi alvo de suas principais críticas, que identificavam o nacional desenvolvimentismo com “uma típica floração autoritária da ordem patrimonial brasileira”.
Ele ressalta que, “mais que mudanças tópicas ou de ênfase, é toda uma forma de Estado que ressurge, em particular no novo papel concedido às corporações e à representação funcional”.
Na análise de Werneck Vianna, “a política é capturada pelo Estado; de outra parte, o presidencialismo de coalizão em vigência converte os partidos políticos em partidos de Estado e sem representação significativa na sociedade civil (...), levando a uma revalorização acrítica do Estado Novo e até mesmo de governos do regime militar”.
Não é um bom presságio para a democracia brasileira “a sociedade, em sua diversidade, se deixar subsumir ao Estado, conferindo à liderança de um chefe de governo carismático a tarefa de cimentar a unidade dos seus contrários”.
Como também é “falso e anacrônico”, afirma Werneck Vianna, “conceber a próxima sucessão eleitoral como a reedição dos embates entre a UDN e o PTB. Estado forte, sim, mas sob controle da sociedade, e não sobreposto assimetricamente a ela”.
Merval Pereira:
O Globo
À medida que fica clara a estratégia lulista de tentar transformar a sucessão presidencial em uma pelada de futebol “nós contra eles”, com o papel do Estado como grande divisor de águas das políticas econômicas de seu governo e as dos tucanos na era FH, também se torna evidente que o governo Lula vem acelerando sua transformação, neste segundo mandato, na direção de um Estado populista e patrimonialista, dependente cada vez mais da vontade do líder carismático, que não aceita os limites da lei, muito menos as críticas.
Ao mesmo tempo em que aprofunda suas críticas aos órgãos fiscalizadores do Estado, como o Ibama ou o Tribunal de Contas da União (TCU), tentando constrangêlos, o presidente Lula insiste na tentativa de criticar e desmoralizar os veículos da grande imprensa, no pressuposto de que, com sua imensa popularidade, pode controlar a opinião pública.
Quando diz que o papel da imprensa não é o de fiscalizar nem de denunciar desvios, mas apenas o de informar, e que os órgãos fiscalizadores estão atravancando o progresso do país, o presidente Lula está revelando sua veia autoritária, e a maneira muito pessoal como quer dirigir o país, como dirigia o sindicato, como uma coisa sua, que pode ser repartida entre os amigos.
Muito a propósito, na contramão do que pretende o governo brasileiro, no Senado dos Estados Unidos o senador democrata da Pensilvânia Arlen Specter fez um discurso, recentemente, em defesa de um projeto que dá mais proteção aos jornalistas, em que afirmou: “Nós ainda recebemos a maior parte das informações de jornalistas investigativos. Se não se protegerem as fontes, haverá muita corrupção, malfeitorias que não serão detectadas e ficarão impunes”.
Na montagem de sua estratégia eleitoral, para enfrentar a disputa na base do “pão, pão, queijo, queijo”, o problema é saber qual é o time do presidente.
Enquanto tenta montar, à base da fisiologia mais desbragada, uma vasta coligação partidária com o único objetivo de ter o maior tempo de propaganda televisiva possível, o presidente Lula está caminhando cada vez mais para a esquerda autoritária.
Como pode resistir uma aliança política que abriga partidos de direita e de centro no apoio a Dilma Rousseff, e obter os votos desse eleitorado, se o próprio Lula faz questão de se comparar a Hugo Chávez? Como explicar a inclusão, entre os coordenadores da campanha oficial, do assessor especial Marco Aurélio Garcia, tão claramente identificado com a esquerda latinoamericana? O que têm a ver com essa tendência partidos como o PP, PTB, PRB e congêneres? Que governo vai sair dessa misturada? Qual será a candidata oficial, a ex-guerrilheira ou a gerente das grandes obras do nacionaldesenvolvimentismo? As críticas à visão patrimonialista exacerbada neste segundo governo Lula não ficam restritas apenas ao artigo de Fernando Henrique Cardoso, que chamou a atenção para a maneira caudilhesca com que Lula vem governando, ou à do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores, que, em recente entrevista ao jornal “Valor Econômico”, denunciou o “patrimonialismo” do governo Lula, o Estado servindo a interesses partidários, privados e sindicais.
Também o sociólogo Luiz Werneck Vianna, professor do Iuperj, em recente artigo para o site Gramsci e o Brasil, analisa a transformação do governo Lula neste segundo mandato, quando “a crise, que denunciou a incapacidade do mercado de se autorregular, ao trazer de volta o tema do Estado e do seu papel como agência organizadora da economia, atualizou, imprevistamente, o repertório da tradição republicana brasileira”.
Werneck Vianna identifica outros períodos em que essa mesma vertente atuou na condução do desenvolvimento econômico brasileiro: na Era Vargas, nos anos JK e no período militar: “(...) a ênfase que passa a ser concedida à questão nacional, com os patéticos postulados de grandeza nacional que já se fazem ouvir; com o desenvolvimentismo, quando políticas estratégicas são conduzidas pelo Estado sem anuência explícita da sociedade civil e suas instâncias de deliberação”.
O sociólogo ressalta que a mobilização de tal tipo de política “tem ignorado a crítica que lhe foi feita pelos movimentos democráticos e populares, no curso de suas lutas contra o regime autoritário, consagrada institucionalmente na Carta de 1988, que, ao preservar a instância do público como dimensão estratégica, submeteu-a ao controle democrático da sociedade”.
Werneck Vianna recorda que “a esquerda que se encontra na chefia do governo” está se apropriando de uma política que foi alvo de suas principais críticas, que identificavam o nacional desenvolvimentismo com “uma típica floração autoritária da ordem patrimonial brasileira”.
Ele ressalta que, “mais que mudanças tópicas ou de ênfase, é toda uma forma de Estado que ressurge, em particular no novo papel concedido às corporações e à representação funcional”.
Na análise de Werneck Vianna, “a política é capturada pelo Estado; de outra parte, o presidencialismo de coalizão em vigência converte os partidos políticos em partidos de Estado e sem representação significativa na sociedade civil (...), levando a uma revalorização acrítica do Estado Novo e até mesmo de governos do regime militar”.
Não é um bom presságio para a democracia brasileira “a sociedade, em sua diversidade, se deixar subsumir ao Estado, conferindo à liderança de um chefe de governo carismático a tarefa de cimentar a unidade dos seus contrários”.
Como também é “falso e anacrônico”, afirma Werneck Vianna, “conceber a próxima sucessão eleitoral como a reedição dos embates entre a UDN e o PTB. Estado forte, sim, mas sob controle da sociedade, e não sobreposto assimetricamente a ela”.
O "autoritarismo popular" de Lula
O "autoritarismo popular" de Lula
Editorial de O Estado de S. Paulo, em 04/11/2009
O venezuelano Hugo Chávez é um tipo rudimentar. O brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva não é.
Chávez, que impôs ao seu país a reeleição ilimitada, diz não entender por que um presidente "que governa bem e tem 80% de aprovação" não pode disputar um terceiro mandato consecutivo, como se as regras da ordem democrática devessem variar conforme o desempenho dos governantes e os seus índices de popularidade. Lula, que, em parte por convicção, em parte por um cálculo do custo-benefício da aventura reeleitoral, recusou a possibilidade, acredita que pode chegar aonde quer por outros meios, mais sofisticados do que é capaz de conceber a mentalidade tosca do coronel de Caracas. Trata-se da criação de um novo e presumivelmente duradouro bloco de controle da máquina estatal, da manipulação desabrida de um sistema político desvitalizado e da exploração incessante do culto à personalidade do líder, para que a adulação da massa legitime os seus desmandos e intimide a oposição.
É a construção do que o ex-presidente Fernando Henrique denomina "autoritarismo popular" - um acúmulo de transgressões e desvios que "vai minando o espírito da democracia constitucional", como adverte no artigo Para onde vamos?, publicado domingo neste jornal. Esse processo de erosão das instituições e procedimentos é tão mais temível quanto menos ostensivo e menos expresso em atos de violência política crassa, à maneira do que Chávez faz na Venezuela para quebrar a espinha da democracia no seu país. A lógica dos objetivos não difere - "a do poder sem limites", aponta Fernando Henrique -, mas o método, no Brasil do lulismo, é insidioso. Por isso mesmo, "pode levar o País, devagarzinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade que pouco têm que ver com nossos ideais democráticos".
No interior do governo, Lula aninha uma burocracia sindical que se apropria sistematicamente do mando dos gigantescos fundos de pensão das estatais, os quais, por sua vez, têm assento nos conselhos das mais poderosas empresas brasileiras. Forma-se assim uma intrincada trama de interesses que se respaldam reciprocamente, não raro em parceria com empresários que conhecem o caminho das pedras - "nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas", diz Fernando Henrique -, fundindo-se "nos altos-fornos do Tesouro". Isso dá ao presidente um poder formidável sobre o Estado nacional que extrapola de longe as suas atribuições constitucionais. É uma espécie de volta, em trajes civis, ao regime dos generais. No trato com o Congresso, Lula faz os pactos que lhe convierem com tantos Judas quantos estiverem dispostos a servi-lo para se servirem dos despojos da administração federal, enquanto a oposição balbucia objeções que dão a medida de sua irrelevância.
"Parece mais confortável", acusa o ex-presidente, "fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes." Mais confortável porque mais seguro. São raros os políticos oposicionistas que não se deixam acoelhar pelas pesquisas de opinião que mantêm Lula nas nuvens e que o aparato de comunicação do Planalto, sob a sua batuta, não cessa de exacerbar - daí a pertinência do termo "culto à personalidade". Desde a derrota de 2006, o PSDB de Fernando Henrique praticamente desistiu de expor as responsabilidades pessoais do adversário vitorioso pela autocracia em marcha no País. Os pré-candidatos tucanos José Serra e Aécio Neves, por exemplo, medem as palavras quando falam de Lula, decerto receando que ele possa fazê-las se voltarem contra eles mesmos junto ao eleitorado que o venera. Mesmo na condenação à campanha antecipada da ministra Dilma Rousseff, a oposição parece comportar-se como se estivesse "cumprindo tabela".
Lula não precisa tomar emprestada a borduna de Hugo Chávez para ditar os modos e os caminhos da evolução da política nacional. "Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados", descreve Fernando Henrique, "eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições."
Editorial de O Estado de S. Paulo, em 04/11/2009
O venezuelano Hugo Chávez é um tipo rudimentar. O brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva não é.
Chávez, que impôs ao seu país a reeleição ilimitada, diz não entender por que um presidente "que governa bem e tem 80% de aprovação" não pode disputar um terceiro mandato consecutivo, como se as regras da ordem democrática devessem variar conforme o desempenho dos governantes e os seus índices de popularidade. Lula, que, em parte por convicção, em parte por um cálculo do custo-benefício da aventura reeleitoral, recusou a possibilidade, acredita que pode chegar aonde quer por outros meios, mais sofisticados do que é capaz de conceber a mentalidade tosca do coronel de Caracas. Trata-se da criação de um novo e presumivelmente duradouro bloco de controle da máquina estatal, da manipulação desabrida de um sistema político desvitalizado e da exploração incessante do culto à personalidade do líder, para que a adulação da massa legitime os seus desmandos e intimide a oposição.
É a construção do que o ex-presidente Fernando Henrique denomina "autoritarismo popular" - um acúmulo de transgressões e desvios que "vai minando o espírito da democracia constitucional", como adverte no artigo Para onde vamos?, publicado domingo neste jornal. Esse processo de erosão das instituições e procedimentos é tão mais temível quanto menos ostensivo e menos expresso em atos de violência política crassa, à maneira do que Chávez faz na Venezuela para quebrar a espinha da democracia no seu país. A lógica dos objetivos não difere - "a do poder sem limites", aponta Fernando Henrique -, mas o método, no Brasil do lulismo, é insidioso. Por isso mesmo, "pode levar o País, devagarzinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade que pouco têm que ver com nossos ideais democráticos".
No interior do governo, Lula aninha uma burocracia sindical que se apropria sistematicamente do mando dos gigantescos fundos de pensão das estatais, os quais, por sua vez, têm assento nos conselhos das mais poderosas empresas brasileiras. Forma-se assim uma intrincada trama de interesses que se respaldam reciprocamente, não raro em parceria com empresários que conhecem o caminho das pedras - "nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas", diz Fernando Henrique -, fundindo-se "nos altos-fornos do Tesouro". Isso dá ao presidente um poder formidável sobre o Estado nacional que extrapola de longe as suas atribuições constitucionais. É uma espécie de volta, em trajes civis, ao regime dos generais. No trato com o Congresso, Lula faz os pactos que lhe convierem com tantos Judas quantos estiverem dispostos a servi-lo para se servirem dos despojos da administração federal, enquanto a oposição balbucia objeções que dão a medida de sua irrelevância.
"Parece mais confortável", acusa o ex-presidente, "fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes." Mais confortável porque mais seguro. São raros os políticos oposicionistas que não se deixam acoelhar pelas pesquisas de opinião que mantêm Lula nas nuvens e que o aparato de comunicação do Planalto, sob a sua batuta, não cessa de exacerbar - daí a pertinência do termo "culto à personalidade". Desde a derrota de 2006, o PSDB de Fernando Henrique praticamente desistiu de expor as responsabilidades pessoais do adversário vitorioso pela autocracia em marcha no País. Os pré-candidatos tucanos José Serra e Aécio Neves, por exemplo, medem as palavras quando falam de Lula, decerto receando que ele possa fazê-las se voltarem contra eles mesmos junto ao eleitorado que o venera. Mesmo na condenação à campanha antecipada da ministra Dilma Rousseff, a oposição parece comportar-se como se estivesse "cumprindo tabela".
Lula não precisa tomar emprestada a borduna de Hugo Chávez para ditar os modos e os caminhos da evolução da política nacional. "Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados", descreve Fernando Henrique, "eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições."
Em feitio de autocrítica
Em feitio de autocrítica
Dora Kramer,
Em O Estado de S. Paulo
Em análise precisa sobre a guinada personalista que o presidente Luiz Inácio da Silva imprimiu à democracia brasileira nos seus dois mandatos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu as pistas dos caminhos que levam o País aos poucos a abrir mão dos valores institucionais para adotar como referência única a popularidade de um líder político voraz no exercício do poder.
"Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições", escreve o ex-presidente em seu artigo de domingo no Estado.
Palavras de um opositor político? Sim, mas nem por isso devem ser atribuídas ao mero ofício da luta política e, por isso, relegadas ao campo do bate-boca entre adversários.
Nestes últimos sete anos nos desacostumamos da prática, mas é na oposição que se produz o contraditório, ponto de partida para a discussão do estabelecido.
A questão central é a qualidade do debate proposto: se fruto de esperneio à deriva, desconsidera-se; se produto de argumentação consistente, vale a pena refletir a respeito.
No artigo Para onde vamos?, Fernando Henrique fala sobre os efeitos – presentes e futuros – do acúmulo de "transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes".
O fenômeno já fora identificado e publicamente denominado "rotina de desfaçatez" pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal.
Marco Aurélio, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, falava sobre a concentração de escândalos que assolava o Brasil e da naturalidade com que eram tratadas as malfeitorias. Fernando Henrique falou de movimentos mais amplos e mais sutis. De algo que "pode levar o País devagarzinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade que pouco tem a ver com nossos ideais democráticos".
Não condenou o pragmatismo, por ele também adotado enquanto ocupou a Presidência da República. Apontou, sim, o patrocínio de um método de rendição e aprofundamento de um estado de coisas de regressão a um sistema de governo autoritário, agora de cunho "popular".
Cita exemplos: "Por que fazer o Congresso engolir uma mudança na legislação de petróleo mal-explicada? Por que anunciar quem venceu a concorrência para compras de aviões militares, se o processo de seleção não terminou? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem nenhum pudor, passear pelo Brasil à custa do Tesouro? Por que, na política externa, fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz e com os direitos humanos?"
Fernando Henrique faz questionamentos relevantes. Nenhum deles, entretanto, levado em conta pelos dois pré-candidatos à Presidência da República do partido no qual ele ocupa a presidência de honra e onde fala sozinho.
"Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem", escreve FH, em descrição perfeita do misto de apatia de resultados e oposição com hora marcada que conduz as ações do PSDB.
Expiatórios
Os políticos tucanos pararam de trocar acusações sobre a divulgação da polêmica pesquisa patrocinada pelo ex-deputado e empresário Ronaldo Cezar Coelho sobre o grau de aceitação de uma chapa com José Serra na cabeça e Aécio Neves na vice.
O problema foi transferido para o departamento de marketing do PSDB, que agora se divide entre os que acusam o cientista político Antônio Lavareda e os que apontam o jornalista Luiz Gonzalez como responsável por levar a pesquisa aos jornais.
Cenografia
Ao mineiro Aécio Neves não convence essa tese. Tem absoluta certeza de que a pesquisa foi parar na imprensa pelas mãos de aliados de Serra que resolveram ignorar o acordo de cavalheiros firmado entre os governadores de São Paulo e Minas Gerais.
Pelo acerto, cada qual cuidaria de "segurar seus radicais" até a hora do entendimento oficial. Na perspectiva de Aécio, isso significa não ser tratado como coadjuvante no processo.
Daí a reação do mineiro pedindo, em tom de ultimato, uma decisão do partido até dezembro.
Pão, pão
Se prevalecer a avaliação corrente na seara oposicionista, a eleição de 2010 acontecerá exatamente na forma considerada ideal pelo presidente Lula: o plebiscito.
Os tucanos acham que Marina Silva não terá fôlego - vale dizer, dinheiro e tempo de televisão - suficiente para sustentar a candidatura presidencial e que Ciro Gomes será devidamente (por Lula) mantido fora da disputa nacional.
Indagados se isso é bom ou ruim, não dizem sim nem não.
Dora Kramer,
Em O Estado de S. Paulo
Em análise precisa sobre a guinada personalista que o presidente Luiz Inácio da Silva imprimiu à democracia brasileira nos seus dois mandatos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu as pistas dos caminhos que levam o País aos poucos a abrir mão dos valores institucionais para adotar como referência única a popularidade de um líder político voraz no exercício do poder.
"Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições", escreve o ex-presidente em seu artigo de domingo no Estado.
Palavras de um opositor político? Sim, mas nem por isso devem ser atribuídas ao mero ofício da luta política e, por isso, relegadas ao campo do bate-boca entre adversários.
Nestes últimos sete anos nos desacostumamos da prática, mas é na oposição que se produz o contraditório, ponto de partida para a discussão do estabelecido.
A questão central é a qualidade do debate proposto: se fruto de esperneio à deriva, desconsidera-se; se produto de argumentação consistente, vale a pena refletir a respeito.
No artigo Para onde vamos?, Fernando Henrique fala sobre os efeitos – presentes e futuros – do acúmulo de "transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes".
O fenômeno já fora identificado e publicamente denominado "rotina de desfaçatez" pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal.
Marco Aurélio, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, falava sobre a concentração de escândalos que assolava o Brasil e da naturalidade com que eram tratadas as malfeitorias. Fernando Henrique falou de movimentos mais amplos e mais sutis. De algo que "pode levar o País devagarzinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade que pouco tem a ver com nossos ideais democráticos".
Não condenou o pragmatismo, por ele também adotado enquanto ocupou a Presidência da República. Apontou, sim, o patrocínio de um método de rendição e aprofundamento de um estado de coisas de regressão a um sistema de governo autoritário, agora de cunho "popular".
Cita exemplos: "Por que fazer o Congresso engolir uma mudança na legislação de petróleo mal-explicada? Por que anunciar quem venceu a concorrência para compras de aviões militares, se o processo de seleção não terminou? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem nenhum pudor, passear pelo Brasil à custa do Tesouro? Por que, na política externa, fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz e com os direitos humanos?"
Fernando Henrique faz questionamentos relevantes. Nenhum deles, entretanto, levado em conta pelos dois pré-candidatos à Presidência da República do partido no qual ele ocupa a presidência de honra e onde fala sozinho.
"Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem", escreve FH, em descrição perfeita do misto de apatia de resultados e oposição com hora marcada que conduz as ações do PSDB.
Expiatórios
Os políticos tucanos pararam de trocar acusações sobre a divulgação da polêmica pesquisa patrocinada pelo ex-deputado e empresário Ronaldo Cezar Coelho sobre o grau de aceitação de uma chapa com José Serra na cabeça e Aécio Neves na vice.
O problema foi transferido para o departamento de marketing do PSDB, que agora se divide entre os que acusam o cientista político Antônio Lavareda e os que apontam o jornalista Luiz Gonzalez como responsável por levar a pesquisa aos jornais.
Cenografia
Ao mineiro Aécio Neves não convence essa tese. Tem absoluta certeza de que a pesquisa foi parar na imprensa pelas mãos de aliados de Serra que resolveram ignorar o acordo de cavalheiros firmado entre os governadores de São Paulo e Minas Gerais.
Pelo acerto, cada qual cuidaria de "segurar seus radicais" até a hora do entendimento oficial. Na perspectiva de Aécio, isso significa não ser tratado como coadjuvante no processo.
Daí a reação do mineiro pedindo, em tom de ultimato, uma decisão do partido até dezembro.
Pão, pão
Se prevalecer a avaliação corrente na seara oposicionista, a eleição de 2010 acontecerá exatamente na forma considerada ideal pelo presidente Lula: o plebiscito.
Os tucanos acham que Marina Silva não terá fôlego - vale dizer, dinheiro e tempo de televisão - suficiente para sustentar a candidatura presidencial e que Ciro Gomes será devidamente (por Lula) mantido fora da disputa nacional.
Indagados se isso é bom ou ruim, não dizem sim nem não.
A mentira como rotina tenta camuflar a grande fraude
A mentira como rotina tenta camuflar a grande fraude
Augusto Nunes
01 de novembro de 2009
O perfil não autorizado de Dilma Rousseff, que será publicado no começo da semana, prova que entre a candidata à Presidência e as encarnações anteriores - a guerrilheira, a secretária municipal, a secretária estadual, a ministra de Minas e Energia e a chefe da Casa Civil - há uma única diferença relevante: as outras Dilmas não falavam.
