De Kennedy Alencar, Folha de São Paulo - 09/07/2008
O banqueiro Daniel Dantas conseguiu se aproximar de ministros do governo petista e de integrantes da cúpula do PT. Na campanha eleitoral de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva foi alertado pelo então coordenador de campanha e futuro ministro Luiz Gushiken de que o empresário fazia jogo pesado no mundo comercial e que tinha interesse em manter a influência sobre os fundos de pensão de estatais federais para vitaminar negócios privados.
No governo de Lula, houve uma divisão entre ministros em relação aos interesses de Dantas com os fundos de pensão. José Dirceu, então ministro da Casa Civil, e o diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolatto ficaram a favor do banqueiro. Gushiken contra.
No governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Dantas obteve apoio político do PSDB e do PFL (o atual DEM) para participar da privatização das teles. Há o episódio do jantar dele com FHC em junho de 2002. No dia seguinte, haveria troca do comando da Previ, como desejava o banqueiro.
Com Lula no poder, Dantas esbarrou em Gushiken e teria fracassado na busca de contato direto com o presidente. O banqueiro travava disputa com fundos de pensão pelo controle da Brasil Telecom. Para tentar furar o bloqueio, ele contratou dois advogados com pontes no governo. Antonio Carlos de Almeida Castro, amigo de Dirceu, e Roberto Teixeira, compadre de Lula. O banqueiro teve ainda apoio de Pizzolatto e do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Outro ministro de Lula, Roberto Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), teve histórico de relação de confiança com Dantas. Ele foi "trustee" da Brasil Telecom, ou seja, um representante legal dos interesses da empresa quando ainda era controlada pelo banqueiro, nos Estados Unidos.Assinante da Folha leia mais em: Banqueiro se aproximou de ministros e contratou compadre de Lula
Advogado de Dantas diz ter papéis contra PT. Nélio Machado critica a PF e ameaça divulgar documentos sobre suposta pressão que o banqueiro teria sofrido do governo
De Elvira Lobato: O Estado de São Paulo
O advogado de Daniel Dantas, Nélio Machado, ameaçou divulgar supostos documentos contra o PT que estariam na Justiça norte-americana e atribuiu a prisão do banqueiro à guerra societária havida entre o Opportunity, fundos de pensão ligados a estatais e a Telecom Itália pelo controle da empresa de telefonia Brasil Telecom. (...) Segundo sua defesa, Dantas entregou vários documentos à Justiça de Nova York, sobre suposta pressão que teria sofrido do governo e de pessoas do PT, como parte de sua defesa em ação judicial movida contra ele pelo Citigroup, nos EUA. Assinante da Folha leia mais em: Advogado de Dantas diz ter papéis contra PT
Greenhalgh era elo com Planalto, diz procurador. Banqueiro Daniel Dantas contaria com o ex-deputado do PT para ter acesso dentro do governo; Justiça negou a decretação de sua prisão
De Fausto Macedo, Marcelo Godoy e Rodrigo Pereira:
A quadrilha supostamente montada pelo banqueiro Daniel Dantas tinha no advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado federal do PT, um de seus principais braços para tentar barrar as investigações da Polícia Federal. "Greenhalgh fez contato com um órgão do Executivo", limitou-se a dizer o procurador da República Rodrigo de Grandis. Em um telefonema recente, o ex-deputado conversou com o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, em busca de informações sobre a investigação sigilosa da PF. Para o Ministério Público Federal, não há dúvida de que Greenhalgh era integrante da organização criminosa. Por isso, o procurador pediu à Justiça a decretação da prisão temporária de Greenhalgh, que foi negada. Leia mais em: Greenhalgh era elo com Planalto, diz procurador
Operação põe em xeque futuro do Opportunity
De Angelo Pavini e Catherine Vieira:
A ação da Polícia Federal atingiu em cheio a Opportunity Asset Management, braço de gestão de recursos do Opportunity. Ela passou praticamente incólume pelos outros escândalos envolvendo o banqueiro Daniel Dantas, afastado formalmente da empresa desde 1998, mantendo-se como uma das mais respeitadas assets do mercado. Com R$ 20 bilhões em recursos, é a 15 maior gestora pelo ranking da Anbid. Mas, com a prisão de seu principal executivo, o experiente gestor Dorio Ferman, e de parte de sua diretoria, desta vez também a asset se vê apanhada pelo furacão. O desafio será manter a confiança dos investidores de que Dorio voltará ao comando da gestão e que o desempenho das carteiras não será afetado.
Na primeira reação dos investidores, o volume de saques na gestora cresceu fortemente, de uma média de R$ 20 milhões por dia para cerca de R$ 100 milhões ontem após a notícia, explica Fernando Rodrigues, diretor-comercial da asset do Opportunity. Um valor pequeno em relação ao patrimônio total, observa ele. Segundo Rodrigues, os fundos não estão com problemas de liquidez para atender os resgates porque já estavam pessimistas com a bolsa e tinham boa posição de dinheiro em caixa. Os maiores saques concentraram-se em fundos multimercados e foram feitos por grandes distribuidores. Já nos fundos de ações, onde a casa é mais conhecida, especialmente pelo Lógica II, carteira com 22 anos e que deu origem à asset, os saques foram menores.
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