Dona de modernos equipamentos de escuta, Polícia Civil de Brasília viu seus delegados se transformarem em aliados dos políticos
Durval Barbosa trocou a polícia pela política depois de chefiar investigação que prejudicou a reeleição de Cristovam Buarque em 1998
ADRIANO CEOLIN
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Dona de modernos equipamentos de escuta, a Polícia Civil do Distrito Federal transformou seus principais agentes em aliados de ocupantes de cargos públicos. O delegado aposentado Durval Barbosa, autor das gravações que revelaram o mensalão do DEM, não é o primeiro a se destacar na política.
Essa força dos policiais civis em Brasília sempre incomodou políticos do DF, que passaram a usar duas estratégias: aliavam-se aos policiais ou se acautelavam. O governador José Roberto Arruda fez as duas coisas.
Em 2007, mudou o comando da polícia e deu força ao grupo do deputado distrital Alírio Neto (PPS), que presidiu a Câmara Legislativa com o apoio de Arruda. Foi Alírio que indicou o atual diretor-geral da Polícia Civil: o delegado Cleber Monteiro, pré-candidato a deputado federal em 2010 pelo PPS.
O próprio Arruda também se interessou por equipamentos de gravação. Segundo confirmou à Folha o deputado Alberto Fraga (DEM), o governador soube de um relógio que gravava imagens e áudio: "Mas ele não chegou a usar. Só viu". Fraga diz que havia suspeitas de que o assessor Marcelo Toledo grampeava políticos. Procurado, Toledo não ligou de volta.
A Polícia Civil adquiriu equipamentos modernos de escuta nos dois últimos mandatos do então governador Joaquim Roriz (1999-2006). No período, o diretor-geral da instituição foi o delegado Laerte Bessa. Hoje deputado federal pelo PSC, o mesmo partido de Roriz, Bessa é o primeiro policial civil do DF a obter cadeira na Câmara dos Deputados. Em 2008, atuou na CPI dos Grampos para fazer com que Barbosa não aparecesse na lista de indiciados.
Foi na administração de Bessa que a polícia se equipou com os equipamentos mais modernos da área de inteligência, como os sistemas "Guardião" e "Cérebro" e equiparou os salários com os da Polícia Federal. A corporação do DF virou referência nacional: paga os maiores salários do país (R$ 11,9 mil para agentes e R$ 19 mil para delegados em fim de carreira).
Em 1992, Bessa esbarrou em um dos maiores escândalos do Congresso, os anões do Orçamento. Ao investigar o desaparecimento de uma mulher, ele grampeou o marido da vítima: José Carlos Alves dos Santos, economista que trabalhava na Comissão de Orçamento. A Polícia Civil desvendou o desaparecimento da mulher: ela foi morta por José Carlos. No entanto, as conversas gravadas do economista com políticos envolvidos no esquema sumiram.
Em entrevista para o livro "Os Donos do Congresso", Bessa declarou que a polícia do DF só tinha dez fitas cassetes e que as conversas foram gravadas umas sobre as outras. Na sexta, ele não quis falar sobre o caso.
Adversários do governo passaram a acusar a polícia de usar os equipamentos para fins políticos. Ex-chefe do Departamento de Atividades Especiais da polícia, Celso Ferro foi um dos principais acusados de promover grampos. "Ele montou um poder paralelo no DF", disse Fraga. Ferro não foi achado.
O próprio Barbosa trocou a polícia pela política após chefiar investigação que filmou a Polícia Militar agindo violentamente contra uma invasão na periferia do DF. As imagens, exibidas na campanha de Roriz em 1998, foram decisivas para sua vitória sobre o senador Cristovam Buarque na eleição. "Esses policiais me prejudicaram muito", disse Cristovam.
Roriz se elegeu governador, e Barbosa ganhou cargo no governo e a responsabilidade de gerenciar contratos milionários com firmas de informática. Desde então, passou a registrar em áudio e vídeo seus negócios.
Comentário de um gandolão:
Policia é polícia. Bandido é Bandido. Não pode misturar.
Lucio Flavio Villar Lírio, bandido de classe média dizia mais ou menos isso, de saco cheio de ser chantageado por policiais. A Folha de São Paulo, pela reportagem, mostra que a mistura não acabou, mas piorou.
Os políticos são os herdeiros da bandidagem e cedem com mais “poder” aos chantagistas.
Um dia a casa cai. E o povo, como fica? O Cidadão?
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