Depois que desandou na discurseira, o monumento à eficiência começou a escancarar perturbadoras rachaduras. E o Brasil que pensa vai descobrindo que a cria de Lula é um Pacheco de terninho que passou a vida conversando com o Conselheiro Acácio e mente compulsivamente para ocultar a grande fraude: a maior gerente-de-país desde o Descobrimento não existe. Nunca existiu.
Estava na primeira linha do perfil quando chegou este comentário do excelente jornalista Celso Arnaldo. Tudo a ver. Confiram. Volto no fim do texto.
Diante de uma fala gravada de Dilma, qualquer jornalista, mesmo completamente despreparado, se sente compelido a reescrevê-la, para não martirizar seu leitor com a tortura iletrada do pensamento da ministra.
Engano meu, pois há uma exceção: a tropa de choque do pessoal que cuida do site da Casa Civil… Já na primeira página, além do áudio da entrevista dela ao programa Bom dia Ministro, há a transcrição na íntegra da gravação. Eles não mudaram uma vírgula, uma respiração, erros de concordância e raciocínio que, enfileirados, iriam daqui a Brasília. Obrigado, Casa Civil! Vocês não sabem o que fazem.
Vejam o que ela responde a uma crítica sobre o Minha Casa, Minha Vida:
“Olha, não é isso que nós estamos vendo. Não é isso que a gente tá vendo e eu vou te falar a partir do que. Hoje, já tem mais de 400 projetos apresentados para a Caixa, “dominantemente” naquela distribuição em que zero a três é o pessoal que faz a moradia para renda de zero a três salários mínimos é a grande maioria. Lá dentro da Caixa já tem aprovado mais de 100 mil contratações. A gente não esperava que tivesse nenhuma casa pronta a não ser que essa casa tivesse começado a ser construída antes da gente lançar o programa, o que seria impossível porque, em média, você reduzindo o máximo que você puder toda burocracia que envolve a construção de casa, o nosso objetivo é chegar 11 meses, ou seja, dada a escolha do terreno até a hora que a chave foi entregue na mão da pessoa que vai morar, o mínimo é 11 meses. No Brasil nós estamos tentando reduzir isso porque era 22, nós estamos tentando chegar nessa meta de 11″.
Sobre um tal “anel de Belo Horizonte”:
“A boa notícia é o seguinte. O anel nós estamos agora com ele em fase final de aprovação. O Ministério dos Transportes já avaliou, nós consideramos que o projeto está bom, então ele entra no PAC, a gente considerando aquilo que ele vai ser licitado imediatamente, não vai ficar parado nem nada. Então, acho que essa é uma boa notícia”.
De novo sobre o Minha Casa:
“Porque nós não vamos ter de dar conta de resolver o problema de seis milhões de habitações. São seis milhões de lares, de moradias, de casas que falta no Brasil. Daqui para frente o que nós estamos fazendo é o seguinte: nós vamos provar para esse um milhão que é possível fazer. E vamos, eu acho, a partir do final desse programa, nós teremos de estar em perfeitas condições para iniciar já fazendo os outros seis milhões sem o que o déficit habitacional brasileiro não vai ser resolvido”.
Dispensa comentários, mas me permito um: já pensou se, na hora de defender a tese que nunca defendeu para o doutorado que nunca fez, a Dilma falasse desse jeito para a banca examinadora?
Não seria pau direto até na Uniban?
Dilma é isso aí. Sempre foi. Prisioneiro da formação intelectual indigente, Lula não sabe se alguém está pronto para lecionar em Harvard ou naufragar no Enem.
É compreensível que tenha resolvido transformar em sucessora a companheira de cabeça confusa. Deve achar bonito o que Dilma diz. Deve achar que só uma sumidade consegue pilotar um projetor enquanto fala do PAC. Mas muitos espertalhões da base alugada montam frases com começo, meio e fim, e distinguem um cérebro em bom estado de outro severamente avariado. Essa gente já suspeita de que está a bordo do barco errado.
Nenhuma outra espécie de rato sabe desembarcar com tanta ligeireza.
Augusto Nunes
01 de novembro de 2009
O perfil não autorizado de Dilma Rousseff, que será publicado no começo da semana, prova que entre a candidata à Presidência e as encarnações anteriores - a guerrilheira, a secretária municipal, a secretária estadual, a ministra de Minas e Energia e a chefe da Casa Civil - há uma única diferença relevante: as outras Dilmas não falavam.
Depois que desandou na discurseira, o monumento à eficiência começou a escancarar perturbadoras rachaduras. E o Brasil que pensa vai descobrindo que a cria de Lula é um Pacheco de terninho que passou a vida conversando com o Conselheiro Acácio e mente compulsivamente para ocultar a grande fraude: a maior gerente-de-país desde o Descobrimento não existe. Nunca existiu.
Estava na primeira linha do perfil quando chegou este comentário do excelente jornalista Celso Arnaldo. Tudo a ver. Confiram. Volto no fim do texto.
Diante de uma fala gravada de Dilma, qualquer jornalista, mesmo completamente despreparado, se sente compelido a reescrevê-la, para não martirizar seu leitor com a tortura iletrada do pensamento da ministra.
Engano meu, pois há uma exceção: a tropa de choque do pessoal que cuida do site da Casa Civil… Já na primeira página, além do áudio da entrevista dela ao programa Bom dia Ministro, há a transcrição na íntegra da gravação. Eles não mudaram uma vírgula, uma respiração, erros de concordância e raciocínio que, enfileirados, iriam daqui a Brasília. Obrigado, Casa Civil! Vocês não sabem o que fazem.
Vejam o que ela responde a uma crítica sobre o Minha Casa, Minha Vida:
“Olha, não é isso que nós estamos vendo. Não é isso que a gente tá vendo e eu vou te falar a partir do que. Hoje, já tem mais de 400 projetos apresentados para a Caixa, “dominantemente” naquela distribuição em que zero a três é o pessoal que faz a moradia para renda de zero a três salários mínimos é a grande maioria. Lá dentro da Caixa já tem aprovado mais de 100 mil contratações. A gente não esperava que tivesse nenhuma casa pronta a não ser que essa casa tivesse começado a ser construída antes da gente lançar o programa, o que seria impossível porque, em média, você reduzindo o máximo que você puder toda burocracia que envolve a construção de casa, o nosso objetivo é chegar 11 meses, ou seja, dada a escolha do terreno até a hora que a chave foi entregue na mão da pessoa que vai morar, o mínimo é 11 meses. No Brasil nós estamos tentando reduzir isso porque era 22, nós estamos tentando chegar nessa meta de 11″.
Sobre um tal “anel de Belo Horizonte”:
“A boa notícia é o seguinte. O anel nós estamos agora com ele em fase final de aprovação. O Ministério dos Transportes já avaliou, nós consideramos que o projeto está bom, então ele entra no PAC, a gente considerando aquilo que ele vai ser licitado imediatamente, não vai ficar parado nem nada. Então, acho que essa é uma boa notícia”.
De novo sobre o Minha Casa:
“Porque nós não vamos ter de dar conta de resolver o problema de seis milhões de habitações. São seis milhões de lares, de moradias, de casas que falta no Brasil. Daqui para frente o que nós estamos fazendo é o seguinte: nós vamos provar para esse um milhão que é possível fazer. E vamos, eu acho, a partir do final desse programa, nós teremos de estar em perfeitas condições para iniciar já fazendo os outros seis milhões sem o que o déficit habitacional brasileiro não vai ser resolvido”.
Dispensa comentários, mas me permito um: já pensou se, na hora de defender a tese que nunca defendeu para o doutorado que nunca fez, a Dilma falasse desse jeito para a banca examinadora?
Não seria pau direto até na Uniban?
Dilma é isso aí. Sempre foi. Prisioneiro da formação intelectual indigente, Lula não sabe se alguém está pronto para lecionar em Harvard ou naufragar no Enem.
É compreensível que tenha resolvido transformar em sucessora a companheira de cabeça confusa. Deve achar bonito o que Dilma diz. Deve achar que só uma sumidade consegue pilotar um projetor enquanto fala do PAC. Mas muitos espertalhões da base alugada montam frases com começo, meio e fim, e distinguem um cérebro em bom estado de outro severamente avariado. Essa gente já suspeita de que está a bordo do barco errado.
Nenhuma outra espécie de rato sabe desembarcar com tanta ligeireza.
FHC 3
FHC E O TEMA DE NOSSO TEMPO
José Nivaldo Cordeiro, domingo, 01 de novembro de 2009.
O tema de nosso tempo é o totalitarismo (que chamei de Estado Total) e o Brasil caminha a passos largos na sua direção. Os leitores que me acompanham estão perfeitamente cientes dos perigos que nos rondam. E quero confidenciar aqui, que o artigo hoje publicado em vários jornais pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (v. texto acima), ao mesmo tempo que me envaideceu, me deixou entristecido. Vejo que vários dos pontos preocupantes que tenho levantado em minhas análises foram plenamente endossados por ele. FHC também está muito preocupado com o futuro político do Brasil. Ter a concordância de FHC mostra que, de fato, não tenho errado nas análises, algo a envaidecer-me. Porém, fico triste porque acertar aqui é perder, pois os riscos emergem de todos os lados, as ameaças brotam, a sociedade treme inerme diante do Estado Total petista.
FHC inicia o artigo indo direto ao ponto principal, a plena alienação da sociedade brasileira diante da arrogância e exorbitância do governo Lula: "A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio 'talvez' porque alguns estão de tal modo inebriados com 'o maior espetáculo da terra', de riqueza fácil que beneficia a poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?"
FHC só não pode afetar surpresa por isso. Ele sabe perfeitamente bem que o grande eleitor de Lula e o pavimentador dos caminhos do PT ao poder foi ele mesmo.
A alienação da sociedade aconteceu em larga medida em seu próprio tempo de poder e oriunda de seus próprios métodos. Não faz muito eu comentei a entrevista que FHC deu à revista Dicta& Contradicta (v. AQUI), na qual ele se declarou partidário dos métodos políticos de Gramsci. Ora, o resultado disso não seria coroado no seu governo, socialista meia-boca, ainda com o ranço "burguês". A social-democracia sempre preparou o terreno para que os radicais desembarcassem no poder de Estado. Como teórico da revolução gramsciana ele tem perfeitamente claro como funciona a coisa toda.
FHC completou no exórdio do artigo: "Só que cada pequena transgressão, cada desvio, vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade, que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos".
Sim, tem método, o método usado por FHC ele mesmo e seu grupo, desde antes de chegar ao poder. Impessoal, a despeito do príncipe tresloucado, um estúpido com cara de torcedor de futebol. A revolução no ensino, alienando os jovens, a edição de material didático mentiroso, o agigantamento acelerado do Estado, do lado da receita e da despesa, o controle ideológico dos meios de comunicação, foi tudo que FHC realizou. Até mesmo as malditas bolsas em troca de votos foi criação sua. FHC se preocupa talvez porque um insensato é um príncipe despreparado. Ora, quando os demônios são soltos fazem coisas que se esperam deles. Afinal, são demônios. É o que estamos vendo. Nada do que Lula faz é diferente do que FHC fez, exceto que o processo é cumulativo e está em grau muito mais avançado, praticamente temos vinte anos nessa marcha forçada no rumo do totalitarismo. Que a revolução gramsciana se faz assim mesmo, "devagarinho, quase sem que se perceba". Agora FHC chama a isso de "pequenos assassinatos", figura notavelmente apropriada, mas ele é mais que cúmplice desses crimes, pode ser considerado o mandante. FHC poderia ter salvo o Brasil desse desastre, mas jamais quis isso. Como um Fausto tupiniquim achou que poderia negociar com Mefistófeles sem entregar a alma. O fogo arderá para todos. FHC deu-se conta da dimensão da tragédia que nos espera.
Completou: "Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do 'autoritarismo popular' vai minando o espírito da democracia constitucional. Essa supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o". Em pauta, temos a transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no orçamento e minguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo TCU. Não importa: no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: 'Minha casa, minha vida'; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos".
FHC teve a coragem de vir a público dizer essas coisas todas, uma surpresa para mim. Falar, como fez, em autoritarismo popular é ainda um eufemismo, mas uma figura de linguagem que já dá a dimensão trágica do real. Afinal, FHC carrega a autoridade de ex-presidente, patrono de todos os esquerdistas, inclusive e sobretudo de Lula e seu grupo. De uma maneira que me pareceu desapropriada comparou as ações de Lula com as dos governos militares, esquecendo-se de dizer que os militares implantaram o regime de força para livrar o Brasil das mesmas forças totalitárias aglutinadas em torno de Lula; e, depois, fizeram a abertura política e entregaram o poder aos civis, sem qualquer trauma. O processo agora é precisamente o inverso e mais paralelo vejo com o período imediatamente anterior ao pré-64: as esquerdas se aproximando do poder total pela via democrática, objetivando destruir a ordem democrática para perpetuar-se. FHC não perdeu o sestro de falar mal dos militares, para cortejar talvez aqueles a quem denuncia no artigo. Seu medo ainda não alcançou as devidas dimensões.
Não obstante, foi capaz de escrever: "Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados". Nesse trecho podemos notar sua ansiedade e sua urgência. Partido e Estado formando uma unidade é o totalitarismo com todas as letras e o Brasil já vive isso, conforme ele observou. Infelizmente, é o que tenho escrito há bem mais tempo. Esse processo começou no dia da posse de Lula. Este artigo tardou a ser escrito.
Em meus artigos os leitores têm lido muito sobre o papel adquirido na economia pelos fundos de pensão e como eles se tornaram instrumentos para a chegada ao socialismo, a partir da resenha que fiz do livro de Peter Drucker (v. AQUI ). É a primeira vez que vejo o problema colocado nos mesmos termos que tenho escrito: "Ora dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso, os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde".
Pergunta: quem tem força para dar basta ao continuísmo? Ora, direis, as estrelas. Quais? As quatro, aquelas mesmas quatro que em 1964 tiveram a força e o discernimento para espantar os alucinados do poder. Que venham enquanto é tempo. Ora, direis, ouvir estrelas... Melhor ouvir clarins?
José Nivaldo Cordeiro: "Quem sou eu? Sou cristão, liberal e democrata. Abomino todas as formas de tiranias e de coletivismos. Acredito que a Verdade veio com a Revelação e que a vida é uma totalidade, não podendo ser cindida em departamentos estanques. Abomino qualquer intervenção do Estado na vida das pessoas e na economia, além do imprescindível para manter a ordem pública. Acredito que a liberdade é um bem que se conquista cotidianamente, pelo esforço individual, e que os seus inimigos estão sempre a postos para destruí-la. Preservá-la é manter-se vigilante e sempre disposto a lutar, a combater o bom combate. Acredito que riqueza e prosperidade só podem vir mediante o esforço individual de trabalhar. Fora disso, é sair do bom caminho, é mergulhar na escuridão da mentira e das falsas promessas".
José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP e editor do site "NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado". E-mail: nivaldocordeiro@yahoo.com.br
Publicado no site "NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado".
José Nivaldo Cordeiro, domingo, 01 de novembro de 2009.
O tema de nosso tempo é o totalitarismo (que chamei de Estado Total) e o Brasil caminha a passos largos na sua direção. Os leitores que me acompanham estão perfeitamente cientes dos perigos que nos rondam. E quero confidenciar aqui, que o artigo hoje publicado em vários jornais pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (v. texto acima), ao mesmo tempo que me envaideceu, me deixou entristecido. Vejo que vários dos pontos preocupantes que tenho levantado em minhas análises foram plenamente endossados por ele. FHC também está muito preocupado com o futuro político do Brasil. Ter a concordância de FHC mostra que, de fato, não tenho errado nas análises, algo a envaidecer-me. Porém, fico triste porque acertar aqui é perder, pois os riscos emergem de todos os lados, as ameaças brotam, a sociedade treme inerme diante do Estado Total petista.
FHC inicia o artigo indo direto ao ponto principal, a plena alienação da sociedade brasileira diante da arrogância e exorbitância do governo Lula: "A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio 'talvez' porque alguns estão de tal modo inebriados com 'o maior espetáculo da terra', de riqueza fácil que beneficia a poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?"
FHC só não pode afetar surpresa por isso. Ele sabe perfeitamente bem que o grande eleitor de Lula e o pavimentador dos caminhos do PT ao poder foi ele mesmo.
A alienação da sociedade aconteceu em larga medida em seu próprio tempo de poder e oriunda de seus próprios métodos. Não faz muito eu comentei a entrevista que FHC deu à revista Dicta& Contradicta (v. AQUI), na qual ele se declarou partidário dos métodos políticos de Gramsci. Ora, o resultado disso não seria coroado no seu governo, socialista meia-boca, ainda com o ranço "burguês". A social-democracia sempre preparou o terreno para que os radicais desembarcassem no poder de Estado. Como teórico da revolução gramsciana ele tem perfeitamente claro como funciona a coisa toda.
FHC completou no exórdio do artigo: "Só que cada pequena transgressão, cada desvio, vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade, que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos".
Sim, tem método, o método usado por FHC ele mesmo e seu grupo, desde antes de chegar ao poder. Impessoal, a despeito do príncipe tresloucado, um estúpido com cara de torcedor de futebol. A revolução no ensino, alienando os jovens, a edição de material didático mentiroso, o agigantamento acelerado do Estado, do lado da receita e da despesa, o controle ideológico dos meios de comunicação, foi tudo que FHC realizou. Até mesmo as malditas bolsas em troca de votos foi criação sua. FHC se preocupa talvez porque um insensato é um príncipe despreparado. Ora, quando os demônios são soltos fazem coisas que se esperam deles. Afinal, são demônios. É o que estamos vendo. Nada do que Lula faz é diferente do que FHC fez, exceto que o processo é cumulativo e está em grau muito mais avançado, praticamente temos vinte anos nessa marcha forçada no rumo do totalitarismo. Que a revolução gramsciana se faz assim mesmo, "devagarinho, quase sem que se perceba". Agora FHC chama a isso de "pequenos assassinatos", figura notavelmente apropriada, mas ele é mais que cúmplice desses crimes, pode ser considerado o mandante. FHC poderia ter salvo o Brasil desse desastre, mas jamais quis isso. Como um Fausto tupiniquim achou que poderia negociar com Mefistófeles sem entregar a alma. O fogo arderá para todos. FHC deu-se conta da dimensão da tragédia que nos espera.
Completou: "Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do 'autoritarismo popular' vai minando o espírito da democracia constitucional. Essa supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o". Em pauta, temos a transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no orçamento e minguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo TCU. Não importa: no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: 'Minha casa, minha vida'; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos".
FHC teve a coragem de vir a público dizer essas coisas todas, uma surpresa para mim. Falar, como fez, em autoritarismo popular é ainda um eufemismo, mas uma figura de linguagem que já dá a dimensão trágica do real. Afinal, FHC carrega a autoridade de ex-presidente, patrono de todos os esquerdistas, inclusive e sobretudo de Lula e seu grupo. De uma maneira que me pareceu desapropriada comparou as ações de Lula com as dos governos militares, esquecendo-se de dizer que os militares implantaram o regime de força para livrar o Brasil das mesmas forças totalitárias aglutinadas em torno de Lula; e, depois, fizeram a abertura política e entregaram o poder aos civis, sem qualquer trauma. O processo agora é precisamente o inverso e mais paralelo vejo com o período imediatamente anterior ao pré-64: as esquerdas se aproximando do poder total pela via democrática, objetivando destruir a ordem democrática para perpetuar-se. FHC não perdeu o sestro de falar mal dos militares, para cortejar talvez aqueles a quem denuncia no artigo. Seu medo ainda não alcançou as devidas dimensões.
Não obstante, foi capaz de escrever: "Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados". Nesse trecho podemos notar sua ansiedade e sua urgência. Partido e Estado formando uma unidade é o totalitarismo com todas as letras e o Brasil já vive isso, conforme ele observou. Infelizmente, é o que tenho escrito há bem mais tempo. Esse processo começou no dia da posse de Lula. Este artigo tardou a ser escrito.
Em meus artigos os leitores têm lido muito sobre o papel adquirido na economia pelos fundos de pensão e como eles se tornaram instrumentos para a chegada ao socialismo, a partir da resenha que fiz do livro de Peter Drucker (v. AQUI ). É a primeira vez que vejo o problema colocado nos mesmos termos que tenho escrito: "Ora dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso, os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde".
Pergunta: quem tem força para dar basta ao continuísmo? Ora, direis, as estrelas. Quais? As quatro, aquelas mesmas quatro que em 1964 tiveram a força e o discernimento para espantar os alucinados do poder. Que venham enquanto é tempo. Ora, direis, ouvir estrelas... Melhor ouvir clarins?
José Nivaldo Cordeiro: "Quem sou eu? Sou cristão, liberal e democrata. Abomino todas as formas de tiranias e de coletivismos. Acredito que a Verdade veio com a Revelação e que a vida é uma totalidade, não podendo ser cindida em departamentos estanques. Abomino qualquer intervenção do Estado na vida das pessoas e na economia, além do imprescindível para manter a ordem pública. Acredito que a liberdade é um bem que se conquista cotidianamente, pelo esforço individual, e que os seus inimigos estão sempre a postos para destruí-la. Preservá-la é manter-se vigilante e sempre disposto a lutar, a combater o bom combate. Acredito que riqueza e prosperidade só podem vir mediante o esforço individual de trabalhar. Fora disso, é sair do bom caminho, é mergulhar na escuridão da mentira e das falsas promessas".
José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP e editor do site "NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado". E-mail: nivaldocordeiro@yahoo.com.br
Publicado no site "NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado".
FHC 2
Para onde vamos?
Fernando Henrique Cardoso
Publicado no jornal "Zero Hora" – (Edição Nº 16142) – Domingo, 01 de novembro de 2009.
