Clube Militar, a resposta que não quer calar
Diário do Comércio de SP - 08/08/2008
O militar não tem voz. Tem, sim, hierarquia. A regra é costumeiramente seguida à risca entre os da ativa. Já na reserva, a obrigação pode até não ter tamanha rigidez. Mas os membros das Forças Armadas encontraram um meio – e faz muito tempo – de romper o silêncio sempre que necessário e a qualquer momento: o Clube Militar, que há 121 anos fala em nome daqueles que não podem por dever de ofício e de lei.
Ao longo da história, a entidade fez valer sua legitimidade com a atuação na defesa de causas militares que pudessem interessar às Forças Armadas brasileira, segundo o consultor político Amaury de Souza. "Sempre que a insatisfação chegou a um alto nível entre os militares da ativa, o Clube Militar funcionou como uma caixa de ressonância. Por isso, há mais de um século tornou-se o porta-voz de quem não pode falar", diz.
Papel cumprido – Para Souza, mais uma vez a entidade cumpre seu papel ao se manifestar com intensidade diante das declarações do ministro da Justiça, Tarso Genro, que propôs rediscutir o alcance da Lei de Anistia, de 1979. "Como toda organização, o Clube Militar é político e representa os anseios dos militares. É óbvio que haveria um posicionamento", afirma. "O que acontece é que se foi mexer em uma coisa explosiva. Mas acho que o assunto não irá a lugar algum", conclui ele.
A contestação e o envolvimento em assuntos de repercussão e conseqüências nacionais fazem parte essencial da história do Clube Militar e, por diversas vezes, com reflexos diretos para o País.
No dia de sua fundação, em 26 de junho de 1887, durante a sessão solene inaugural ecoaram discursos enfáticos de oficiais da mais alta patente. Para quem nada falava, no mínimo, era um indício de que dali pra frente seria diferente.
Inquietação – O início formal, com a criação da entidade, foi precedido por uma inquietação político-militar, que se seguiu à Guerra do Paraguai – entre 1864 e 1870. À época havia um ressentimento entre os militares que lutaram ao lado da Tríplice Aliança. A chamada Questão Militar, marcada por diversos conflitos entre oficiais do Exército e políticos monarquistas e conservadores, deixou os ânimos ainda mais acirrados de 1884 a 1887.
A efervescência de idéias precisava de um canal oficial para ser exteriorizada, especialmente em um período que ainda ficaria marcado pelas campanhas abolicionista e republicana. E foi neste contexto que nasceu o Clube Militar, logo depois da fundação do Clube Naval.
O primeiro presidente da nova entidade não nega o caráter político que se desenhou de plano. Tampouco sua força. Tratava-se do Marechal Deodoro da Fonseca que, pouco tempo depois, veio a ocupar o cargo máximo da República, com a sua proclamação. Na composição do governo estavam ainda outros sócios-fundadores do Clube Militar, como o ministro da Marinha, Almirante Eduardo Wandenkolk.
Em 121 anos, a história coloca este entre um dos muitos fatos com a participação das Forças Armadas. Muitas idéias que surgiram nos Fóruns de Debates ali ganharam corpo, como são os casos do serviço militar obrigatório, do monopólio do petróleo e da revolução de 1964.
Mais recentemente, a crise energética, a participação do Brasil no continente Antártico, a ocupação racional dos espaços vazios nacionais, foram temas de grande repercussão estudados e discutidos pelo Clube Militar.
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