A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio "talvez" porque alguns estão de tal modo inebriados com "o maior espetáculo da terra", de riqueza fácil que beneficia a poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?
Só que cada pequena transgressão, cada desvio, vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade, que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos.
É possível escolher ao acaso os exemplos de "pequenos assassinatos". Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira "nacionalista", pois se o sistema atual, de concessões, fosse "entreguista" deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública. Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental em uma companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem qualquer pudor, passear pelo Brasil às custas do Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso...) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos?
Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do "autoritarismo popular" vai minando o espírito da democracia constitucional. Essa supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o". Em pauta, temos a transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no orçamento e minguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo TCU. Não importa: no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: "Minha casa, minha vida"; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos.
Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo "Brasil potência". Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU – contra a letra expressa da Constituição – vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil. Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que tivesse se esquecido de acrescentar "l'État c'est moi". Mas não esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender "nosso pré-sal". Está bem, tudo muito lógico.
Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados. Foi no "dedaço" que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições, sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são "estrelas novas". Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam.
Ora dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso, os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina.
No Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde.
Fernando Henrique Cardoso
Publicado no jornal "Zero Hora" – (Edição Nº 16142) – Domingo, 01 de novembro de 2009.
A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio "talvez" porque alguns estão de tal modo inebriados com "o maior espetáculo da terra", de riqueza fácil que beneficia a poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?
Só que cada pequena transgressão, cada desvio, vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade, que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos.
É possível escolher ao acaso os exemplos de "pequenos assassinatos". Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira "nacionalista", pois se o sistema atual, de concessões, fosse "entreguista" deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública. Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental em uma companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem qualquer pudor, passear pelo Brasil às custas do Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso...) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos?
Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do "autoritarismo popular" vai minando o espírito da democracia constitucional. Essa supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o". Em pauta, temos a transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no orçamento e minguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo TCU. Não importa: no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: "Minha casa, minha vida"; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos.
Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo "Brasil potência". Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU – contra a letra expressa da Constituição – vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil. Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que tivesse se esquecido de acrescentar "l'État c'est moi". Mas não esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender "nosso pré-sal". Está bem, tudo muito lógico.
Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados. Foi no "dedaço" que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições, sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são "estrelas novas". Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam.
Ora dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso, os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina.
No Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde.
ENTREVISTA DE FHC
por José Nivaldo Cordeiro
Sexta-feira, 24 de julho de 2009.
Saiu último número da revista DICTA&CONTRADICTA e, como sempre, ela traz excelente e variado conteúdo. A revista tornou-se leitura obrigatória no cenário cultural brasileiro. Desta vez o grande presente que ela tem para o leitor é uma longa entrevista dada por Fernando Henrique Cardoso ao editor da revista, Guilherme Malzoni Rabello, que quero aqui comentar.
A entrevista pode ser dividida em três temas distintos: um teórico, um político e um terceiro, pessoal.
Guilherme foi muito feliz nos dois encontros que teve com FHC para realizar a entrevista. Eu, que tenho acompanhado tudo que FHC escreve e declara nos últimos anos, nunca o vi tão humano, tão desprovido da casca de maioral da República.
A entrevista traz nuances insuspeitas da sua personalidade para quem conhece o ex-presidente apenas de longe. Eu quero aqui sublinhar alguns trechos, especialmente aqueles que, se eu pudesse, exploraria mais se tivesse a oportunidade de falar diretamente com o entrevistado. Depois deste painel fascinante composto pelo Guilherme, eu fiquei com um pequeno questionário adicional. Mas o importante é sublinhar o valor histórico do documento, um serviço feito pela revista aos brasileiros.
No tema da questão teórica, que é tocado logo no preâmbulo, vemos o FHC sociólogo discorrer com loquacidade sobre Max Weber, Marx e outros teóricos da sociologia. Gostei muito da sua crítica aos atuais métodos de pesquisa em ciências sociais. Nas suas palavras: "Hoje, acho que a predominância da visão positivista é maior ainda, através da sociologia dita empírica. A ciência dita empírica. A ciência política na literatura atual, nas revistas especializadas, é quase ilegível, porque se postula um homo politicus, tal como a economia postula um homooeconomicus. Mas, na verdade, isso não funciona: está-se vendo a toda hora que há o imprevisível, o acaso, enfim, que as coisas não são dessa forma – como também não o são na economia, como acabamos de ver nesta crise, pelo desencontro que há entre as previsões e a realidade".
Certamente há aqui um vislumbre de realidade forte, sublinhado pela experiência espetacular que FHC carrega na própria biografia, seja no âmbito teorético, seja no âmbito de agente político que tudo viveu. Um depoimento valioso, que ele completa: "A confusão que não se pode fazer é imaginar que a ciência seja igual à verdade, ou então que ela seja todo o conhecimento possível, que esgote a realidade. Weber tem plena noção de que a realidade é inescapável, e não tinha a pretensão de apresentar a explicação. Portanto, acho que certa humildade é necessária para o sujeito não cair numa visão vulgar, patética, de que o dado explicaria tudo por si mesmo". Certamente essa é uma conclusão de um grande professor.
Mais à frente, vemos o teórico substituído pelo ator político: "O político tem de ter a ética de responsabilidade: precisa saber que será responsável pelas conseqüências dos seus atos, mesmo que não sejam intencionadas. Esse é o grande drama do político: assumir responsabilidade por aquilo que não se tinha como propósito. Por isso, as conseqüências dos atos devem ser medidas".
Ainda mais à frente: "Penso que todo o líder que transcende não pode ficar só nisso; precisa ter uma convicção, tem de acreditar em alguma coisa".
A questão que me coloco é: teve FHC essa postura como governante? Como teórico no poder? Suas respostas dão algumas pistas sobre essas questões.
Respondendo à pergunta sobre os seus próprios valores enquanto ator político, ele sublinha a liberdade, a democracia e também a igualdade. "O resto é instrumental", segundo ele mesmo. Estamos aqui diante do credo socialista, que FHC encarnou. No seu governo a participação da carga tributária no PIB cresceu 10 pontos percentuais. Eu teria lhe perguntado se essa decisão política, de alavancar tão fortemente a tributação, poderia ser classificada como instrumental para o aumento da liberdade e da democracia. Quer me parecer precisamente o contrário. Mais imposto é sinônimo de menos liberdade e menos democracia.
Aqui está o principal ponto da ciência política, pelo qual uma visão conservadora, que eu mesmo postulo, precisa desmascarar os discursos de bom mocinho de gente como FHC e dos socialistas em geral. Pregam uma coisa e praticam outra.
Obviamente que esse teratológico aumento da carga tributária serviu para fortalecer a burocracia estatal, para aumentar o feixe de regulamentos que atravancam a vida prática, para empobrecer quem trabalha e para criar uma casta gigantesca de parasitas, que cresce velozmente no Brasil. FHC é o responsável direto por isso e creio que a história cobrará dele a sua responsabilidade ética por essa desgraça que se abateu sobre a Nação. Sem esquecer que a inércia desse processo alargou-se com o PT no poder: FHC é o pai espiritual de Lula e o maior cabo eleitoral dos petistas.
Terá sido isso aumento da democracia? Penso que não, é a sua própria negação, sua corrupção. As práticas políticas desde que FHC assumiu o poder podem ser consideradas as piores desde quando o Brasil se formou como Nação.
E FHC tem total clareza disso, embora não verbalize as conseqüências morais de duas decisões de governo. Quando ele fala de Gramsci, por exemplo, é mais do que professoral, ele é conclusivo. "Gramsci tinha uma idéia específica: para ele, era o Moderno Príncipe, o Partido, quem seria o regenerador dos valores, e ele via esse processo também como manipulação. O partido deveria tomar conta, apropriar-se da cultura. Gramsci teve a perspectiva de perceber, no panorama do mundo marxista, socialista, comunista de então, que não bastava pensar em infra-estrutura e superestrutura... Por isso Gramsci teve tanta importância". Eu entendo que o maior agente da revolução gramsciana que o Brasil conheceu é FHC em pessoa.
Mas quem é o Partido? É uma pergunta que se impõe. Para ele, não é o PT: "Mais tarde o PT tentou ser gramsciano, mas não deu o segundo passo, que poderia ser o mais revolucionário. Ou seja, não renunciou à concepção de que o Estado é que vai mudar a sociedade... Ficaram com o domínio (provisório) do Estado e nada significativo mudaram na sociedade".
Vê-se que FHC acha que é o seu próprio partido o Partido aludido por Gramsci. E aqui cabe uma reflexão. Se FHC realmente acha que o PT é um partido leninista à moda antiga, revolucionário, porque não lutou para que ele não chegasse ao poder? Terá percebido a contradição do que disse? Será que o Brasil não corre o risco de ver o PT se perpetuar no poder, seja lá por que via for? Será mesmo que o PT está provisório no comando do Estado? Eu temo que não. Esse ponto aqui também será cobrado pela história a FHC. Durante todo o processo político ele teve a clareza teórica e factual dos riscos que o país corria e teve os meios para não ver a bacia derramar e nada fez. Acabou por ser ele o grande eleitor de Lula e dos seus asseclas para o poder central.
Essa não é uma simples questão teórica, ela transcende, é existencial. Não dá para minimizar a responsabilidade pessoal de FHC, menos ainda os desdobramentos históricos que estão por vir. O drama é ler a entrevista e ficar sabendo que, em nenhum momento, FHC se iludiu com o processo. Acabou sendo uma confissão de que terá sido cúmplice se os revolucionários leninistas forem bem sucedidos no Brasil.
FHC está muito certo quando afirma: "Penso que no Brasil simplesmente não existe um pensamento propriamente conservador. Não existe. Nem na política há quem se defina como conservador, o que é uma coisa muito estranha".
Ora, essa é a constatação que ele fez de que a vitória de Gramsci por aqui foi completa. Toda a disputa política passou a se dar entre "mais" esquerda e "menos" esquerda, uma perfeita farsa eleitoral. A liberdade política que restou aos brasileiros é escolher entre o representante do PT e do PSDB, partidos que empunham a bandeira do socialismo. O sociólogo, todavia, passa ao largo de formular uma explicação teórica para o fenômeno, embora registre sua estranheza.
Ele revela uma coisa curiosa na entrevista, de que ele próprio compõe um grupo criado por Nelson Mandela, chamado The Elders, uma espécie de gerontocracia socialista operando em escala mundial. Vale uma visita no site, é toda a agenda socialista e globalista que lá está. Realmente, esse fato é coerente com a sua biografia.
FHC finaliza com revelações pessoais, fala da morte de Dona Ruth, de um surpreendente e insuspeito catolicismo na sua formação, da morte, do sentido das coisas. São reflexões existenciais profundas, que mostram um homem idoso, poderoso, diante do inescapável da vida.
Não fosse por outra coisa, e apenas por isso, a entrevista é sensacional e de leitura obrigatória para quem observa o panorama político e intelectual brasileiro. Remeto você, caro leitor, ao conteúdo dessas impressões pessoais, que não cabe a mim comentar.
Sexta-feira, 24 de julho de 2009.
Saiu último número da revista DICTA&CONTRADICTA e, como sempre, ela traz excelente e variado conteúdo. A revista tornou-se leitura obrigatória no cenário cultural brasileiro. Desta vez o grande presente que ela tem para o leitor é uma longa entrevista dada por Fernando Henrique Cardoso ao editor da revista, Guilherme Malzoni Rabello, que quero aqui comentar.
A entrevista pode ser dividida em três temas distintos: um teórico, um político e um terceiro, pessoal.
Guilherme foi muito feliz nos dois encontros que teve com FHC para realizar a entrevista. Eu, que tenho acompanhado tudo que FHC escreve e declara nos últimos anos, nunca o vi tão humano, tão desprovido da casca de maioral da República.
A entrevista traz nuances insuspeitas da sua personalidade para quem conhece o ex-presidente apenas de longe. Eu quero aqui sublinhar alguns trechos, especialmente aqueles que, se eu pudesse, exploraria mais se tivesse a oportunidade de falar diretamente com o entrevistado. Depois deste painel fascinante composto pelo Guilherme, eu fiquei com um pequeno questionário adicional. Mas o importante é sublinhar o valor histórico do documento, um serviço feito pela revista aos brasileiros.
No tema da questão teórica, que é tocado logo no preâmbulo, vemos o FHC sociólogo discorrer com loquacidade sobre Max Weber, Marx e outros teóricos da sociologia. Gostei muito da sua crítica aos atuais métodos de pesquisa em ciências sociais. Nas suas palavras: "Hoje, acho que a predominância da visão positivista é maior ainda, através da sociologia dita empírica. A ciência dita empírica. A ciência política na literatura atual, nas revistas especializadas, é quase ilegível, porque se postula um homo politicus, tal como a economia postula um homooeconomicus. Mas, na verdade, isso não funciona: está-se vendo a toda hora que há o imprevisível, o acaso, enfim, que as coisas não são dessa forma – como também não o são na economia, como acabamos de ver nesta crise, pelo desencontro que há entre as previsões e a realidade".
Certamente há aqui um vislumbre de realidade forte, sublinhado pela experiência espetacular que FHC carrega na própria biografia, seja no âmbito teorético, seja no âmbito de agente político que tudo viveu. Um depoimento valioso, que ele completa: "A confusão que não se pode fazer é imaginar que a ciência seja igual à verdade, ou então que ela seja todo o conhecimento possível, que esgote a realidade. Weber tem plena noção de que a realidade é inescapável, e não tinha a pretensão de apresentar a explicação. Portanto, acho que certa humildade é necessária para o sujeito não cair numa visão vulgar, patética, de que o dado explicaria tudo por si mesmo". Certamente essa é uma conclusão de um grande professor.
Mais à frente, vemos o teórico substituído pelo ator político: "O político tem de ter a ética de responsabilidade: precisa saber que será responsável pelas conseqüências dos seus atos, mesmo que não sejam intencionadas. Esse é o grande drama do político: assumir responsabilidade por aquilo que não se tinha como propósito. Por isso, as conseqüências dos atos devem ser medidas".
Ainda mais à frente: "Penso que todo o líder que transcende não pode ficar só nisso; precisa ter uma convicção, tem de acreditar em alguma coisa".
A questão que me coloco é: teve FHC essa postura como governante? Como teórico no poder? Suas respostas dão algumas pistas sobre essas questões.
Respondendo à pergunta sobre os seus próprios valores enquanto ator político, ele sublinha a liberdade, a democracia e também a igualdade. "O resto é instrumental", segundo ele mesmo. Estamos aqui diante do credo socialista, que FHC encarnou. No seu governo a participação da carga tributária no PIB cresceu 10 pontos percentuais. Eu teria lhe perguntado se essa decisão política, de alavancar tão fortemente a tributação, poderia ser classificada como instrumental para o aumento da liberdade e da democracia. Quer me parecer precisamente o contrário. Mais imposto é sinônimo de menos liberdade e menos democracia.
Aqui está o principal ponto da ciência política, pelo qual uma visão conservadora, que eu mesmo postulo, precisa desmascarar os discursos de bom mocinho de gente como FHC e dos socialistas em geral. Pregam uma coisa e praticam outra.
Obviamente que esse teratológico aumento da carga tributária serviu para fortalecer a burocracia estatal, para aumentar o feixe de regulamentos que atravancam a vida prática, para empobrecer quem trabalha e para criar uma casta gigantesca de parasitas, que cresce velozmente no Brasil. FHC é o responsável direto por isso e creio que a história cobrará dele a sua responsabilidade ética por essa desgraça que se abateu sobre a Nação. Sem esquecer que a inércia desse processo alargou-se com o PT no poder: FHC é o pai espiritual de Lula e o maior cabo eleitoral dos petistas.
Terá sido isso aumento da democracia? Penso que não, é a sua própria negação, sua corrupção. As práticas políticas desde que FHC assumiu o poder podem ser consideradas as piores desde quando o Brasil se formou como Nação.
E FHC tem total clareza disso, embora não verbalize as conseqüências morais de duas decisões de governo. Quando ele fala de Gramsci, por exemplo, é mais do que professoral, ele é conclusivo. "Gramsci tinha uma idéia específica: para ele, era o Moderno Príncipe, o Partido, quem seria o regenerador dos valores, e ele via esse processo também como manipulação. O partido deveria tomar conta, apropriar-se da cultura. Gramsci teve a perspectiva de perceber, no panorama do mundo marxista, socialista, comunista de então, que não bastava pensar em infra-estrutura e superestrutura... Por isso Gramsci teve tanta importância". Eu entendo que o maior agente da revolução gramsciana que o Brasil conheceu é FHC em pessoa.
Mas quem é o Partido? É uma pergunta que se impõe. Para ele, não é o PT: "Mais tarde o PT tentou ser gramsciano, mas não deu o segundo passo, que poderia ser o mais revolucionário. Ou seja, não renunciou à concepção de que o Estado é que vai mudar a sociedade... Ficaram com o domínio (provisório) do Estado e nada significativo mudaram na sociedade".
Vê-se que FHC acha que é o seu próprio partido o Partido aludido por Gramsci. E aqui cabe uma reflexão. Se FHC realmente acha que o PT é um partido leninista à moda antiga, revolucionário, porque não lutou para que ele não chegasse ao poder? Terá percebido a contradição do que disse? Será que o Brasil não corre o risco de ver o PT se perpetuar no poder, seja lá por que via for? Será mesmo que o PT está provisório no comando do Estado? Eu temo que não. Esse ponto aqui também será cobrado pela história a FHC. Durante todo o processo político ele teve a clareza teórica e factual dos riscos que o país corria e teve os meios para não ver a bacia derramar e nada fez. Acabou por ser ele o grande eleitor de Lula e dos seus asseclas para o poder central.
Essa não é uma simples questão teórica, ela transcende, é existencial. Não dá para minimizar a responsabilidade pessoal de FHC, menos ainda os desdobramentos históricos que estão por vir. O drama é ler a entrevista e ficar sabendo que, em nenhum momento, FHC se iludiu com o processo. Acabou sendo uma confissão de que terá sido cúmplice se os revolucionários leninistas forem bem sucedidos no Brasil.
FHC está muito certo quando afirma: "Penso que no Brasil simplesmente não existe um pensamento propriamente conservador. Não existe. Nem na política há quem se defina como conservador, o que é uma coisa muito estranha".
Ora, essa é a constatação que ele fez de que a vitória de Gramsci por aqui foi completa. Toda a disputa política passou a se dar entre "mais" esquerda e "menos" esquerda, uma perfeita farsa eleitoral. A liberdade política que restou aos brasileiros é escolher entre o representante do PT e do PSDB, partidos que empunham a bandeira do socialismo. O sociólogo, todavia, passa ao largo de formular uma explicação teórica para o fenômeno, embora registre sua estranheza.
Ele revela uma coisa curiosa na entrevista, de que ele próprio compõe um grupo criado por Nelson Mandela, chamado The Elders, uma espécie de gerontocracia socialista operando em escala mundial. Vale uma visita no site, é toda a agenda socialista e globalista que lá está. Realmente, esse fato é coerente com a sua biografia.
FHC finaliza com revelações pessoais, fala da morte de Dona Ruth, de um surpreendente e insuspeito catolicismo na sua formação, da morte, do sentido das coisas. São reflexões existenciais profundas, que mostram um homem idoso, poderoso, diante do inescapável da vida.
Não fosse por outra coisa, e apenas por isso, a entrevista é sensacional e de leitura obrigatória para quem observa o panorama político e intelectual brasileiro. Remeto você, caro leitor, ao conteúdo dessas impressões pessoais, que não cabe a mim comentar.
Voto Vingança
Voto Vingança
Silvane Saboia
Eu sei um dos motivos do Lula ganhar
tantos votos no nordeste.
Não é uma simples questão de ignorância do povo,
eles não ignoram a lama deste governo,
nem criança consegue ignorar.
É a estupidez da vingança de classe,
a pobre contra a média e alta.
Tenho conversado com balconistas, frentistas,
garçons, trabalhadores simples do povo.
Eles dizem em alto e bom som:
Eu quero que o Lula ganhe!
Melhor ele roubando que os outros!
E olham nos meus olhos e falam:
Vocês estão com raiva porque vão perder.
Eles acham que a eleição é uma luta
entre o pobre e o rico.
E até eu entendo isso.
O Senhor Lula simboliza o roubo dos pobres
contra os ricos, como se ele fosse um Robin Wood nordestino,
mesmo que ele esteja rico o povo não liga mais.
É a vingança social.
Uma mágoa guardada e acariciada por
eles durante anos.
O ódio por aquele que passa num carro bonito
pelo que está esmagado num ônibus e fica vendo
as diferenças nas ruas.
Eles não conseguem ver o problema como um
todo e caem na conversa maldosa do PT.
A bolsa- família saída de migalhas do bolso do PT
realizou os sonhos medíocres de muita gente.
E o governo usa-a do afirmando que esta regalia
terminará se o Lula perder a eleição.
Eles ainda votam como se fosse um jogo de futebol.
Se o time que vai "ganhar" é com o Lula ,
então votaremos no Lula!
Pelo menos em algo nós ganharemos.
A ignorância cega os estimula a votar no mais certo a
vitória como se fosse uma mera brincadeira.
Fico eu aqui a pensar o que fazer.
Estamos num vendaval de mentiras e fantasias.
Máscaras usadas pelo governo para ludibriar o povo.
Sinto por morar no Ceará aonde estas mentiras são aceitas.
Esta massa frágil de pensamentos e idéias
sucumbiu ao famigerado governo Lula.
Antes eu me compadecia deste povo, o achava
totalmente alienado ao que acontece.
Agora nem tanto.
Vejo uma espécie de alegria reinando no olhar
desta gente humilde, um olhar de satisfação
diante da corrupção contra o Brasil.
Durante anos os políticos engordaram a pobreza,
para colher os frutos de sua revolta.
Estes mesmos políticos que deveriam ter feito tanto,
só deixaram de legado a vingança.
Muito conveniente para eles.
Li em algum lugar que política é um jogo em
que o governo faz uso do dinheiro dos ricos, promete
muito aos pobres pra colocar uns contra o outros.
Acordei cansada.
O Brasil precisa de uma renovação total.
Não verei isso acontecer.
Não verei a justiça nascer.
Não sentirei a pobreza diminuir.
Hoje o governo colhe frutos da pobreza.
Fruto que fará este governo de lama continuar.
Sim, o Nordeste talvez eleja o Lula outra vez.
O Sr. Lula ganhará por simples ignorância e
vingança deste povo que aqui mora.
Faltarão sempre escolas, faltará educação,
e o milagre do despertar para a verdade.
É óbvio que este governo nunca dará.
Continuará engordando cada vez mais este povo
humilde e alienado, para felicidade deles.
Sinto nojo e tristeza de tudo isso.
O Nordeste precisa mais de tudo, de estudo,
dignidade, comida, para que as mentes mudem
e possam avaliar com justiça e sabedoria o que existe.
Isto demorará a acontecer.
O governo continuará a sustentar com ilusões
a pobreza, pois é de lá que eles se sustentam.
Estes votos ignorantes os ajudam a continuar
no poder, fazendo estripulias e roubos.
E o nordeste dormente consente.
O Governo nunca deixará a boa comida
e vida melhor para eles, pois temem mentes saudáveis
e nutridas, pois poderão pensar com sabedoria.
Só me resta rezar.
E pedir que alguém mágico apareça e mude tudo isso.
Uma mágica como faço nas minhas montagens.
Uma mágica grande!
Um idealista, um homem justo e corajoso.
Que some a tantos outros.
Que o milagre aconteça.
Fecho os olhos... Cansada
Silvane Saboia
Eu sei um dos motivos do Lula ganhar
tantos votos no nordeste.
Não é uma simples questão de ignorância do povo,
eles não ignoram a lama deste governo,
nem criança consegue ignorar.
É a estupidez da vingança de classe,
a pobre contra a média e alta.
Tenho conversado com balconistas, frentistas,
garçons, trabalhadores simples do povo.
Eles dizem em alto e bom som:
Eu quero que o Lula ganhe!
Melhor ele roubando que os outros!
E olham nos meus olhos e falam:
Vocês estão com raiva porque vão perder.
Eles acham que a eleição é uma luta
entre o pobre e o rico.
E até eu entendo isso.
O Senhor Lula simboliza o roubo dos pobres
contra os ricos, como se ele fosse um Robin Wood nordestino,
mesmo que ele esteja rico o povo não liga mais.
É a vingança social.
Uma mágoa guardada e acariciada por
eles durante anos.
O ódio por aquele que passa num carro bonito
pelo que está esmagado num ônibus e fica vendo
as diferenças nas ruas.
Eles não conseguem ver o problema como um
todo e caem na conversa maldosa do PT.
A bolsa- família saída de migalhas do bolso do PT
realizou os sonhos medíocres de muita gente.
E o governo usa-a do afirmando que esta regalia
terminará se o Lula perder a eleição.
Eles ainda votam como se fosse um jogo de futebol.
Se o time que vai "ganhar" é com o Lula ,
então votaremos no Lula!
Pelo menos em algo nós ganharemos.
A ignorância cega os estimula a votar no mais certo a
vitória como se fosse uma mera brincadeira.
Fico eu aqui a pensar o que fazer.
Estamos num vendaval de mentiras e fantasias.
Máscaras usadas pelo governo para ludibriar o povo.
Sinto por morar no Ceará aonde estas mentiras são aceitas.
Esta massa frágil de pensamentos e idéias
sucumbiu ao famigerado governo Lula.
Antes eu me compadecia deste povo, o achava
totalmente alienado ao que acontece.
Agora nem tanto.
Vejo uma espécie de alegria reinando no olhar
desta gente humilde, um olhar de satisfação
diante da corrupção contra o Brasil.
Durante anos os políticos engordaram a pobreza,
para colher os frutos de sua revolta.
Estes mesmos políticos que deveriam ter feito tanto,
só deixaram de legado a vingança.
Muito conveniente para eles.
Li em algum lugar que política é um jogo em
que o governo faz uso do dinheiro dos ricos, promete
muito aos pobres pra colocar uns contra o outros.
Acordei cansada.
O Brasil precisa de uma renovação total.
Não verei isso acontecer.
Não verei a justiça nascer.
Não sentirei a pobreza diminuir.
Hoje o governo colhe frutos da pobreza.
Fruto que fará este governo de lama continuar.
Sim, o Nordeste talvez eleja o Lula outra vez.
O Sr. Lula ganhará por simples ignorância e
vingança deste povo que aqui mora.
Faltarão sempre escolas, faltará educação,
e o milagre do despertar para a verdade.
É óbvio que este governo nunca dará.
Continuará engordando cada vez mais este povo
humilde e alienado, para felicidade deles.
Sinto nojo e tristeza de tudo isso.
O Nordeste precisa mais de tudo, de estudo,
dignidade, comida, para que as mentes mudem
e possam avaliar com justiça e sabedoria o que existe.
Isto demorará a acontecer.
O governo continuará a sustentar com ilusões
a pobreza, pois é de lá que eles se sustentam.
Estes votos ignorantes os ajudam a continuar
no poder, fazendo estripulias e roubos.
E o nordeste dormente consente.
O Governo nunca deixará a boa comida
e vida melhor para eles, pois temem mentes saudáveis
e nutridas, pois poderão pensar com sabedoria.
Só me resta rezar.
E pedir que alguém mágico apareça e mude tudo isso.
Uma mágica como faço nas minhas montagens.
Uma mágica grande!
Um idealista, um homem justo e corajoso.
Que some a tantos outros.
Que o milagre aconteça.
Fecho os olhos... Cansada
O fantástico Plano de Saúde Vitalício dos senadores
O fantástico Plano de Saúde Vitalício dos senadores
Eugênia Lopes e Rosa Costa
Basta passar seis meses como Senador para ter garantido, sem nada mais pagar, um plano de saúde familiar vitalício que consome por ano R$ 17 milhões.
O pior é que com um plano de saúde desses e a despreocupação com a vida, tornam os senadores, como esse aí, quase imortais, não morrem nunca, se perpetuam no planeta, causando despesas eternas aos cofres públicos
Esse é o melhor plano de Saúde familiar do mundo, um custo benefício sem precedentes: uma cobertura total, desde o começo, sem preocupações com doenças preexistentes, sem limites de idade e nenhum custo, para o resto da vida, que se alonga pelas facilidades com o atendimento médico e custa ainda mais ao contribuinte.
A matéria de Eugênia Lopes e Rosa Costa no Estadão de hoje, põe a descoberto mais um exagerado beneficio que o senhores senadores e senadoras se autopremiaram a pesar nas costas de todos os brasileiros:
Os 310 ex-senadores e seus familiares pensionistas custam pelo menos R$ 9 milhões por ano, cerca de R$ 32 mil por parlamentar aposentado. Detalhe: para se tornar um ex-senador e ter direito a usar pelo resto da vida o sistema de saúde bancado pelos cofres públicos é preciso ocupar o cargo por apenas seis meses. Antes de 1995, a mordomia era ainda maior: bastava ter ficado na suplência por apenas um dia.
No total, os 81 senadores da ativa e os 310 ex-senadores e seus pensionistas usufruem de um sistema privilegiado de saúde que consome cerca de R$ 17 milhões por ano. Os parlamentares da ativa e seus familiares não têm limite de despesas com saúde: em 2008, gastaram cerca de R$ 7 milhões - R$ 80 mil por senador.
No ano passado, os gastos globais do Senado com saúde para parlamentares e servidores foram de R$ 70 milhões. O Senado não divulga, no entanto, o valor dessas despesas apenas com senadores. O diretor-geral, Alexandre Gazineo, alega que precisa de "tempo" para obter esses dados.
O Estado apurou que, em 2008, o Senado gastou cerca de R$ 53 milhões com a saúde de 18 mil servidores efetivos e comissionados, entre ativos e inativos. Ao contrário dos senadores, que não descontam um tostão para ter todas as despesas de saúde pagas, os servidores em atividade e inativos têm descontados, em média, R$ 260 por mês. O custo de cada servidor ao ano é de cerca de R$ 3 mil.
E não precisam nem trabalhar: O senador Mão Santa preside a sessão para ninguém. A foto é de uma sexta-feira, 24 de abril de 2009 - 13h03, horário de sessão. As sexta-feiras não há mais senadores em Brasília, chegam na terça e abandonam o senado e Brasília na quinta a noite, no mais tardar, a esta altura já estão em casa, ou em Nova Iorque , Miami, Paris, Londres... (Foto: Antonio Cruz/Abr)
Para este ano, a previsão feita no Orçamento estabeleceu R$ 61 milhões para arcar com a saúde dos senadores e servidores. Na quinta-feira, o Senado anunciou contingenciamento de R$ 25 milhões nas despesas médicas e odontológicas. Ou seja: o orçamento de 2009 deverá ficar em R$ 36 milhões. A área técnica do Senado está convicta de que o corte recairá integralmente sobre a saúde dos servidores. Os senadores continuarão com as despesas ilimitadas.
Técnicos começaram a fazer estudo para compensar o corte no orçamento deste ano no plano de saúde dos servidores. Uma das hipóteses é aumentar a contribuição dos funcionários. Atualmente, existem 262 servidores e funcionários comissionados em tratamento de câncer à custa do Senado. Diante do anúncio de contingenciamento, 18 famílias procuraram a direção do Senado nas últimas 24 horas para saber se serão atingidas com o corte de gastos.
O pagamento das despesas médicas de senadores, ex-senadores e dependentes é regulamentado pelo Ato nº 9, de 8 de junho de 1995. A norma prevê que o Senado arca com todas as despesas dos senadores, sem limites. Estabelece até o pagamento de cirurgias e tratamento médico no exterior. Tudo tem de ser autorizado pela Mesa Diretora, que raramente nega o pedido de gastos médicos.
O limite de R$ 32 mil de gastos anuais para ex-senadores, aliás, é frequentemente ignorado. É o caso, por exemplo, do ex-senador Reginaldo Duarte (PSDB-CE) - ele recebeu R$ 45.029,02 de ressarcimento em gastos médicos, em fevereiro deste ano.
Só o senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL), (fotos) já colocou no plano de saúde vitalício familiar do senado, seus dois primos: o primeiro suplente, senador Euclydes Affonso de Mello Neto (PTB-AL) e a segunda suplente Ada Mercedes de Mello Marques Luz (PTB-AL), que assumem alternativamente nas ausências do primo ilustre. Euclydes já está garantido, Ada precisa de mais alguns meses de suplência, mas vai chegar lá, podem ter certeza.
Além dos senadores e ex-senadores, a regalia de atendimento médico vitalício também é estendida aos servidores que ocuparem o cargo de diretor-geral e secretário-geral da Mesa. Essa mordomia, criada em 2000, beneficia hoje Agaciel Maia, que deixou o cargo em março por não ter registrado em seu nome a casa onde mora, avaliada em R$ 5 milhões. Outro favorecido é Raimundo Carreiro, hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
Esse mesmo senado aprovou, por emenda constitucional, os funcionários públicos já em gozo de aposentadoria a passarem a contribuir com 11% de taxa previdenciária. Quem mandou não ser senador?
Eugênia Lopes e Rosa Costa
Basta passar seis meses como Senador para ter garantido, sem nada mais pagar, um plano de saúde familiar vitalício que consome por ano R$ 17 milhões.
O pior é que com um plano de saúde desses e a despreocupação com a vida, tornam os senadores, como esse aí, quase imortais, não morrem nunca, se perpetuam no planeta, causando despesas eternas aos cofres públicos
Esse é o melhor plano de Saúde familiar do mundo, um custo benefício sem precedentes: uma cobertura total, desde o começo, sem preocupações com doenças preexistentes, sem limites de idade e nenhum custo, para o resto da vida, que se alonga pelas facilidades com o atendimento médico e custa ainda mais ao contribuinte.
A matéria de Eugênia Lopes e Rosa Costa no Estadão de hoje, põe a descoberto mais um exagerado beneficio que o senhores senadores e senadoras se autopremiaram a pesar nas costas de todos os brasileiros:
Os 310 ex-senadores e seus familiares pensionistas custam pelo menos R$ 9 milhões por ano, cerca de R$ 32 mil por parlamentar aposentado. Detalhe: para se tornar um ex-senador e ter direito a usar pelo resto da vida o sistema de saúde bancado pelos cofres públicos é preciso ocupar o cargo por apenas seis meses. Antes de 1995, a mordomia era ainda maior: bastava ter ficado na suplência por apenas um dia.
No total, os 81 senadores da ativa e os 310 ex-senadores e seus pensionistas usufruem de um sistema privilegiado de saúde que consome cerca de R$ 17 milhões por ano. Os parlamentares da ativa e seus familiares não têm limite de despesas com saúde: em 2008, gastaram cerca de R$ 7 milhões - R$ 80 mil por senador.
No ano passado, os gastos globais do Senado com saúde para parlamentares e servidores foram de R$ 70 milhões. O Senado não divulga, no entanto, o valor dessas despesas apenas com senadores. O diretor-geral, Alexandre Gazineo, alega que precisa de "tempo" para obter esses dados.
O Estado apurou que, em 2008, o Senado gastou cerca de R$ 53 milhões com a saúde de 18 mil servidores efetivos e comissionados, entre ativos e inativos. Ao contrário dos senadores, que não descontam um tostão para ter todas as despesas de saúde pagas, os servidores em atividade e inativos têm descontados, em média, R$ 260 por mês. O custo de cada servidor ao ano é de cerca de R$ 3 mil.
E não precisam nem trabalhar: O senador Mão Santa preside a sessão para ninguém. A foto é de uma sexta-feira, 24 de abril de 2009 - 13h03, horário de sessão. As sexta-feiras não há mais senadores em Brasília, chegam na terça e abandonam o senado e Brasília na quinta a noite, no mais tardar, a esta altura já estão em casa, ou em Nova Iorque , Miami, Paris, Londres... (Foto: Antonio Cruz/Abr)
Para este ano, a previsão feita no Orçamento estabeleceu R$ 61 milhões para arcar com a saúde dos senadores e servidores. Na quinta-feira, o Senado anunciou contingenciamento de R$ 25 milhões nas despesas médicas e odontológicas. Ou seja: o orçamento de 2009 deverá ficar em R$ 36 milhões. A área técnica do Senado está convicta de que o corte recairá integralmente sobre a saúde dos servidores. Os senadores continuarão com as despesas ilimitadas.
Técnicos começaram a fazer estudo para compensar o corte no orçamento deste ano no plano de saúde dos servidores. Uma das hipóteses é aumentar a contribuição dos funcionários. Atualmente, existem 262 servidores e funcionários comissionados em tratamento de câncer à custa do Senado. Diante do anúncio de contingenciamento, 18 famílias procuraram a direção do Senado nas últimas 24 horas para saber se serão atingidas com o corte de gastos.
O pagamento das despesas médicas de senadores, ex-senadores e dependentes é regulamentado pelo Ato nº 9, de 8 de junho de 1995. A norma prevê que o Senado arca com todas as despesas dos senadores, sem limites. Estabelece até o pagamento de cirurgias e tratamento médico no exterior. Tudo tem de ser autorizado pela Mesa Diretora, que raramente nega o pedido de gastos médicos.
O limite de R$ 32 mil de gastos anuais para ex-senadores, aliás, é frequentemente ignorado. É o caso, por exemplo, do ex-senador Reginaldo Duarte (PSDB-CE) - ele recebeu R$ 45.029,02 de ressarcimento em gastos médicos, em fevereiro deste ano.
Só o senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL), (fotos) já colocou no plano de saúde vitalício familiar do senado, seus dois primos: o primeiro suplente, senador Euclydes Affonso de Mello Neto (PTB-AL) e a segunda suplente Ada Mercedes de Mello Marques Luz (PTB-AL), que assumem alternativamente nas ausências do primo ilustre. Euclydes já está garantido, Ada precisa de mais alguns meses de suplência, mas vai chegar lá, podem ter certeza.
Além dos senadores e ex-senadores, a regalia de atendimento médico vitalício também é estendida aos servidores que ocuparem o cargo de diretor-geral e secretário-geral da Mesa. Essa mordomia, criada em 2000, beneficia hoje Agaciel Maia, que deixou o cargo em março por não ter registrado em seu nome a casa onde mora, avaliada em R$ 5 milhões. Outro favorecido é Raimundo Carreiro, hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
Esse mesmo senado aprovou, por emenda constitucional, os funcionários públicos já em gozo de aposentadoria a passarem a contribuir com 11% de taxa previdenciária. Quem mandou não ser senador?
"Batatices" do lullarápio.
Lula discursou ontem na abertura do 9º Congresso Nacional de Iniciação Científica, na FMU, em São Paulo. Todos já sabemos que “nunca antes na história destepaiz” — expressão que agora tem a versão internacionalmente consagrada pela revista The Economist:“Never before in the history of this country” — houve um presidente como ele. Todos já sabemos que a história do Brasil começou no dia 1º de janeiro de 2003. Antes, o país era aquele misto de Vale de Lágrimas com a Caverna dos Ladrões de que falava o PT. Aí tivemos o advento, e o país nasceu. Do nada. Antes de Lula, eram as trevas (ooops!), o caos primitivo, a desordem… Aí ele surgiu e disse: “Fiat lux” (lux?), e o país passou a existir. E, vocês sabem, sem ladrões… Disso tudo, nós já sabíamos.
Nesta sexta, ele resolveu acrescentar ineditismos à sua biografia. Ao discursar, afirmou:
“Pela primeira vez na história do País, um presidente da República vai torcer para o outro dar certo. Lamentavelmente, a prática histórica desse País é quem perde torcer para outro cair em desgraça. Eu, quando deixar a Presidência, vou ser o primeiro presidente a torcer e rezar todo santo dia para quem me suceder fazer muito mais coisas do que eu, o dobro, o triplo.”
Com a devida vênia, trata-se de um discurso politicamente vigarista.
..........................................................................
Dilma, já sabemos, será vendida apenas como a nova cara de Lula. O que o PT promete é um governo de continuidade, um terceiro mandato— e, assim, não há algo como “fazer mais ou fazer menos”. Trata-se de um conjunto. E não seria Lula, obviamente, caso faça a sua sucessora, a anunciar: “Essa Dilma aí não é de nada!” Essa história de fazer o dobro, de fazer o triplo, é desafio que ele lança ao adversário. Agora pensem: Lula, de tal sorte mitifica e mistifica seu governo que não é possível haver quem faça mais do que ele. A razão é simples e óbvia: seria necessário alguém que dissesse mais inverdades do que ele, que mistificasse mais do que ele, que vendesse castelos de ar mais do que ele. E NÃO EXISTE ESSA PESSOA.
AFINAL, NÃO HÁ QUEM POSSA COMPETIR COM A IMAGINAÇÃO MEGALÔMANA E AUTOCENTRADA DE LULA.
Megalômana e autocentrada? Todos sabem o que penso de Barack Obama. Acho que ele é sintoma, sim, do declínio dos EUA — e isso nada tem a ver com a cor de sua pele. Seu discurso, sempre entendi e escrevi aqui muitas vezes, simbolizava e simboliza uma espécie de mergulho dos EUA no utopismo cascateiro do Terceiro Mundo. Só não creio, à diferença de muitos, que aquele país não possa se levantar. Acho que vai. Mas é evidente, o que também já escrevi, que a eleição de Obama é expressão importante de um valor da democracia: a igualdade. Dada a história dos EUA, a eleição de um negro é uma conquista não só de Obama, mas da sociedade americana.
E como Lula vê Obama? Ora, do modo como vê qualquer outra coisa: cotejando-o com… Lula! Leiam outra pérola dita ontem: “Os Estados Unidos acham que são o País das oportunidades. Somos mais que eles. Agora eles têm um presidente negro, mas nunca um torneiro mecânico chegou à Presidência lá.“
Dizer o quê? Tolice, vulgaridade, frivolidade. Para começo de conversa, quando foi eleito, Lula não era mais torneiro-mecânico havia quase 30 anos. Tornou-se dirigente sindical e depois político profissional — vivendo do que a política profissional lhe pagava. Além da ajuda do supercompadre Roberto Teixeira. Antes de Francisco de Oliveira, este escriba pespegou na elite sindical a definição de “nova classe social” — no meu caso, até a batizei: “burguesia do capital alheio”. Lula não foi o primeiro ex-pobre que o Brasil elegeu. Nem mesmo chega a ser, infelizmente, o presidente mais ignorante da nossa história.
......................................................................................
Lula resolveu arrostar, anteontem, até com a Terra, o planeta mesmo. Atribuiu alguns dos problemas decorrentes da poluição ao fato de ela ser redonda. “Se fosse quadrada…”, conjecturou… Suas ambições já se voltam para o Sistema Solar. E tudo, no fundo, porque, contrariando as aparências, Lula não consegue gostar de si mesmo. Não é preciso ser muito bidu para intuir que ele queria mesmo era ser FHC. E só por isso tenta eliminar o outro da história do Brasil.
Lula cita Freud — o Sigmund, não o Godoy — para falar das “intempéries” e pensa: “Se o mundo fosse quadrado…”
sexta-feira, 13 de novembro de 2009 | 5:03
Aí o Tio Rei escreve que Lula imita o humorista Barthô, e alguns acusam: “Preconceituoso!” Pois é. Em nenhuma daquelas entrevistas, o Lula da imitação foi tão longe quando o de verdade na solenidade de ontem em que o governo anunciou queda no desmatamento da Amazônia. Infelizmente, o filme, do Jornal da Globo, ainda não está no YouTube. Um de vocês poderia providenciar isso (aqui). Transcrevo trechos abaixo.
Sei lá se a água fez mal para o presidente, se alguma entidade da floresta acabou encarnando no homem, dada a sua, como é mesmo?, ligação visceral com o país, mas o fato é que, numa solenidade sobre meio ambiente, ele desandou a falar coisas estranhas — sei, leitor, ainda “mais estranhas”…
Referindo-se às forças da natureza e à nossa incapacidade para controlá-las — estava tentando justificar o apagão? —, mandou ver, literalmente: “Eu já disse várias vezes: Freud dizia que tinha algumas coisas que a humanidade não controlaria. Uma dela era as intempéries”.
Não, leitor, não adianta dizer que o único Freud que Lula domina é mesmo o Godoy, aquele do dossiê dos aloprados. O dito pai da psicanálise escreveu, com efeito, que a força incontrolável da natureza era um dos fatores da infelicidade humana. É claro que não estava pensando nos terríveis ventos e raios de Itaberá…
Se Lula começar a ler Freud — ou melhor, se ele começar a ler qualquer coisa —, pedirei asilo. Imaginem se ele tivesse a periculosidade moral dos “intelectuais” petistas com o seu poder real…
Freud para explicar o apagão? Vá lá… Mas quando Lula resolveu explicar por que a poluição não seria tão terrível se o mundo fosse quadrado, aí o bicho pegou. Leiam:
“Então, essa questão do clima é delicada por quê? Porque o mundo é redondo.
Se o mundo fosse quadrado ou retangular, e a gente soubesse que o nosso território está a 14 mil quilômetros de distância dos centros mais poluidores, ótimo, vai ficar só lá.
Mas, como o mundo gira, e a gente também passa lá embaixo onde está mais poluído (?????????????), a responsabilidade é de todos”.
Num intindi nada qui êli falô…
Aí perguntam: “Mas como aqueles radialistas de Angola e Moçambique não sacaram que o Lula que dava entrevista era um humorista?” Eu é que pergunto a vocês: “Como é que os coitados poderiam saber?”
Pois é né?
Vcs pensam que a dilmimha-bang-bang é diferente? Leiam e concluam...
DILMA DIZ QUE PODE HAVER NOVOS APAGÕES, MAS PARECE QUE A CULPA É NOSSA! ELA ESTÁ BRAVA COM A GENTE?
sexta-feira, 13 de novembro de 2009 | 5:07
Eu, hein, Rosa… Pareceu premonição, hehe. E olhem que não acredito nessas coisas. Como um católico que se preze, sou aborrecidamente racionalista. Na terça-feira à tarde, antes do apagão da Dilma, escrevi aqui um texto sobre a ex-ministra e candidata do PT à Presidência. E mandei ver: “Estou dizendo que Dilma vai perder a eleição? Eu não! Estou dizendo, aí sim, que esta tia nervosa, que dá bafão em todo mundo, que faz política como quem puxa briga, não ganha. A marquetagem vai ter de voltar à prancheta. Até agora, os magos não conseguiram uma forma de mandar a verdadeira Dilma para a clandestinidade para disputar a eleição com uma Dilma falsa.” A íntegra do texto está aqui.
Pois bem… Na noite de terça, veio o apagão, e Dilma apagou junto, deu chá de sumiço, escafedeu-se. A coisa ficou toda atrapalhada. Edison Lobão ficou aparvalhado. E culpou os ventos e os raios. Durante 20 horas, o governo tentou achar uma desculpa melhor. E acabou culpando os… raios e os ventos. Franklin Martins, o ministro da Verdade, foi a campo e decretou silêncio. Assim como ele negava, quando era jornalista, que o mensalão tivesse existido (continua a negar, é claro), também afirmou uma nova inexistência: a do apagão. Mas Dilma continuava sumida. E urgia que falasse. E ela apareceu. Para dizer que o país não está livre de novos apagões.
Ela foi indagada por uma jornalista sobre uma afirmação de 2008, segundo a qual o país estaria livre de apagões. Escandindo sílabas, cujo ritmo marcava com a mão, fazendo aquela argola quando o polegar opositor se encontra com o indicador, deu bronca em todo mundo, mas especialmente naquela que lhe fizera a pergunta. Transcrevo trechos:
“Você está confundindo duas coisas, minha filha. Você está falando de black out. Ninguém pode prometer que um sistema… Nós trabalhamos com um sistema de milhares de quilômetros de rede… Interrupções desse sistema, ninguém promete que não vai ter. O que nós prometemos é que não terá nesse país mais racionamento. Racionamento é barbeiragem. Por que é que é barbeiragem (…) Eu lamento muito o que aconteceu com os consumidores. Aconteceu nas cidades. Acho que, de fato, é muito desagradável. Agora, dizer pra mim… É tentar fazer deliberadamente confusão onde não tem e tentar apresentar o país com uma fragilidade que não existe (…) Eu acho que o ministro Lobão, ele foi sintético: “Olha, eu divulguei O QUAL era a razão, não tenho mai nada a acrescentar (…). Para o governo, esse episódio está encerrado”.
A fala da ministra é assim mesmo, cheia de anacolutos. Também já escrevi aqui que uma coisa certamente vai piorar no Palácio do Planalto se ela for eleita: a língua portuguesa. Dilma a espanca com gosto. Avento a possibilidade de que ela possa trabalhar mais ou menos como pensa. E é por isso que as coisas vão ficando descoordenadas. O apagão do país pode ser metáfora —- ou até conseqüência — de seu apagão sintático.
O que impressiona é a arrogância. Está na cara — inclusive na cara furiosa de Dilma — que o governo não tem a menor noção do que aconteceu. Técnicos da área já descartaram que tenha sido conseqüência de um raio. Houve curto em Itaberá? Cadê as provas? Este é um curto que não deixa marcas, não deixa seqüelas? A interligação das linhas, suponho, tem um grau razoável de informatização. Esse sistema não gera um miserável relatório? Sabe por que Dilma veio a público hoje? E justamente para afirmar que o país não está livre de novos apagões — que ela prefere chamar “black out”? Porque, não sabendo o que originou a ocorrência de terça, nada impede que aconteça de novo.
Como se nota, Dilma acha que criticar o governo pelo ocorrido é fazer exploração política — coisa que, sabem vocês, os petistas deploram, não é?
Nesta sexta, ele resolveu acrescentar ineditismos à sua biografia. Ao discursar, afirmou:
“Pela primeira vez na história do País, um presidente da República vai torcer para o outro dar certo. Lamentavelmente, a prática histórica desse País é quem perde torcer para outro cair em desgraça. Eu, quando deixar a Presidência, vou ser o primeiro presidente a torcer e rezar todo santo dia para quem me suceder fazer muito mais coisas do que eu, o dobro, o triplo.”
Com a devida vênia, trata-se de um discurso politicamente vigarista.
..........................................................................
Dilma, já sabemos, será vendida apenas como a nova cara de Lula. O que o PT promete é um governo de continuidade, um terceiro mandato— e, assim, não há algo como “fazer mais ou fazer menos”. Trata-se de um conjunto. E não seria Lula, obviamente, caso faça a sua sucessora, a anunciar: “Essa Dilma aí não é de nada!” Essa história de fazer o dobro, de fazer o triplo, é desafio que ele lança ao adversário. Agora pensem: Lula, de tal sorte mitifica e mistifica seu governo que não é possível haver quem faça mais do que ele. A razão é simples e óbvia: seria necessário alguém que dissesse mais inverdades do que ele, que mistificasse mais do que ele, que vendesse castelos de ar mais do que ele. E NÃO EXISTE ESSA PESSOA.
AFINAL, NÃO HÁ QUEM POSSA COMPETIR COM A IMAGINAÇÃO MEGALÔMANA E AUTOCENTRADA DE LULA.
Megalômana e autocentrada? Todos sabem o que penso de Barack Obama. Acho que ele é sintoma, sim, do declínio dos EUA — e isso nada tem a ver com a cor de sua pele. Seu discurso, sempre entendi e escrevi aqui muitas vezes, simbolizava e simboliza uma espécie de mergulho dos EUA no utopismo cascateiro do Terceiro Mundo. Só não creio, à diferença de muitos, que aquele país não possa se levantar. Acho que vai. Mas é evidente, o que também já escrevi, que a eleição de Obama é expressão importante de um valor da democracia: a igualdade. Dada a história dos EUA, a eleição de um negro é uma conquista não só de Obama, mas da sociedade americana.
E como Lula vê Obama? Ora, do modo como vê qualquer outra coisa: cotejando-o com… Lula! Leiam outra pérola dita ontem: “Os Estados Unidos acham que são o País das oportunidades. Somos mais que eles. Agora eles têm um presidente negro, mas nunca um torneiro mecânico chegou à Presidência lá.“
Dizer o quê? Tolice, vulgaridade, frivolidade. Para começo de conversa, quando foi eleito, Lula não era mais torneiro-mecânico havia quase 30 anos. Tornou-se dirigente sindical e depois político profissional — vivendo do que a política profissional lhe pagava. Além da ajuda do supercompadre Roberto Teixeira. Antes de Francisco de Oliveira, este escriba pespegou na elite sindical a definição de “nova classe social” — no meu caso, até a batizei: “burguesia do capital alheio”. Lula não foi o primeiro ex-pobre que o Brasil elegeu. Nem mesmo chega a ser, infelizmente, o presidente mais ignorante da nossa história.
......................................................................................
Lula resolveu arrostar, anteontem, até com a Terra, o planeta mesmo. Atribuiu alguns dos problemas decorrentes da poluição ao fato de ela ser redonda. “Se fosse quadrada…”, conjecturou… Suas ambições já se voltam para o Sistema Solar. E tudo, no fundo, porque, contrariando as aparências, Lula não consegue gostar de si mesmo. Não é preciso ser muito bidu para intuir que ele queria mesmo era ser FHC. E só por isso tenta eliminar o outro da história do Brasil.
Lula cita Freud — o Sigmund, não o Godoy — para falar das “intempéries” e pensa: “Se o mundo fosse quadrado…”
sexta-feira, 13 de novembro de 2009 | 5:03
Aí o Tio Rei escreve que Lula imita o humorista Barthô, e alguns acusam: “Preconceituoso!” Pois é. Em nenhuma daquelas entrevistas, o Lula da imitação foi tão longe quando o de verdade na solenidade de ontem em que o governo anunciou queda no desmatamento da Amazônia. Infelizmente, o filme, do Jornal da Globo, ainda não está no YouTube. Um de vocês poderia providenciar isso (aqui). Transcrevo trechos abaixo.
Sei lá se a água fez mal para o presidente, se alguma entidade da floresta acabou encarnando no homem, dada a sua, como é mesmo?, ligação visceral com o país, mas o fato é que, numa solenidade sobre meio ambiente, ele desandou a falar coisas estranhas — sei, leitor, ainda “mais estranhas”…
Referindo-se às forças da natureza e à nossa incapacidade para controlá-las — estava tentando justificar o apagão? —, mandou ver, literalmente: “Eu já disse várias vezes: Freud dizia que tinha algumas coisas que a humanidade não controlaria. Uma dela era as intempéries”.
Não, leitor, não adianta dizer que o único Freud que Lula domina é mesmo o Godoy, aquele do dossiê dos aloprados. O dito pai da psicanálise escreveu, com efeito, que a força incontrolável da natureza era um dos fatores da infelicidade humana. É claro que não estava pensando nos terríveis ventos e raios de Itaberá…
Se Lula começar a ler Freud — ou melhor, se ele começar a ler qualquer coisa —, pedirei asilo. Imaginem se ele tivesse a periculosidade moral dos “intelectuais” petistas com o seu poder real…
Freud para explicar o apagão? Vá lá… Mas quando Lula resolveu explicar por que a poluição não seria tão terrível se o mundo fosse quadrado, aí o bicho pegou. Leiam:
“Então, essa questão do clima é delicada por quê? Porque o mundo é redondo.
Se o mundo fosse quadrado ou retangular, e a gente soubesse que o nosso território está a 14 mil quilômetros de distância dos centros mais poluidores, ótimo, vai ficar só lá.
Mas, como o mundo gira, e a gente também passa lá embaixo onde está mais poluído (?????????????), a responsabilidade é de todos”.
Num intindi nada qui êli falô…
Aí perguntam: “Mas como aqueles radialistas de Angola e Moçambique não sacaram que o Lula que dava entrevista era um humorista?” Eu é que pergunto a vocês: “Como é que os coitados poderiam saber?”
Pois é né?
Vcs pensam que a dilmimha-bang-bang é diferente? Leiam e concluam...
DILMA DIZ QUE PODE HAVER NOVOS APAGÕES, MAS PARECE QUE A CULPA É NOSSA! ELA ESTÁ BRAVA COM A GENTE?
sexta-feira, 13 de novembro de 2009 | 5:07
Eu, hein, Rosa… Pareceu premonição, hehe. E olhem que não acredito nessas coisas. Como um católico que se preze, sou aborrecidamente racionalista. Na terça-feira à tarde, antes do apagão da Dilma, escrevi aqui um texto sobre a ex-ministra e candidata do PT à Presidência. E mandei ver: “Estou dizendo que Dilma vai perder a eleição? Eu não! Estou dizendo, aí sim, que esta tia nervosa, que dá bafão em todo mundo, que faz política como quem puxa briga, não ganha. A marquetagem vai ter de voltar à prancheta. Até agora, os magos não conseguiram uma forma de mandar a verdadeira Dilma para a clandestinidade para disputar a eleição com uma Dilma falsa.” A íntegra do texto está aqui.
Pois bem… Na noite de terça, veio o apagão, e Dilma apagou junto, deu chá de sumiço, escafedeu-se. A coisa ficou toda atrapalhada. Edison Lobão ficou aparvalhado. E culpou os ventos e os raios. Durante 20 horas, o governo tentou achar uma desculpa melhor. E acabou culpando os… raios e os ventos. Franklin Martins, o ministro da Verdade, foi a campo e decretou silêncio. Assim como ele negava, quando era jornalista, que o mensalão tivesse existido (continua a negar, é claro), também afirmou uma nova inexistência: a do apagão. Mas Dilma continuava sumida. E urgia que falasse. E ela apareceu. Para dizer que o país não está livre de novos apagões.
Ela foi indagada por uma jornalista sobre uma afirmação de 2008, segundo a qual o país estaria livre de apagões. Escandindo sílabas, cujo ritmo marcava com a mão, fazendo aquela argola quando o polegar opositor se encontra com o indicador, deu bronca em todo mundo, mas especialmente naquela que lhe fizera a pergunta. Transcrevo trechos:
“Você está confundindo duas coisas, minha filha. Você está falando de black out. Ninguém pode prometer que um sistema… Nós trabalhamos com um sistema de milhares de quilômetros de rede… Interrupções desse sistema, ninguém promete que não vai ter. O que nós prometemos é que não terá nesse país mais racionamento. Racionamento é barbeiragem. Por que é que é barbeiragem (…) Eu lamento muito o que aconteceu com os consumidores. Aconteceu nas cidades. Acho que, de fato, é muito desagradável. Agora, dizer pra mim… É tentar fazer deliberadamente confusão onde não tem e tentar apresentar o país com uma fragilidade que não existe (…) Eu acho que o ministro Lobão, ele foi sintético: “Olha, eu divulguei O QUAL era a razão, não tenho mai nada a acrescentar (…). Para o governo, esse episódio está encerrado”.
A fala da ministra é assim mesmo, cheia de anacolutos. Também já escrevi aqui que uma coisa certamente vai piorar no Palácio do Planalto se ela for eleita: a língua portuguesa. Dilma a espanca com gosto. Avento a possibilidade de que ela possa trabalhar mais ou menos como pensa. E é por isso que as coisas vão ficando descoordenadas. O apagão do país pode ser metáfora —- ou até conseqüência — de seu apagão sintático.
O que impressiona é a arrogância. Está na cara — inclusive na cara furiosa de Dilma — que o governo não tem a menor noção do que aconteceu. Técnicos da área já descartaram que tenha sido conseqüência de um raio. Houve curto em Itaberá? Cadê as provas? Este é um curto que não deixa marcas, não deixa seqüelas? A interligação das linhas, suponho, tem um grau razoável de informatização. Esse sistema não gera um miserável relatório? Sabe por que Dilma veio a público hoje? E justamente para afirmar que o país não está livre de novos apagões — que ela prefere chamar “black out”? Porque, não sabendo o que originou a ocorrência de terça, nada impede que aconteça de novo.
Como se nota, Dilma acha que criticar o governo pelo ocorrido é fazer exploração política — coisa que, sabem vocês, os petistas deploram, não é?
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terrorista Dilma Roussef PT Farcs
Mulher de Gilmar Mendes se aposenta e vai trabalhar para Daniel Dantas
Deu na Folha de S. Paulo
Mônica Bergamo - 27/10/2009
VIDA NOVA
Depois de 32 anos de serviço público, Guiomar Feitosa Mendes, mulher de Gilmar Mendes, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), está se aposentando. Guiomar, que está há 23 anos no STF (Gilmar virou ministro há apenas sete anos) e já trabalhou com os ministros Marco Aurélio Mello e Carlos Ayres Britto, no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), será agora gestora da área jurídica do escritório do advogado Sergio Bermudes, do Rio.
*****
Mônica Bergamo, porém, esqueceu um "pequeno" detalhe, diligentemente notado por Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada.
Mulher de Gilmar vai trabalhar com advogado de Dantas. É a Grande Família !
A 'colonista' Mônica Bergamo informa na Folha de hoje que a mulher de Gilmar Dantas vai trabalhar como “gestora na área jurídica (?) do escritório do advogado Sergio Bermudes, do Rio.”
A 'colonista' Mônica Bergamo é excepcionalmente diligente e bem informada, até certo ponto. Por exemplo. Tão bem informada, ela se esquece de informar que Sergio Bermudes é um dos notáveis advogados dos 1001 advogados da milícia judicial de Daniel Dantas. Ou seja, a mulher do juiz que, deu em 48hs, dois HCs a Daniel Dantas vai trabalhar com o advogado de Dantas.
Viva o Brasil !
Paulo Henrique Amorim
Mônica Bergamo - 27/10/2009
VIDA NOVA
Depois de 32 anos de serviço público, Guiomar Feitosa Mendes, mulher de Gilmar Mendes, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), está se aposentando. Guiomar, que está há 23 anos no STF (Gilmar virou ministro há apenas sete anos) e já trabalhou com os ministros Marco Aurélio Mello e Carlos Ayres Britto, no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), será agora gestora da área jurídica do escritório do advogado Sergio Bermudes, do Rio.
*****
Mônica Bergamo, porém, esqueceu um "pequeno" detalhe, diligentemente notado por Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada.
Mulher de Gilmar vai trabalhar com advogado de Dantas. É a Grande Família !
A 'colonista' Mônica Bergamo informa na Folha de hoje que a mulher de Gilmar Dantas vai trabalhar como “gestora na área jurídica (?) do escritório do advogado Sergio Bermudes, do Rio.”
A 'colonista' Mônica Bergamo é excepcionalmente diligente e bem informada, até certo ponto. Por exemplo. Tão bem informada, ela se esquece de informar que Sergio Bermudes é um dos notáveis advogados dos 1001 advogados da milícia judicial de Daniel Dantas. Ou seja, a mulher do juiz que, deu em 48hs, dois HCs a Daniel Dantas vai trabalhar com o advogado de Dantas.
Viva o Brasil !
Paulo Henrique Amorim
VEJAM que terroristas lindos!
VEJAM que Lindo!
É com o meu, o seu, o nosso dinheiro, oriundo de exorbitantes impostos que esses CANALHAS, SAFADOS, GAZETEIROS são pagos.
Em vez de estarem trabalhando em prol do País, estão se divertindo defendendo esse criminoso.
País de ..., digo,.Políticos de MERDA !!!
Um grupo de deputados e senadores visitou nesta terça (17) na prisão, em Brasília, o ex-ativista italiano Cesare Battisti. Entre os parlamentares estavam os senadores José Nery (PSOL-PA) e Eduardo Suplicy (PT-SP) e os deputados Chico Alencar (PSOL-RJ) e Ivan Valente (PSOL-SP). O Supremo retoma nesta quarta o julgamento de extradição do italiano. Battisti foi condenado na Itália por quatro assassinatos ocorridos na década de 70. Ele sempre negou envolvimento com os crimes. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
É com o meu, o seu, o nosso dinheiro, oriundo de exorbitantes impostos que esses CANALHAS, SAFADOS, GAZETEIROS são pagos.
Em vez de estarem trabalhando em prol do País, estão se divertindo defendendo esse criminoso.
País de ..., digo,.Políticos de MERDA !!!
Um grupo de deputados e senadores visitou nesta terça (17) na prisão, em Brasília, o ex-ativista italiano Cesare Battisti. Entre os parlamentares estavam os senadores José Nery (PSOL-PA) e Eduardo Suplicy (PT-SP) e os deputados Chico Alencar (PSOL-RJ) e Ivan Valente (PSOL-SP). O Supremo retoma nesta quarta o julgamento de extradição do italiano. Battisti foi condenado na Itália por quatro assassinatos ocorridos na década de 70. Ele sempre negou envolvimento com os crimes. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
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Pátria-Mãe! Portugal!
“Pátria-Mãe!”
“Quando, triste e envergonhado, leio a mentira divulgada em textos revisionistas e marxistas... quando, feliz e orgulhoso, associo-me às comemorações da data magna de Portuga1l, ainda que dela nenhuma referência tenha encontrado na imprensa brasileira, brado com emoção...”
...Obrigado, Portugal, Pátria-Mãe do meu Brasil!
Obrigado porque teus descobridores partiram da ocidental praia lusitana e, por mares nunca d’antes navegados, foram bem além do Bojador, além da dor, e descobriram para o mundo a terra onde eu nasci.
Obrigado por teres batizado esta parte do Novo Mundo de Terra de Santa Cruz, e que se fez conhecida como Brasil. Nas velas enfunadas da esquadra de Pedro Álvares Cabral, teus navegadores, a cruz e a espada lado a lado, revelaram-nos e marcaram-nos para sempre com a Cruz da Ordem de Cristo. E, de imediato, mandou o Descobridor celebrar missa em louvor a Nosso Senhor Jesus Cristo, fazendo do Brasil a Nação cristã da qual e do que todos nos orgulhamos. Obrigado pelo cristianismo!
Obrigado pela última flor do Lácio, inculta e bela! Porque tu, Portugal, nos colonizaste, herdamos o idioma que Luiz Vaz de Camões e Fernando Pessoa imortalizaram. Obrigado, pois que, assim, permitiste que na tua língua latina se imortalizassem Machado de Assis, Castro Alves, Olavo Bilac, Rui Barbosa, Gustavo Barroso e outros patrícios que bem a esgrimiram. Graças ao teu Português, ao nosso Português, os cento e noventa milhões de brasileiros se expressam e se entendem, emprestando unidade exemplar à Nação. É por meio do idioma de nossos antepassados luso-brasileiros que se entendem o caboclo da Amazônia e o capoeirista da Bahia, o jangadeiro nordestino e o empresário paulista, o gaúcho dos pampas e o seringueiro do Acre, o sambista carioca e o boiadeiro do pantanal, o seresteiro das Minas Gerais e o índio de todas as tribos. Obrigado pelo idioma que nos une e nos faz Nação!
Obrigado pelo território que nos legaste! Obrigado pela audácia, bravura, coragem, empreendedorismo e despojamento dos teus e dos nossos bandeirantes e entradistas que ousaram transpor Tordesilhas. Povoados e vilas, rios e campos, riquezas e ciência, tudo legaram em função da obra desbravadora que tanto enriquece nossa História. Pelas mãos daqueles bravos e dos homens do litoral a Pátria foi sendo desbravada, demarcada e construída. Obrigado pelo território, magistralmente defendido por teus diplomatas, cuja obra tornou-se imortal nos teus tratados com Espanha, entre os quais sobressai o de Madrid. Obrigado pela terra que nos legaste.
Obrigado por esta mesma terra que para nós demarcaste e defendeste, semeando marcos, padrões e fortificações. Aí estão os fortes e fortalezas das Baías de Guanabara e de Todos os Santos. Aí estão as fortificações em todo o litoral, como, por exemplo, as do Recife, de Natal e Belém. Aí estão, sobretudo, provas da obstinação e da capacidade de teus engenheiros em Príncipe da Beira e em Coimbra. Obrigado, pois, pela riqueza histórica e cultural que, por meio tuas obras defensivas, tu nos presenteaste.
Obrigado pela coragem e bravura, pelo espírito combativo e destemido com que tu, Portugal, lideraste lusos e brasileiros nas lutas contra o invasor francês, no Rio de Janeiro e no Maranhão. Assim também nos combates contra o ousado invasor holandês, na Bahia, em Pernambuco e em outras praias do Nordeste. Da mesma forma, com determinação, comandaste os teus e os nossos nas pelejas contra os ingleses na calha amazônica.
Obrigado pela integridade do patrimônio territorial, afirmada e confirmada pela transmigração de tua Corte para o Rio de Janeiro, o que fez do monarca português o único rei europeu a visitar e a viver no Novo Mundo. Não fora a sábia e oportuna decisão tomada pelo Príncipe Regente, quem sabe como teríamos nosso País, quase metade da América do Sul, do qual desfrutamos em pleno Século XXI? Obrigado pelo legado da permanência da Corte no Brasil, de que são exemplos o Jardim Botânico e a Academia Militar das Agulhas Negras, o Banco do Brasil e o Arquivo Histórico do Exército, a Justiça Militar, a Polícia Militar do Rio de Janeiro e o Corpo de Fuzileiros Navais, exemplos lembrados a esmo entre tantos outros que bem poderiam ter sido recordados. Obrigado pela integridade do território.
Obrigado pela independência, proclamada pelo teu Pedro IV, que, em momento de magnífica lucidez e de amor ao Brasil, D. João VI deixou-nos como Príncipe Regente. Fizemo-nos independentes de ti, mas o sangue lusitano organizou o Império do Brasil e nos governou até a Regência. Não se pode esquecer que, também nas veias e artérias do brasileiro D. Pedro II corria o sangue de Portugal, filho de teu Rei D. Pedro IV. Obrigado pela voz que bradou “Independência ou Morte!”.
Obrigado pelo verde e pelo amarelo, nossas cores nacionais desde o Império e que perpetuaram, em nosso pavilhão, as cores das dinastias de Bragança e dos Habsburgos. Nelas, hoje e no mundo inteiro, encontramos nossa identidade e por elas somos prontamente reconhecidos. São cores que fazem bater mais forte o coração do brasileiro. Elas estão em nossos quartéis, belonaves, aeronaves, edifícios públicos, estádios, legações e trajes desportivos. Obrigado aos da Casa de Bragança e aos da Casa dos Habsburgos por nossas cores nacionais.
Obrigado pelo jeito brasileiro de ser, tão marcado pela miscigenação adotada e praticada pelo colonizador. Porque os teus se miscigenaram, não somos racistas. Ao contrário, abominamos os que nos querem fazer ver e pensar de outra forma. Não fossem os teus e não teríamos as decantadas mulatas que tanto nos orgulham e que encantam platéias quando evoluem ao som de samba e do frevo, do maracatu e do boi bumbá.
Obrigado pelo legado artístico que hoje exibimos em nossas igrejas. São, os próprios templos, admiráveis obras de arte, com seus riquíssimos acervos em imagens, objetos de ouro e prata, pinturas e esculturas. Obrigado pelo que nos ensinaste e deixaste em arte sacra.
Obrigado pelo que nos ofereceste quando comemoramos, em 1972, o sesquicentenário de nossa independência. Deste-nos o corpo do próprio D. Pedro I, hoje guardado em venerável repouso no Monumento do Ipiranga, às margens do mesmo riacho no qual proclamou-nos Nação livre e soberana. Obrigado por deixá-lo repousar em terras brasílicas.
Obrigado pelos costumes, valores e tradições que nos fazem parte inconfundível da civilização ocidental. À tua predominante cultura somaram-se contribuições italianas e indígenas, espanholas e africanas, finlandesas e alemãs, japonesas e coreanas, holandesas e russas, todas artífices da cultura brasileira, perfeitamente integrada e identificada à do Ocidente. Obrigado por nos ter aberto as portas do Ocidente cristão.
Obrigado por tudo, Portugal! Obrigado, Pátria-Mãe!
General-de-Exército Paulo Cesar de Castro
“Quando, triste e envergonhado, leio a mentira divulgada em textos revisionistas e marxistas... quando, feliz e orgulhoso, associo-me às comemorações da data magna de Portuga1l, ainda que dela nenhuma referência tenha encontrado na imprensa brasileira, brado com emoção...”
...Obrigado, Portugal, Pátria-Mãe do meu Brasil!
Obrigado porque teus descobridores partiram da ocidental praia lusitana e, por mares nunca d’antes navegados, foram bem além do Bojador, além da dor, e descobriram para o mundo a terra onde eu nasci.
Obrigado por teres batizado esta parte do Novo Mundo de Terra de Santa Cruz, e que se fez conhecida como Brasil. Nas velas enfunadas da esquadra de Pedro Álvares Cabral, teus navegadores, a cruz e a espada lado a lado, revelaram-nos e marcaram-nos para sempre com a Cruz da Ordem de Cristo. E, de imediato, mandou o Descobridor celebrar missa em louvor a Nosso Senhor Jesus Cristo, fazendo do Brasil a Nação cristã da qual e do que todos nos orgulhamos. Obrigado pelo cristianismo!
Obrigado pela última flor do Lácio, inculta e bela! Porque tu, Portugal, nos colonizaste, herdamos o idioma que Luiz Vaz de Camões e Fernando Pessoa imortalizaram. Obrigado, pois que, assim, permitiste que na tua língua latina se imortalizassem Machado de Assis, Castro Alves, Olavo Bilac, Rui Barbosa, Gustavo Barroso e outros patrícios que bem a esgrimiram. Graças ao teu Português, ao nosso Português, os cento e noventa milhões de brasileiros se expressam e se entendem, emprestando unidade exemplar à Nação. É por meio do idioma de nossos antepassados luso-brasileiros que se entendem o caboclo da Amazônia e o capoeirista da Bahia, o jangadeiro nordestino e o empresário paulista, o gaúcho dos pampas e o seringueiro do Acre, o sambista carioca e o boiadeiro do pantanal, o seresteiro das Minas Gerais e o índio de todas as tribos. Obrigado pelo idioma que nos une e nos faz Nação!
Obrigado pelo território que nos legaste! Obrigado pela audácia, bravura, coragem, empreendedorismo e despojamento dos teus e dos nossos bandeirantes e entradistas que ousaram transpor Tordesilhas. Povoados e vilas, rios e campos, riquezas e ciência, tudo legaram em função da obra desbravadora que tanto enriquece nossa História. Pelas mãos daqueles bravos e dos homens do litoral a Pátria foi sendo desbravada, demarcada e construída. Obrigado pelo território, magistralmente defendido por teus diplomatas, cuja obra tornou-se imortal nos teus tratados com Espanha, entre os quais sobressai o de Madrid. Obrigado pela terra que nos legaste.
Obrigado por esta mesma terra que para nós demarcaste e defendeste, semeando marcos, padrões e fortificações. Aí estão os fortes e fortalezas das Baías de Guanabara e de Todos os Santos. Aí estão as fortificações em todo o litoral, como, por exemplo, as do Recife, de Natal e Belém. Aí estão, sobretudo, provas da obstinação e da capacidade de teus engenheiros em Príncipe da Beira e em Coimbra. Obrigado, pois, pela riqueza histórica e cultural que, por meio tuas obras defensivas, tu nos presenteaste.
Obrigado pela coragem e bravura, pelo espírito combativo e destemido com que tu, Portugal, lideraste lusos e brasileiros nas lutas contra o invasor francês, no Rio de Janeiro e no Maranhão. Assim também nos combates contra o ousado invasor holandês, na Bahia, em Pernambuco e em outras praias do Nordeste. Da mesma forma, com determinação, comandaste os teus e os nossos nas pelejas contra os ingleses na calha amazônica.
Obrigado pela integridade do patrimônio territorial, afirmada e confirmada pela transmigração de tua Corte para o Rio de Janeiro, o que fez do monarca português o único rei europeu a visitar e a viver no Novo Mundo. Não fora a sábia e oportuna decisão tomada pelo Príncipe Regente, quem sabe como teríamos nosso País, quase metade da América do Sul, do qual desfrutamos em pleno Século XXI? Obrigado pelo legado da permanência da Corte no Brasil, de que são exemplos o Jardim Botânico e a Academia Militar das Agulhas Negras, o Banco do Brasil e o Arquivo Histórico do Exército, a Justiça Militar, a Polícia Militar do Rio de Janeiro e o Corpo de Fuzileiros Navais, exemplos lembrados a esmo entre tantos outros que bem poderiam ter sido recordados. Obrigado pela integridade do território.
Obrigado pela independência, proclamada pelo teu Pedro IV, que, em momento de magnífica lucidez e de amor ao Brasil, D. João VI deixou-nos como Príncipe Regente. Fizemo-nos independentes de ti, mas o sangue lusitano organizou o Império do Brasil e nos governou até a Regência. Não se pode esquecer que, também nas veias e artérias do brasileiro D. Pedro II corria o sangue de Portugal, filho de teu Rei D. Pedro IV. Obrigado pela voz que bradou “Independência ou Morte!”.
Obrigado pelo verde e pelo amarelo, nossas cores nacionais desde o Império e que perpetuaram, em nosso pavilhão, as cores das dinastias de Bragança e dos Habsburgos. Nelas, hoje e no mundo inteiro, encontramos nossa identidade e por elas somos prontamente reconhecidos. São cores que fazem bater mais forte o coração do brasileiro. Elas estão em nossos quartéis, belonaves, aeronaves, edifícios públicos, estádios, legações e trajes desportivos. Obrigado aos da Casa de Bragança e aos da Casa dos Habsburgos por nossas cores nacionais.
Obrigado pelo jeito brasileiro de ser, tão marcado pela miscigenação adotada e praticada pelo colonizador. Porque os teus se miscigenaram, não somos racistas. Ao contrário, abominamos os que nos querem fazer ver e pensar de outra forma. Não fossem os teus e não teríamos as decantadas mulatas que tanto nos orgulham e que encantam platéias quando evoluem ao som de samba e do frevo, do maracatu e do boi bumbá.
Obrigado pelo legado artístico que hoje exibimos em nossas igrejas. São, os próprios templos, admiráveis obras de arte, com seus riquíssimos acervos em imagens, objetos de ouro e prata, pinturas e esculturas. Obrigado pelo que nos ensinaste e deixaste em arte sacra.
Obrigado pelo que nos ofereceste quando comemoramos, em 1972, o sesquicentenário de nossa independência. Deste-nos o corpo do próprio D. Pedro I, hoje guardado em venerável repouso no Monumento do Ipiranga, às margens do mesmo riacho no qual proclamou-nos Nação livre e soberana. Obrigado por deixá-lo repousar em terras brasílicas.
Obrigado pelos costumes, valores e tradições que nos fazem parte inconfundível da civilização ocidental. À tua predominante cultura somaram-se contribuições italianas e indígenas, espanholas e africanas, finlandesas e alemãs, japonesas e coreanas, holandesas e russas, todas artífices da cultura brasileira, perfeitamente integrada e identificada à do Ocidente. Obrigado por nos ter aberto as portas do Ocidente cristão.
Obrigado por tudo, Portugal! Obrigado, Pátria-Mãe!
General-de-Exército Paulo Cesar de Castro
O FILME DE LULA, O FILHO DO MAL
O FILME DE LULA, O FILHO DO MAL
por Ipojuca Pontes
“O cinema está no ramo da prostituição” – Ingmar Bergman
Numa noite de junho de 2005, Zé Dirceu, então chefe da Casa Civil do governo petista, considerado pelo procurador-geral da República como o chefe da “Quadrilha Organizada” operante no Planalto, reuniu-se em ambiente domiciliar, no Rio de Janeiro, com representantes da “classe artística”, entre eles o lobista Luiz Carlos Barreto, o ariete-mor do cinema caboclo.
A tropa de choque do cinema, como sempre à cata de privilégios e regulamentações coercitivas, queria, com urgência, maior volume de verbas públicas para tocar a cornucópia da fortuna. O clima era de tensa expectativa.
Depois da choradeira de praxe, o chefe da Casa Civil - logo depois varrido do cargo por força das denúncias do deputado Roberto Jefferson - arregaçou as mangas e encarou friamente a platéia ansiosa. Só então, dedo em riste, foi incisivo na sua convocação para fazer do cinema um ativo instrumento da propaganda oficial.
Disse ele: “Organizem-se e cheguem a nós”.
O ex-guerrilheiro (sem guerrilha) não precisava chegar a tanto, afinal todos ali presentes não tinham outra intenção senão servir ao governo Lula, mas LC Barreto, cobra criada nos pântanos pouco ortodoxos de “O Cruzeiro” do “Dr. Assis”, captou a mensagem. E logo após o interregno de alguns filmes sem o menor apelo, “matou no peito” a produção cinematográfica que ele, rápido no gatilho, transformou num “negócio de ouro”: “Lula – o filho do Brasil”, melodrama adaptado da “biografia autorizada” de Denise Paraná (assessora política de Lula na campanha contra Collor, em 1989), publicada pela Fundação Perseu Abramo, organismo criado pelo PT para dar suporte ideológico (marxista) aos “companheiros de luta” e lavar a cabeça dos “inocentes úteis” em âmbito universitário – está implícito, também com apoio das generosas verbas públicas.
Como por milagre, aos 80 anos, o lobista Barreto tinha em mãos, para abrir os cofres bilionários da Ambev, Odebrechet, Embraer e das grandes empresas nacionais, todas dependentes da boa e má vontade de Lula, a chave-mágica da “comovente história de um menino miserável do Nordeste que chegou à presidência da República” (depois de passar, já se vê, pela escola matreira do sindicalismo vermelho).
A primeira tarefa de LC Barreto ao levantar o esquema foi anunciar o orçamento daquele que se diz ser o “mais caro filme brasileiro de todos os tempos”. Numa conta de chegar sempre elástica - sobretudo quando se trata de levar à tela a vida de presidente de um “Estado forte”, em pleno gozo das funções -, de início a produção de Barreto foi orçada em R$ 12 milhões, em seguida revista para R$ 16 milhões, e logo depois elevada para R$ 17 milhões e R$ 18 milhões – sendo muito provável que “Lula, o filho do Brasil”, quando do seu lançamento no ano eleitoral de 2010, ultrapasse a casa dos 30 milhões de reais, pois, como o lobista gosta de afirmar, é um “sujeito que pensa grande”. (De fato, com o dinheiro que já arrastou dos cofres públicos para fazer cinema, desde os tempos da Embrafilme dos militares, desconfio que o lobista, se quisesse, poderia construir não sei quantos palácios da Alvorada, embora tenha “pipocado” na hora de comprar o espólio da estatal do cinema).
Um articulista de “O Globo”, Zuenir Ventura, comunista light sempre a serviço da patotagem cinemanovista, escreveu que o melodrama de Barreto, em fase de acabamento, “mexe com a emoção e vai encharcar o cinema de lágrimas”. Sobre isto, tenho poucas dúvidas: o apelo emocional do relato de mãe e filhos menores sobrevivendo em meio à miséria, se tratado com o mínimo de talento, sempre rende um bom caldo. (Sem esquecer que o infatigável Barreto, se quiser, ainda pode avançar com apetite de hiena em cima do “tíquete cultural” recentemente anunciado pelo Minc, outra prodigalidade fiscal criada pelo governo, capaz de atrair para o seu “negócio de ouro” filas de milhões de lacrimejantes).
No entanto, devo ponderar ao leitor que, por si só, o fato de Lula ter sido retirante não explica sua ascensão política: uma coisa é o Luiz Inácio criança sacolejando num pau-de-arara ou comendo o pão que o diabo amassou como engraxate nas ruas de Santos, e outra, bem outra, é o Lula sindicalista, figura disponível enfronhada até os ossos na catequese comunista das “eclesiais de base” do Frei Betto, Casaldáliga e D. Cláudio Hummes, ou o Lula ventríloquo emprenhado pela gororoba da pseudociência dos bem-remunerados marxistas da USP - uma gente na sua totalidade fanatizada pelo materialismo dialético, todos eles egressos de movimentos comunistas derrotados durante décadas pela vontade do povo brasileiro e dos milicos.
Sim, há um aspecto fundamental neste caldo biográfico que o “negócio de ouro” de Barreto na certa não irá distinguir, isto é: que o filho de Dona Lindu, o rapazote angustiado pela fome e pela incompreensão do mundo, nada tem a ver com o pivete que tomou o dinheiro do patrão para fazer hora extra e depois, sem trabalhar, mandou o patrão “tomar no cu”; ou com o operário ignorante, mas maleável que, conduzido por mãos comunistas, freqüentou cursilhos (na Alemanha Oriental, entre outras plagas) especializados no fomento ao ódio de classe; nem muito menos com o companheiro escolado, feito líder sindical com o apoio maquiavélico do General Golbery (mentor do contragolpe de 1964), a encher a cara de cachaça e tomar a grana de Murilo Macedo, o ministro do Trabalho da ditadura militar.
No prefácio do livro de Denise Paraná, o uspiano “utópico” Antonio Cândido (no parecer preciso de Oswald de Andrade, um “chato-boy”), citando outro comunista, o antropólogo Oscar Lewis, tenta explicar a existência de Lula-filho-de-D. Lindu e do Lula-agente-do-PT como uma transição natural da “cultura da pobreza” para a “cultura da transformação”, cuja síntese histórica será o advento do comunismo (“a sociedade na qual a distribuição dos bens seja pelo menos tão importante quanto a sua produção”, diz ele).
Conversa mole, trololó de acadêmico (fanático) para inocular o virus revolucionário na cabeça dos trouxas! Como qualquer observador pode vir a concluir, Lula e o PT (encarado como uma “quadrilha organizada” pelo que resta da efetiva consciência nacional) são produtos diretos do arreglo histórico, ainda hoje prevalecente no Foro de São Paulo, entre os intelectuais comunistas da USP, religiosos apóstatas da Teologia da Libertação e esquerdistas radicais envolvidos com o terror rural e urbano.
[Se o leitor quer detalhes, foi justamente um desses integrantes da elite intelectual comunista, remanescente da antiga “Esquerda Democrática” (PSB), o abastado Mário Pedrosa (trotskista histórico), que, interpretando a vontade dos pares, escreveu em 1978 a negligenciada “Carta a um operário”, convocando o sindicalista do ABC a urgir forças para fundar o Partido dos Trabalhadores, necessário, segundo ele, à materialização do “socialismo democrático”. Na verdade, não poderia ser de outro modo: esfacelada nos distintos campos de batalha, inclusive no da luta armada, restava à “inteligentsia” cabocla criar um preposto convincente para chegar ao poder e socializar o País].
Bem, em parte graças à permissiva “teoria da descompressão” de Golbery, quase trinta anos são passados desde a fundação do PT, e aqui estamos todos na ante-sala (melhor seria dizer, saloon) do reino fantasiado por Marx, Lenin, Gramsci, Mao e Fidel Castro. Nele, Lula, o filho “espiritual” de Betto, Candido, Pedrosa, Buarque e Carvalho (entre outros) labora, sem medir recursos, para destruir por dentro a “democracia burguesa”.
Neste período, o filho acalentado dos quatro Cavaleiros do Apocalipse (os componentes do arreglo acima enumerados e mais o poderoso exército da mídia comprometida com o feitiço revolucionário), feito presidente, tornou-se um animal político da mais baixa categoria, capaz de tudo e mais alguma coisa no propósito de criar “um outro mundo possível”.
Basta conferir: com Lula no poder o Brasil tornou-se, de forma premeditada, um dos países mais corruptos do mundo, onde a população se deixa escravizar seis meses ao ano para, entre outras mazelas, financiar o incontrolável aparelhamento da máquina pública, a bilionária propaganda enganosa, os “movimentos sociais” criminosos, as incontáveis Ongs parasitárias, o fausto palaciano, os partidos políticos de aluguel, programas sociais fraudulentos, etc., para não falar no enriquecimento súbito e milionário de amigos e familiares – tudo a funcionar com a precisão de um cronômetro suíço, como de resto recomenda a boa prática do “socialismo democrático”.
Como conseqüência desta escalada para “a construção de uma sociedade mais justa e solidária”, que se esmera no cultivo da moral revolucionária, cujo objetivo é solapar os alicerces da cultura ocidental e da ética cristã (não matar, não mentir, não roubar...), a nação se agiganta num convívio de irmão siamês com o narcotráfico, o tráfico de armas, os escândalos diários e os incessantes assaltos aos cofres públicos - tudo no reboque de um judiciário politizado e de um aparato policial, salvo hiato, contaminado pela moralidade criminosa dos Donos do Poder.
Pois bem: é neste clima de diluição moral e de completa mistificação ideológica, no qual o cidadão indefeso precisa ser logrado a todo custo, que vai ser lançado em 2010, ano das eleições presidenciais, “Lula – o filho do Brasil”, o “negócio de ouro” de Barreto, uma indisfarçável peça de propaganda a serviço do culto à personalidade.
Quem dúvida?
A construção de um mito
O filme Lula, o Filho do Brasil faz parte de um projeto de endeusamento
do presidente, o que, às vésperas de uma eleição, entra na categoria
de propaganda política. Lula tem uma bela história de vida, foi um líder
sindical de resultados e é um presidente da República eficiente e amado, mas ele só tem a perder se se deixar transformar em mito vivo
Diego Escosteguy e Otávio Cabral – Revista Veja – 24 Nov 09
Clovis Cranchi/F4
NA VIDA REAL
Lula foi um líder sindical carismático e pragmático que se encaixou à perfeição no projeto de distensão política do regime militar por ser da esquerda não marxista, não alinhada com o movimento comunista internacional e, por isso, tolerada
Almeida Rocha/Folha Imagem
NA FICÇÃO
O sindicalista Lula vira na tela um Gandhi magnânimo, infalível e incorruptível cuja bondade e sabedoria se combinam com uma visão de futuro privativa dos profetas
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• Quadro: Realidade e ficção
• Quadro: Quem se enquadra?
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Luiz Inácio Lula da Silva, o mais improvável dos presidentes brasileiros, já entrou na história antes de sair da vida. Lula, o filho do sertão pernambucano que comia feijão com farinha sob o árido sol de Garanhuns antes de se tornar engraxate nas ruas do Sul Maravilha, venceu. Dos sapatos chegou à fábrica de parafusos; do torno saltou para a avenida larga, longa e generosa da vida sindical, que o conduziu ao Partido dos Trabalhadores e à Presidência da República. Instalado no poder, Lula amargou escândalos, viu a dissolução ética de seu partido, observou de mãos atadas uma recessão econômica de quase dois anos que por pouco não paralisou seu governo. Mas, como não há males que durem, os escândalos foram varridos para debaixo do tapete e a recessão inicial cedeu, abrindo caminho para o crescimento econômico e a consequente onda de boa vontade com os governantes que ele traz. Com sua genuína devoção aos mais pobres e um carisma fenomenal, Lula chega às portas do seu último ano de governo com 80% de aprovação. A vida de Lula, como se vê, parece coisa de filme.
Lula, o Filho do Brasil, a cinebiografia que estreará nos cinemas no começo do próximo ano, é o primeiro filme de ficção sobre a vida do presidente. A LC Barreto, responsável pelo projeto, enviará 500 cópias ao circuito comercial – o maior lançamento da história do cinema brasileiro. As centrais sindicais, como a CUT e a Força Sindical, planejam projetar a fita para espectadores das áreas mais pobres do país. Os trabalhadores sindicalizados poderão comprar ingressos subsidiados a 5 reais. As estimativas mais conservadoras indicam que, somente nas salas comerciais, 5 milhões de pessoas assistirão ao longa. É pouco diante do que se seguirá. O DVD do filme será lançado no dia 1º de maio, feriado do trabalhador. Em seguida, a Rede Globo levará a fita ao ar, editada como uma minissérie. Ao final, se essa ambiciosa estratégia de distribuição funcionar, Luiz Inácio, o homem que fez história, dará um salto rumo a Luiz Inácio, o mito. Esse mito paira acima do bem e do mal, mas estará dizendo o que é certo e o que é errado na campanha eleitoral de 2010. Por fazer parte de um projeto de beatificação do personagem com vista a servir de propaganda eleitoral disfarçada de entretenimento na próxima campanha, Lula, o Filho do Brasil parece coisa de marqueteiro.
Antes mesmo de ser lançado em rede comercial, o filme está agitando os bastidores da política. Assessores envolvidos na campanha presidencial de Dilma Rousseff, a candidata escolhida pelo governo para suceder Lula, veem na película um poderoso instrumento eleitoral, capaz de fazer diferença na luta petista para se manter no poder. O otimismo não é gratuito. Os estrategistas do Planalto receberam pesquisas que demonstram a capacidade de transferência de votos do presidente Lula. Ou seja, se Lula mantiver a popularidade em alta, Dilma será largamente beneficiada. A população faz uma ótima avaliação de Lula e se dispõe a votar em um candidato que mantenha os principais programas do petista. Lula é o maior cabo eleitoral do país. Quase 20% dos eleitores votam em seu candidato, independentemente de quem seja (veja o quadro). A grande dificuldade de Lula é que boa parte do eleitorado não conhece Dilma nem a associa ao presidente. Por isso ela segue a léguas de distância de José Serra, do PSDB, o líder das pesquisas. Para reverter esse quadro, Lula conta com o crescimento da economia, que pode atingir até 5% do PIB em 2010, e a consequente perspectiva de que os eleitores sigam sua orientação e votem em quem ele indicar. O filme é visto como um fator estimulante nesse processo de transferência.
Celso Junior/AE
AVANT-PREMIÈRE
A primeira-dama Marisa Letícia e as atrizes do filme: o lançamento em Brasília foi disputado, mas os aplausos do público foram apenas discretos
Na terça-feira da semana passada, VEJA esteve na primeira exibição pública do filme, que abriu o tradicional Festival de Cinema de Brasília. Numa demonstração da comoção que o longa deve causar, teve gente, de político a porteiro, que implorava por convite na frente do Teatro Nacional, onde aconteceu a projeção. Havia cerca de 1 400 pessoas no teatro, entre ministros, deputados, senadores, sindicalistas, burocratas do governo e jornalistas. Marisa Letícia, a primeira-dama, compareceu ao evento e foi assediada como celebridade. Havia gente em cadeiras improvisadas, gente nas escadas, gente no chão. Lula, o Filho do Brasil é uma novela com duas horas de duração. Em matéria de lágrimas, funciona. Em matéria de apuro estético, constrange. Como obra de arte, portanto, é uma irretocável peça de propaganda. Não poderia ser diferente: é um projeto concebido exatamente com esse propósito. Dirigido por Fábio Barreto, o filme inspira-se na biografia homônima – e oficial – do presidente, escrita pela jornalista Denise Paraná e editada pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.
Se como cinema o filme é fraco, como propaganda e negócio tem tudo para dar certo. O apelo emocional da obra pode agradar ao público que chorou com 2 Filhos de Francisco, a história de superação dos irmãos Zezé di Camargo e Luciano. Há elementos em abundância para provocar chororô – nisso se percebe a maestria de Fábio Barreto, que apresenta ao espectador um Lula plano, sem meios-tons, cujas carnes se tornam reais apenas no sofrimento da perda da mulher grávida, ou no êxtase ao comandar as massas nos comícios sindicais. Qualquer sentimento que pudesse torná-lo mais humano, como a raiva pelo abandono do pai ou a inveja de quem tinha o que ele desejava, perde-se na produção artificial do mito, do messias que sofre, persevera e está destinado a conduzir o povo até a terra prometida (veja o quadro). O Lula de Fábio Barreto não é somente um herói sem defeitos; é um herói iluminado. Barreto faz de tudo para mostrá-lo assim, inclusive omitindo ou atenuando a verdadeira história do presidente (veja o quadro). O Lula de Barreto usa inverossímeis frases de efeito ("Homem não bate em mulher!") para impedir que o pai bata na mãe ou para desafiar a polícia autoritária do regime militar ("Cadeia foi feita para homem") – embora na vida real algumas dessas passagens jamais tenham ocorrido.
Fotos Celso Junior/ AE; Dida Sampaio/ AE
EFEITOS ESPECIAIS
O ministro Franklin Martins acredita que a mitificação precoce de Lula pode ajudar a campanha de Dilma Rousseff
"Queria fazer um melodrama", admite o diretor. O recorte temporal do filme é a primeira prova disso. O roteiro percorre a infância miserável de Lula em Garanhuns, acompanha a trajetória dolorosa do menino que é obrigado a trabalhar para comer e avança até o mergulho dele no mundo sindical. Mas para por aí. Tudo o que aconteceu na vida do presidente entre o começo dos anos 80 e a vitória em 2002 ficou de fora: a criação do PT, a atuação como deputado na Constituinte de 1988, as cinco campanhas presidenciais. Qualquer episódio que pudesse causar constrangimento ou contrariar a narrativa hagiográfica da vida de Lula sumiu da história. Barreto suaviza algumas características notórias do presidente e omite algumas passagens pouco edificadoras. Essas opções dramáticas servem para construir o mito, que sempre precisa de um passado idealizado, idílico, no qual o futuro se desenhe glorioso, rumo ao paraíso terreno – uma mentalidade que prosperou com força na ideia do "país do futuro", no decorrer do regime militar. O clímax triunfalista do filme, quando Lula se ergue sobre as massas, reforça precisamente esse projeto autoritário.
Os bastidores do projeto revelam que essas opções não foram meramente artísticas. Houve estreita colaboração entre os produtores do filme e a equipe de Lula. Em 2003, logo após adquirir os direitos da biografia oficial do presidente, Luiz Carlos Barreto obteve o aval do presidente para tocar o longa. Políticos próximos a Lula afirmam, sob a condição de anonimato, que o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, teve influência decisiva na definição do esquema de captação de recursos. Antes da edição final, Barreto viajou para Brasília pelo menos duas vezes para exibir o filme a políticos próximos ao Planalto. A primeira sessão aconteceu há três meses. Participaram ministros, como Paulo Bernardo, do Planejamento, e Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e deputados, como João Paulo Cunha e Ricardo Berzoini, da cúpula do PT. Os petistas, depois da exibição, acharam as músicas incidentais muito pouco dramáticas e sugeriram acrescentar músicas populares, que seriam mais facilmente assimiláveis – no que foram prontamente atendidos.
Fotos Beto Barata/AE e Alan Marques/Folha Imagem
SONOPLASTIA
O ministro Paulo Bernardo (à esq.) e o presidente do PT, Ricardo Berzoini: sugestões até para a trilha sonora do filme
Para minimizar a aparência de uma obra chapa-branca, os produtores foram orientados a não aceitar dinheiro público nem incentivos fiscais. Sem muito esforço, captaram patrocínios de dezoito empresas (veja o quadro abaixo), num total de 12 milhões de reais, uma fortuna para os padrões cinematográficos nacionais. Entre as companhias doadoras, há as que têm negócios diretos com o governo, as que têm interesses no governo e as que são controladas por instituições ligadas ao governo...
Ouvidas por VEJA, as empresas explicaram que esse tipo de doação faz parte da política de incentivos culturais que cada uma delas desenvolve. Nada a ver com o perfil do biografado. O diretor de uma empreiteira, no entanto, contou a VEJA, reservadamente, o que de fato os atraiu. Segundo ele, os produtores deixaram claro que se tratava de um filme oficial, de interesse e "autorizado" pelo presidente da República. As empresas desembolsaram quantias que variaram de 500 000 a 1 milhão de reais. "Que empresa não iria querer participar? Isso ajuda a abrir várias portas no futuro. Ou, pelo menos, a não fechá-las", admite o funcionário.
A construção de um mito dentro de um regime democrático é coisa raríssima. Na política, o mito costuma surgir em estados ditatoriais, nos quais o exercício da crítica é proibido. Foi o caso de Stalin, na União Soviética, ou de Benito Mussolini, na Itália. Nesses países, assim como em Cuba de Fidel Castro ou na Alemanha de Hitler, a arte – e, em particular, o cinema – foi controlada pelo estado totalitário, numa tentativa de moldar o imaginário social em torno de um projeto de poder. O Brasil, claro, não se encaixa nessa categoria. Diz o cientista político Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília: "No Brasil, a criação de um mito dentro de um regime democrático é uma situação inédita. Desde Getúlio Vargas não há um fascínio tão perigoso com um líder carismático". Lula já entrou na história, mas é cedo para dizer em qual categoria – se na dos líderes populistas ou na dos estadistas.
Como dizer não?
Lula, o Filho do Brasil foi patrocinado e apoiado por um grupo de empresas, a maioria delas com negócios com o governo, que doou 10,8 milhões de reais
AmBev – Em 2005, o BNDES destinou 319 milhões de reais para a empresa de bebidas.
Camargo Corrêa – A construtora participa das obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, tendo recebido, em 2008, 102,7 milhões de reais.
CPFL Energia – O controle da distribuidora de energia está dividido entre a Camargo Corrêa, o BNDES e fundos de pensão de estatais.
EBX – Os empréstimos feitos pelo BNDES às empresas de Eike Batista ultrapassam 3 bilhões de reais só neste ano.
GDF Suez – A empresa faz parte do consórcio responsável pelas obras da hidrelétrica de Jirau e recebeu do BNDES empréstimo de 7,2 bilhões de reais.
Grendene – O BNDES aprovou, em 2008, financiamento de 314 milhões de reais para a aquisição total do controle acionário da Calçados Azaléia pela Vulcabrás dos mesmos controladores da Grendene.
Hyundai – Em 2007, o governo federal deu uma mãozinha para a implantação da fábrica da montadora em Goiás.
Neoenergia – O Banco do Brasil e a Previ (fundo de pensão dos funcionários do BB) detêm, juntos, 61% da companhia. Em 2008, o BNDES aprovou crédito superior a 600 milhões de reais para a construção de usinas pelo grupo.
OAS – Foi uma das financiadoras da campanha de reeleição de Lula. Participa das obras do PAC, tendo recebido, em 2007, 107 milhões de reais.
Odebrecht – Venceu em 2007, em parceria com a estatal Furnas, a licitação para a construção da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira. O valor do investimento foi definido em 9,5 bilhões de reais, com 75% do total financiado pelo BNDES.
Oi – O BNDES aprovou, na semana passada, financiamento de 4,4 bilhões de reais, o maior valor já concedido para uma empresa de telecomunicações. Desde a aquisição da Brasil Telecom (BrT), bancos públicos já aprovaram empréstimos de mais de 11 bilhões de reais ao grupo Oi. O BNDES e a Previ têm participação no bloco de controle da companhia de telefonia.
Volkswagen – Tem contrato com o governo para o programa Caminho da Escola para a renovação da frota de ônibus escolares. Em agosto, entregou o primeiro lote de 1 100 veículos, pelo qual recebeu 223 milhões de reais.
Ai, Jesus...
A trajetória de Lula é, de fato, dramática e admirável. Mas o filme de Fábio Barreto carrega tanto nos aspectos míticos que a vida do presidente acaba se parecendo com a hagiografia de Cristo
O NASCIMENTO
Lula nasce no árido sertão pernambucano, de paisagem que lembra a da desértica Judeia. Sua mãe (Glória Pires) dá à luz em um catre. Não há animais rodeando a manjedoura para aquecer o bebê, porque em Garanhuns não faz frio, mas a pobreza da família é comparável à de José e Maria. Na falta dos Reis Magos, é a mãe, Dona Lindu, quem desempenha a função. "Seu nome vai ser Luiz Inácio!", exclama ela, em tom profético, ao segurar o filho pela primeira vez Divulgação
Divulgação
A INICIAÇÃO
Jesus foi muito influenciado e encorajado, na pregação de sua mensagem, por seu irmão Tiago. Lula também contou com uma figura semelhante: seu irmão Frei Chico, no filme chamado de Ziza, que o iniciou na vida espiritual – corrija-se, na vida sindical
O SERMÃO DA MONTANHA
A cena do célebre comício no estádio de Vila Euclides, em 1979, faz uma alusão clara à pregação em que todos compreendiam as palavras de Jesus, não importa que idioma falassem ou quão distantes estivessem d’Ele. No filme, as palavras de Lula vão sendo transmitidas de um operário para outro – não havia sistema de som no estádio –, e assim reverberam entre a multidão como uma litania Nelson Antoine/AP
Antonio Ledes
O MARTÍRIO
Jesus foi preso pelos romanos depois da Santa Ceia e de sua noite no Jardim das Oliveiras; Lula foi preso depois de liderar uma greve de 41 dias. Conduzido pelas ruas de Jerusalém com a cruz às costas, Jesus foi açoitado pelos soldados mas venerado por parte da multidão; libertado apenas para ir ao enterro de sua mãe, Lula chegou e saiu, humilhado, em uma viatura policial – mas foi saudado pelos companheiros, que gritavam em coro: "Solta o Lula! Se não soltar, a gente vai parar!".
A RESSURREIÇÃO
Jesus Cristo ressuscitou e subiu aos céus no terceiro dia após sua morte. Lula teve de esperar um pouquinho mais pelo milagre – mas o filme faz questão de retratá-lo como tal, um milagre, ao fundir a imagem de Lula deixando o cemitério em um carro de polícia à cena real do presidente desfilando de Rolls-Royce, com Marisa Letícia, no dia da posse de seu primeiro mandato Marcello Junior/ABR
Com reportagem de Sofia Krause e Gustavo Ribeiro
por Ipojuca Pontes
“O cinema está no ramo da prostituição” – Ingmar Bergman
Numa noite de junho de 2005, Zé Dirceu, então chefe da Casa Civil do governo petista, considerado pelo procurador-geral da República como o chefe da “Quadrilha Organizada” operante no Planalto, reuniu-se em ambiente domiciliar, no Rio de Janeiro, com representantes da “classe artística”, entre eles o lobista Luiz Carlos Barreto, o ariete-mor do cinema caboclo.
A tropa de choque do cinema, como sempre à cata de privilégios e regulamentações coercitivas, queria, com urgência, maior volume de verbas públicas para tocar a cornucópia da fortuna. O clima era de tensa expectativa.
Depois da choradeira de praxe, o chefe da Casa Civil - logo depois varrido do cargo por força das denúncias do deputado Roberto Jefferson - arregaçou as mangas e encarou friamente a platéia ansiosa. Só então, dedo em riste, foi incisivo na sua convocação para fazer do cinema um ativo instrumento da propaganda oficial.
Disse ele: “Organizem-se e cheguem a nós”.
O ex-guerrilheiro (sem guerrilha) não precisava chegar a tanto, afinal todos ali presentes não tinham outra intenção senão servir ao governo Lula, mas LC Barreto, cobra criada nos pântanos pouco ortodoxos de “O Cruzeiro” do “Dr. Assis”, captou a mensagem. E logo após o interregno de alguns filmes sem o menor apelo, “matou no peito” a produção cinematográfica que ele, rápido no gatilho, transformou num “negócio de ouro”: “Lula – o filho do Brasil”, melodrama adaptado da “biografia autorizada” de Denise Paraná (assessora política de Lula na campanha contra Collor, em 1989), publicada pela Fundação Perseu Abramo, organismo criado pelo PT para dar suporte ideológico (marxista) aos “companheiros de luta” e lavar a cabeça dos “inocentes úteis” em âmbito universitário – está implícito, também com apoio das generosas verbas públicas.
Como por milagre, aos 80 anos, o lobista Barreto tinha em mãos, para abrir os cofres bilionários da Ambev, Odebrechet, Embraer e das grandes empresas nacionais, todas dependentes da boa e má vontade de Lula, a chave-mágica da “comovente história de um menino miserável do Nordeste que chegou à presidência da República” (depois de passar, já se vê, pela escola matreira do sindicalismo vermelho).
A primeira tarefa de LC Barreto ao levantar o esquema foi anunciar o orçamento daquele que se diz ser o “mais caro filme brasileiro de todos os tempos”. Numa conta de chegar sempre elástica - sobretudo quando se trata de levar à tela a vida de presidente de um “Estado forte”, em pleno gozo das funções -, de início a produção de Barreto foi orçada em R$ 12 milhões, em seguida revista para R$ 16 milhões, e logo depois elevada para R$ 17 milhões e R$ 18 milhões – sendo muito provável que “Lula, o filho do Brasil”, quando do seu lançamento no ano eleitoral de 2010, ultrapasse a casa dos 30 milhões de reais, pois, como o lobista gosta de afirmar, é um “sujeito que pensa grande”. (De fato, com o dinheiro que já arrastou dos cofres públicos para fazer cinema, desde os tempos da Embrafilme dos militares, desconfio que o lobista, se quisesse, poderia construir não sei quantos palácios da Alvorada, embora tenha “pipocado” na hora de comprar o espólio da estatal do cinema).
Um articulista de “O Globo”, Zuenir Ventura, comunista light sempre a serviço da patotagem cinemanovista, escreveu que o melodrama de Barreto, em fase de acabamento, “mexe com a emoção e vai encharcar o cinema de lágrimas”. Sobre isto, tenho poucas dúvidas: o apelo emocional do relato de mãe e filhos menores sobrevivendo em meio à miséria, se tratado com o mínimo de talento, sempre rende um bom caldo. (Sem esquecer que o infatigável Barreto, se quiser, ainda pode avançar com apetite de hiena em cima do “tíquete cultural” recentemente anunciado pelo Minc, outra prodigalidade fiscal criada pelo governo, capaz de atrair para o seu “negócio de ouro” filas de milhões de lacrimejantes).
No entanto, devo ponderar ao leitor que, por si só, o fato de Lula ter sido retirante não explica sua ascensão política: uma coisa é o Luiz Inácio criança sacolejando num pau-de-arara ou comendo o pão que o diabo amassou como engraxate nas ruas de Santos, e outra, bem outra, é o Lula sindicalista, figura disponível enfronhada até os ossos na catequese comunista das “eclesiais de base” do Frei Betto, Casaldáliga e D. Cláudio Hummes, ou o Lula ventríloquo emprenhado pela gororoba da pseudociência dos bem-remunerados marxistas da USP - uma gente na sua totalidade fanatizada pelo materialismo dialético, todos eles egressos de movimentos comunistas derrotados durante décadas pela vontade do povo brasileiro e dos milicos.
Sim, há um aspecto fundamental neste caldo biográfico que o “negócio de ouro” de Barreto na certa não irá distinguir, isto é: que o filho de Dona Lindu, o rapazote angustiado pela fome e pela incompreensão do mundo, nada tem a ver com o pivete que tomou o dinheiro do patrão para fazer hora extra e depois, sem trabalhar, mandou o patrão “tomar no cu”; ou com o operário ignorante, mas maleável que, conduzido por mãos comunistas, freqüentou cursilhos (na Alemanha Oriental, entre outras plagas) especializados no fomento ao ódio de classe; nem muito menos com o companheiro escolado, feito líder sindical com o apoio maquiavélico do General Golbery (mentor do contragolpe de 1964), a encher a cara de cachaça e tomar a grana de Murilo Macedo, o ministro do Trabalho da ditadura militar.
No prefácio do livro de Denise Paraná, o uspiano “utópico” Antonio Cândido (no parecer preciso de Oswald de Andrade, um “chato-boy”), citando outro comunista, o antropólogo Oscar Lewis, tenta explicar a existência de Lula-filho-de-D. Lindu e do Lula-agente-do-PT como uma transição natural da “cultura da pobreza” para a “cultura da transformação”, cuja síntese histórica será o advento do comunismo (“a sociedade na qual a distribuição dos bens seja pelo menos tão importante quanto a sua produção”, diz ele).
Conversa mole, trololó de acadêmico (fanático) para inocular o virus revolucionário na cabeça dos trouxas! Como qualquer observador pode vir a concluir, Lula e o PT (encarado como uma “quadrilha organizada” pelo que resta da efetiva consciência nacional) são produtos diretos do arreglo histórico, ainda hoje prevalecente no Foro de São Paulo, entre os intelectuais comunistas da USP, religiosos apóstatas da Teologia da Libertação e esquerdistas radicais envolvidos com o terror rural e urbano.
[Se o leitor quer detalhes, foi justamente um desses integrantes da elite intelectual comunista, remanescente da antiga “Esquerda Democrática” (PSB), o abastado Mário Pedrosa (trotskista histórico), que, interpretando a vontade dos pares, escreveu em 1978 a negligenciada “Carta a um operário”, convocando o sindicalista do ABC a urgir forças para fundar o Partido dos Trabalhadores, necessário, segundo ele, à materialização do “socialismo democrático”. Na verdade, não poderia ser de outro modo: esfacelada nos distintos campos de batalha, inclusive no da luta armada, restava à “inteligentsia” cabocla criar um preposto convincente para chegar ao poder e socializar o País].
Bem, em parte graças à permissiva “teoria da descompressão” de Golbery, quase trinta anos são passados desde a fundação do PT, e aqui estamos todos na ante-sala (melhor seria dizer, saloon) do reino fantasiado por Marx, Lenin, Gramsci, Mao e Fidel Castro. Nele, Lula, o filho “espiritual” de Betto, Candido, Pedrosa, Buarque e Carvalho (entre outros) labora, sem medir recursos, para destruir por dentro a “democracia burguesa”.
Neste período, o filho acalentado dos quatro Cavaleiros do Apocalipse (os componentes do arreglo acima enumerados e mais o poderoso exército da mídia comprometida com o feitiço revolucionário), feito presidente, tornou-se um animal político da mais baixa categoria, capaz de tudo e mais alguma coisa no propósito de criar “um outro mundo possível”.
Basta conferir: com Lula no poder o Brasil tornou-se, de forma premeditada, um dos países mais corruptos do mundo, onde a população se deixa escravizar seis meses ao ano para, entre outras mazelas, financiar o incontrolável aparelhamento da máquina pública, a bilionária propaganda enganosa, os “movimentos sociais” criminosos, as incontáveis Ongs parasitárias, o fausto palaciano, os partidos políticos de aluguel, programas sociais fraudulentos, etc., para não falar no enriquecimento súbito e milionário de amigos e familiares – tudo a funcionar com a precisão de um cronômetro suíço, como de resto recomenda a boa prática do “socialismo democrático”.
Como conseqüência desta escalada para “a construção de uma sociedade mais justa e solidária”, que se esmera no cultivo da moral revolucionária, cujo objetivo é solapar os alicerces da cultura ocidental e da ética cristã (não matar, não mentir, não roubar...), a nação se agiganta num convívio de irmão siamês com o narcotráfico, o tráfico de armas, os escândalos diários e os incessantes assaltos aos cofres públicos - tudo no reboque de um judiciário politizado e de um aparato policial, salvo hiato, contaminado pela moralidade criminosa dos Donos do Poder.
Pois bem: é neste clima de diluição moral e de completa mistificação ideológica, no qual o cidadão indefeso precisa ser logrado a todo custo, que vai ser lançado em 2010, ano das eleições presidenciais, “Lula – o filho do Brasil”, o “negócio de ouro” de Barreto, uma indisfarçável peça de propaganda a serviço do culto à personalidade.
Quem dúvida?
A construção de um mito
O filme Lula, o Filho do Brasil faz parte de um projeto de endeusamento
do presidente, o que, às vésperas de uma eleição, entra na categoria
de propaganda política. Lula tem uma bela história de vida, foi um líder
sindical de resultados e é um presidente da República eficiente e amado, mas ele só tem a perder se se deixar transformar em mito vivo
Diego Escosteguy e Otávio Cabral – Revista Veja – 24 Nov 09
Clovis Cranchi/F4
NA VIDA REAL
Lula foi um líder sindical carismático e pragmático que se encaixou à perfeição no projeto de distensão política do regime militar por ser da esquerda não marxista, não alinhada com o movimento comunista internacional e, por isso, tolerada
Almeida Rocha/Folha Imagem
NA FICÇÃO
O sindicalista Lula vira na tela um Gandhi magnânimo, infalível e incorruptível cuja bondade e sabedoria se combinam com uma visão de futuro privativa dos profetas
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Luiz Inácio Lula da Silva, o mais improvável dos presidentes brasileiros, já entrou na história antes de sair da vida. Lula, o filho do sertão pernambucano que comia feijão com farinha sob o árido sol de Garanhuns antes de se tornar engraxate nas ruas do Sul Maravilha, venceu. Dos sapatos chegou à fábrica de parafusos; do torno saltou para a avenida larga, longa e generosa da vida sindical, que o conduziu ao Partido dos Trabalhadores e à Presidência da República. Instalado no poder, Lula amargou escândalos, viu a dissolução ética de seu partido, observou de mãos atadas uma recessão econômica de quase dois anos que por pouco não paralisou seu governo. Mas, como não há males que durem, os escândalos foram varridos para debaixo do tapete e a recessão inicial cedeu, abrindo caminho para o crescimento econômico e a consequente onda de boa vontade com os governantes que ele traz. Com sua genuína devoção aos mais pobres e um carisma fenomenal, Lula chega às portas do seu último ano de governo com 80% de aprovação. A vida de Lula, como se vê, parece coisa de filme.
Lula, o Filho do Brasil, a cinebiografia que estreará nos cinemas no começo do próximo ano, é o primeiro filme de ficção sobre a vida do presidente. A LC Barreto, responsável pelo projeto, enviará 500 cópias ao circuito comercial – o maior lançamento da história do cinema brasileiro. As centrais sindicais, como a CUT e a Força Sindical, planejam projetar a fita para espectadores das áreas mais pobres do país. Os trabalhadores sindicalizados poderão comprar ingressos subsidiados a 5 reais. As estimativas mais conservadoras indicam que, somente nas salas comerciais, 5 milhões de pessoas assistirão ao longa. É pouco diante do que se seguirá. O DVD do filme será lançado no dia 1º de maio, feriado do trabalhador. Em seguida, a Rede Globo levará a fita ao ar, editada como uma minissérie. Ao final, se essa ambiciosa estratégia de distribuição funcionar, Luiz Inácio, o homem que fez história, dará um salto rumo a Luiz Inácio, o mito. Esse mito paira acima do bem e do mal, mas estará dizendo o que é certo e o que é errado na campanha eleitoral de 2010. Por fazer parte de um projeto de beatificação do personagem com vista a servir de propaganda eleitoral disfarçada de entretenimento na próxima campanha, Lula, o Filho do Brasil parece coisa de marqueteiro.
Antes mesmo de ser lançado em rede comercial, o filme está agitando os bastidores da política. Assessores envolvidos na campanha presidencial de Dilma Rousseff, a candidata escolhida pelo governo para suceder Lula, veem na película um poderoso instrumento eleitoral, capaz de fazer diferença na luta petista para se manter no poder. O otimismo não é gratuito. Os estrategistas do Planalto receberam pesquisas que demonstram a capacidade de transferência de votos do presidente Lula. Ou seja, se Lula mantiver a popularidade em alta, Dilma será largamente beneficiada. A população faz uma ótima avaliação de Lula e se dispõe a votar em um candidato que mantenha os principais programas do petista. Lula é o maior cabo eleitoral do país. Quase 20% dos eleitores votam em seu candidato, independentemente de quem seja (veja o quadro). A grande dificuldade de Lula é que boa parte do eleitorado não conhece Dilma nem a associa ao presidente. Por isso ela segue a léguas de distância de José Serra, do PSDB, o líder das pesquisas. Para reverter esse quadro, Lula conta com o crescimento da economia, que pode atingir até 5% do PIB em 2010, e a consequente perspectiva de que os eleitores sigam sua orientação e votem em quem ele indicar. O filme é visto como um fator estimulante nesse processo de transferência.
Celso Junior/AE
AVANT-PREMIÈRE
A primeira-dama Marisa Letícia e as atrizes do filme: o lançamento em Brasília foi disputado, mas os aplausos do público foram apenas discretos
Na terça-feira da semana passada, VEJA esteve na primeira exibição pública do filme, que abriu o tradicional Festival de Cinema de Brasília. Numa demonstração da comoção que o longa deve causar, teve gente, de político a porteiro, que implorava por convite na frente do Teatro Nacional, onde aconteceu a projeção. Havia cerca de 1 400 pessoas no teatro, entre ministros, deputados, senadores, sindicalistas, burocratas do governo e jornalistas. Marisa Letícia, a primeira-dama, compareceu ao evento e foi assediada como celebridade. Havia gente em cadeiras improvisadas, gente nas escadas, gente no chão. Lula, o Filho do Brasil é uma novela com duas horas de duração. Em matéria de lágrimas, funciona. Em matéria de apuro estético, constrange. Como obra de arte, portanto, é uma irretocável peça de propaganda. Não poderia ser diferente: é um projeto concebido exatamente com esse propósito. Dirigido por Fábio Barreto, o filme inspira-se na biografia homônima – e oficial – do presidente, escrita pela jornalista Denise Paraná e editada pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.
Se como cinema o filme é fraco, como propaganda e negócio tem tudo para dar certo. O apelo emocional da obra pode agradar ao público que chorou com 2 Filhos de Francisco, a história de superação dos irmãos Zezé di Camargo e Luciano. Há elementos em abundância para provocar chororô – nisso se percebe a maestria de Fábio Barreto, que apresenta ao espectador um Lula plano, sem meios-tons, cujas carnes se tornam reais apenas no sofrimento da perda da mulher grávida, ou no êxtase ao comandar as massas nos comícios sindicais. Qualquer sentimento que pudesse torná-lo mais humano, como a raiva pelo abandono do pai ou a inveja de quem tinha o que ele desejava, perde-se na produção artificial do mito, do messias que sofre, persevera e está destinado a conduzir o povo até a terra prometida (veja o quadro). O Lula de Fábio Barreto não é somente um herói sem defeitos; é um herói iluminado. Barreto faz de tudo para mostrá-lo assim, inclusive omitindo ou atenuando a verdadeira história do presidente (veja o quadro). O Lula de Barreto usa inverossímeis frases de efeito ("Homem não bate em mulher!") para impedir que o pai bata na mãe ou para desafiar a polícia autoritária do regime militar ("Cadeia foi feita para homem") – embora na vida real algumas dessas passagens jamais tenham ocorrido.
Fotos Celso Junior/ AE; Dida Sampaio/ AE
EFEITOS ESPECIAIS
O ministro Franklin Martins acredita que a mitificação precoce de Lula pode ajudar a campanha de Dilma Rousseff
"Queria fazer um melodrama", admite o diretor. O recorte temporal do filme é a primeira prova disso. O roteiro percorre a infância miserável de Lula em Garanhuns, acompanha a trajetória dolorosa do menino que é obrigado a trabalhar para comer e avança até o mergulho dele no mundo sindical. Mas para por aí. Tudo o que aconteceu na vida do presidente entre o começo dos anos 80 e a vitória em 2002 ficou de fora: a criação do PT, a atuação como deputado na Constituinte de 1988, as cinco campanhas presidenciais. Qualquer episódio que pudesse causar constrangimento ou contrariar a narrativa hagiográfica da vida de Lula sumiu da história. Barreto suaviza algumas características notórias do presidente e omite algumas passagens pouco edificadoras. Essas opções dramáticas servem para construir o mito, que sempre precisa de um passado idealizado, idílico, no qual o futuro se desenhe glorioso, rumo ao paraíso terreno – uma mentalidade que prosperou com força na ideia do "país do futuro", no decorrer do regime militar. O clímax triunfalista do filme, quando Lula se ergue sobre as massas, reforça precisamente esse projeto autoritário.
Os bastidores do projeto revelam que essas opções não foram meramente artísticas. Houve estreita colaboração entre os produtores do filme e a equipe de Lula. Em 2003, logo após adquirir os direitos da biografia oficial do presidente, Luiz Carlos Barreto obteve o aval do presidente para tocar o longa. Políticos próximos a Lula afirmam, sob a condição de anonimato, que o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, teve influência decisiva na definição do esquema de captação de recursos. Antes da edição final, Barreto viajou para Brasília pelo menos duas vezes para exibir o filme a políticos próximos ao Planalto. A primeira sessão aconteceu há três meses. Participaram ministros, como Paulo Bernardo, do Planejamento, e Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e deputados, como João Paulo Cunha e Ricardo Berzoini, da cúpula do PT. Os petistas, depois da exibição, acharam as músicas incidentais muito pouco dramáticas e sugeriram acrescentar músicas populares, que seriam mais facilmente assimiláveis – no que foram prontamente atendidos.
Fotos Beto Barata/AE e Alan Marques/Folha Imagem
SONOPLASTIA
O ministro Paulo Bernardo (à esq.) e o presidente do PT, Ricardo Berzoini: sugestões até para a trilha sonora do filme
Para minimizar a aparência de uma obra chapa-branca, os produtores foram orientados a não aceitar dinheiro público nem incentivos fiscais. Sem muito esforço, captaram patrocínios de dezoito empresas (veja o quadro abaixo), num total de 12 milhões de reais, uma fortuna para os padrões cinematográficos nacionais. Entre as companhias doadoras, há as que têm negócios diretos com o governo, as que têm interesses no governo e as que são controladas por instituições ligadas ao governo...
Ouvidas por VEJA, as empresas explicaram que esse tipo de doação faz parte da política de incentivos culturais que cada uma delas desenvolve. Nada a ver com o perfil do biografado. O diretor de uma empreiteira, no entanto, contou a VEJA, reservadamente, o que de fato os atraiu. Segundo ele, os produtores deixaram claro que se tratava de um filme oficial, de interesse e "autorizado" pelo presidente da República. As empresas desembolsaram quantias que variaram de 500 000 a 1 milhão de reais. "Que empresa não iria querer participar? Isso ajuda a abrir várias portas no futuro. Ou, pelo menos, a não fechá-las", admite o funcionário.
A construção de um mito dentro de um regime democrático é coisa raríssima. Na política, o mito costuma surgir em estados ditatoriais, nos quais o exercício da crítica é proibido. Foi o caso de Stalin, na União Soviética, ou de Benito Mussolini, na Itália. Nesses países, assim como em Cuba de Fidel Castro ou na Alemanha de Hitler, a arte – e, em particular, o cinema – foi controlada pelo estado totalitário, numa tentativa de moldar o imaginário social em torno de um projeto de poder. O Brasil, claro, não se encaixa nessa categoria. Diz o cientista político Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília: "No Brasil, a criação de um mito dentro de um regime democrático é uma situação inédita. Desde Getúlio Vargas não há um fascínio tão perigoso com um líder carismático". Lula já entrou na história, mas é cedo para dizer em qual categoria – se na dos líderes populistas ou na dos estadistas.
Como dizer não?
Lula, o Filho do Brasil foi patrocinado e apoiado por um grupo de empresas, a maioria delas com negócios com o governo, que doou 10,8 milhões de reais
AmBev – Em 2005, o BNDES destinou 319 milhões de reais para a empresa de bebidas.
Camargo Corrêa – A construtora participa das obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, tendo recebido, em 2008, 102,7 milhões de reais.
CPFL Energia – O controle da distribuidora de energia está dividido entre a Camargo Corrêa, o BNDES e fundos de pensão de estatais.
EBX – Os empréstimos feitos pelo BNDES às empresas de Eike Batista ultrapassam 3 bilhões de reais só neste ano.
GDF Suez – A empresa faz parte do consórcio responsável pelas obras da hidrelétrica de Jirau e recebeu do BNDES empréstimo de 7,2 bilhões de reais.
Grendene – O BNDES aprovou, em 2008, financiamento de 314 milhões de reais para a aquisição total do controle acionário da Calçados Azaléia pela Vulcabrás dos mesmos controladores da Grendene.
Hyundai – Em 2007, o governo federal deu uma mãozinha para a implantação da fábrica da montadora em Goiás.
Neoenergia – O Banco do Brasil e a Previ (fundo de pensão dos funcionários do BB) detêm, juntos, 61% da companhia. Em 2008, o BNDES aprovou crédito superior a 600 milhões de reais para a construção de usinas pelo grupo.
OAS – Foi uma das financiadoras da campanha de reeleição de Lula. Participa das obras do PAC, tendo recebido, em 2007, 107 milhões de reais.
Odebrecht – Venceu em 2007, em parceria com a estatal Furnas, a licitação para a construção da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira. O valor do investimento foi definido em 9,5 bilhões de reais, com 75% do total financiado pelo BNDES.
Oi – O BNDES aprovou, na semana passada, financiamento de 4,4 bilhões de reais, o maior valor já concedido para uma empresa de telecomunicações. Desde a aquisição da Brasil Telecom (BrT), bancos públicos já aprovaram empréstimos de mais de 11 bilhões de reais ao grupo Oi. O BNDES e a Previ têm participação no bloco de controle da companhia de telefonia.
Volkswagen – Tem contrato com o governo para o programa Caminho da Escola para a renovação da frota de ônibus escolares. Em agosto, entregou o primeiro lote de 1 100 veículos, pelo qual recebeu 223 milhões de reais.
Ai, Jesus...
A trajetória de Lula é, de fato, dramática e admirável. Mas o filme de Fábio Barreto carrega tanto nos aspectos míticos que a vida do presidente acaba se parecendo com a hagiografia de Cristo
O NASCIMENTO
Lula nasce no árido sertão pernambucano, de paisagem que lembra a da desértica Judeia. Sua mãe (Glória Pires) dá à luz em um catre. Não há animais rodeando a manjedoura para aquecer o bebê, porque em Garanhuns não faz frio, mas a pobreza da família é comparável à de José e Maria. Na falta dos Reis Magos, é a mãe, Dona Lindu, quem desempenha a função. "Seu nome vai ser Luiz Inácio!", exclama ela, em tom profético, ao segurar o filho pela primeira vez Divulgação
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A INICIAÇÃO
Jesus foi muito influenciado e encorajado, na pregação de sua mensagem, por seu irmão Tiago. Lula também contou com uma figura semelhante: seu irmão Frei Chico, no filme chamado de Ziza, que o iniciou na vida espiritual – corrija-se, na vida sindical
O SERMÃO DA MONTANHA
A cena do célebre comício no estádio de Vila Euclides, em 1979, faz uma alusão clara à pregação em que todos compreendiam as palavras de Jesus, não importa que idioma falassem ou quão distantes estivessem d’Ele. No filme, as palavras de Lula vão sendo transmitidas de um operário para outro – não havia sistema de som no estádio –, e assim reverberam entre a multidão como uma litania Nelson Antoine/AP
Antonio Ledes
O MARTÍRIO
Jesus foi preso pelos romanos depois da Santa Ceia e de sua noite no Jardim das Oliveiras; Lula foi preso depois de liderar uma greve de 41 dias. Conduzido pelas ruas de Jerusalém com a cruz às costas, Jesus foi açoitado pelos soldados mas venerado por parte da multidão; libertado apenas para ir ao enterro de sua mãe, Lula chegou e saiu, humilhado, em uma viatura policial – mas foi saudado pelos companheiros, que gritavam em coro: "Solta o Lula! Se não soltar, a gente vai parar!".
A RESSURREIÇÃO
Jesus Cristo ressuscitou e subiu aos céus no terceiro dia após sua morte. Lula teve de esperar um pouquinho mais pelo milagre – mas o filme faz questão de retratá-lo como tal, um milagre, ao fundir a imagem de Lula deixando o cemitério em um carro de polícia à cena real do presidente desfilando de Rolls-Royce, com Marisa Letícia, no dia da posse de seu primeiro mandato Marcello Junior/ABR
Com reportagem de Sofia Krause e Gustavo Ribeiro
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